|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Meta de Lula divide especialistas
GUILHERME BAHIA
DA REDAÇÃO
Dois estudiosos da questão
agrária ouvidos ontem pela Folha
têm visões opostas sobre a meta
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva de assentar 355 mil famílias
pela via da desapropriação.
O geógrafo Bernardo Mançano
Fernandes, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), acha
pouco: "Com esse número, a estrutura fundiária não será alterada". Já José Eli da Veiga, do departamento de Economia da USP, diz
que a meta está "um pouco acima
da capacidade do Incra".
Para Mançano, o governo Lula
não terá feito reforma agrária se,
ao final do mandato, tiver assentado só 355 mil famílias pela via
da desapropriação. O geógrafo
não considera a regularização
fundiária de 500 mil famílias e o
assentamento de mais 150 mil por
meio do crédito fundiário políticas de reforma agrária.
No primeiro caso, diz ele, as famílias continuam a ocupar a terra
que já ocupavam. No segundo,
um lote apenas passa de um pequeno proprietário para outro.
Ou seja, nos dois casos, não se
mexe na estrutura fundiária.
O geógrafo, que foi colaborador
do projeto coordenado por Plínio
de Arruda Sampaio, ressalva, porém, que não se opõe à regularização fundiária e à política de crédito fundiário -esta última, diz ele,
ajuda a evitar a concentração de
terra. O problema é ter isso em
detrimento das desapropriações.
"O Lula, se não quiser mentir,
tem que dizer que vai fazer uma
política de assentamentos rurais e
de regularização fundiária, e não
uma reforma agrária. Para fazer
reforma agrária, tem que assentar
1 milhão de famílias por meio de
desapropriação."
Acima da capacidade
José Eli da Veiga diz que a meta
de assentar 355 mil famílias até
2006 está "um pouco acima da capacidade do Incra" e não garante
a qualidade dos assentamentos.
Para ele, 100 mil famílias por ano
-o que, com as 30 mil que o governo pretende assentar neste
ano, daria 330 mil até 2006- já
seria um número alto.
Veiga observa que, hoje, dois fatores fazem com que o Incra tenha mais dificuldades do que teve
durante o governo Fernando
Henrique Cardoso para assentar
um número grande de famílias.
O primeiro é o preço da terra,
bem mais alto agora. Com isso,
além de enfrentar resistência, o
governo precisará gastar muito
mais para desapropriar.
O segundo fator é o apoio da
opinião pública à promoção do
acesso à terra. O professor diz
que, no governo FHC, a pressão
política para que o governo assentasse era maior. Com isso, o Incra
desfrutava de uma relação de força mais favorável dentro do governo para conseguir recursos.
Texto Anterior: Sem-terra do RS negam trégua e invadem prédios Próximo Texto: Rossetto faz mea culpa e distribui autógrafos Índice
|