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DÍVIDA HISTÓRICA
No Dia da Consciência Negra, presidente visita serra onde foi construído o Quilombo dos Palmares
Lula afirma que Brasil é "república branca"
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES
E DELMIRO GOUVEIA (AL)
Na cerimônia em comemoração
do Dia da Consciência Negra, ontem, em União dos Palmares
(AL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil é
uma "república branca". Ele creditou a condição de pobreza da
maioria dos negros brasileiros à
"inércia branca que sempre comandou a vida política nacional".
O presidente discursou no alto
da serra da Barriga, o antigo centro de resistência do Quilombo
dos Palmares, destruído em 1694.
Cerca de 2.000 pessoas ouviram o
discurso, incluindo o governador
Ronaldo Lessa (PSB) e o senador
Renan Calheiros (PMDB-AL).
Para o presidente, a condição
desfavorável dos negros brasileiros faz com que o Brasil de hoje
guardasse semelhanças com o
país do período colonial, quando
imperava o sistema escravocrata.
"No Brasil colonial, havia escravidão porque havia desigualdade:
os homens não eram iguais perante a lei", disse o presidente.
Depois, completou: "No Brasil
do século 21, há exclusão porque
continua a haver desigualdade.
Os homens são iguais perante a
lei, mas não têm oportunidades
iguais. Os direitos republicanos
são monopólio de uma parte da
população como se o Brasil fosse
uma república branca, ainda que
46% do seu povo seja negro".
Quilombos
Lula prometeu regularizar a
posse de terra das comunidades
quilombolas. Há 743 cadastradas,
mas apenas 36 já estão com a titularidade em dia.
"O fato de os quilombos ainda
não terem sido regularizados, 115
anos depois da abolição, diz muito sobre a inércia branca que sempre comandou a vida política nacional", afirmou o presidente.
Lula reconheceu mais uma vez a
existência de racismo no Brasil.
"Está na hora de este país encarar
uma verdade disfarçada há quatro séculos: quem paga a principal
conta da desigualdade neste país
são os negros."
Para Lula, uma das evidências
do racismo é o fato de negros não
se reconhecerem como tal.
"Sessenta e cinco por cento dos
brasileiros não se reconhecem como negros. Não há sintoma mais
dramático de racismo numa sociedade do que induzir um homem e uma mulher a negarem a
própria identidade", disse o presidente, durante o discurso.
No Censo, as pessoas têm direito de declarar sua raça aos pesquisadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Dessa forma, ainda que um cidadão tenha características físicas
compatíveis com as da raça negra,
pode se declarar pardo.
Citando dados do IBGE, Lula
afirmou que 1,7 milhão de pessoas da parcela mais rica da população tem renda equivalente à dos
85 milhões de pobres. Ele disse
ainda que, em cada dez pobres,
seis são negros.
Direitos
Depois de convocar os brasileiros a tomarem consciência do racismo e da desigualdade, o presidente disse que ele mesmo passou
por uma fase de descoberta dos
seus direitos.
"Costumo dizer que tenho duas
datas de aniversário, mas, pensando bem, são três: o dia em que
eu nasci, o dia em que fui registrado e o dia em que tomei consciência dos meus direitos e da necessidade de lutar por eles."
Para Lula, vencer a desigualdade racial em todo o mundo é defender uma "globalização humanitária". E vencer o preconceito
racial é questão de soberania.
"Não uma soberania baseada na
dominação de um povo sobre outro. Mas aquela baseada no estreitamento de relações comerciais,
políticas e culturais com aqueles
povos e continentes que aspiram,
assim como nós, a um futuro de
independência e dignidade."
Para marcar a data, Lula assinou
três decretos: um normatiza a regularização fundiária dos quilombos, outro cria o Conselho Nacional de Igualdade Racial e, o terceiro, a política de igualdade racial.
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