São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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PT NO DIVÃ

Em discurso na reunião do Diretório Nacional do PT, prefeita assume os erros de sua gestão na área tributária e da saúde

Marta relaciona derrota a política econômica de Lula

Marcelo Ximenez - 18.out.2004/Folha Imagem
A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, derrotada pelo tucano José Serra nas eleições municipais


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Entre as causas de sua derrota eleitoral, a prefeita Marta Suplicy (PT) vê parcela de culpa da política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido à "deterioração do poder aquisitivo dos setores populares, incluídos os setores médios". E responsabiliza indiretamente o governo federal pelo fracasso da aliança com o PMDB, dizendo que as causas foram "alheias" a ela.
"Repercutiu nas eleições o desgaste do governo federal por conta dos fatores políticos, midiáticos e sociais próprios à conjuntura nacional", disse a prefeita, em discurso lido por volta das 15h30 de ontem no encontro do Diretório Nacional do PT, em São Paulo.
Marta reconhece "alguns resultados positivos" na gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), principal padrinho do prefeito eleito, José Serra. Acha, porém, que Alckmin foi "preservado pela mídia" e "serviu ao PSDB para retomar a iniciativa e conquistar vitórias importantes não só na capital mas no interior".
O texto foi elaborado com ajuda de auxiliares importantes, como o marido Luis Favre e o ex-candidato a vice em sua chapa, Rui Falcão. Feito por escrito para ter caráter documental, dá todos os recados à cúpula nacional do PT e a Lula, demonstrando independência. Diz que teve "vitória política" numa eleição dura e lembra que Lula ganhou de Serra na capital "por margem muito pequena" em 2002. Marta marca um campo político próprio no PT. O objetivo é recuperar cacife para projetos futuros: eventual candidatura ao governo paulista em 2006, pleito para o qual está bem posicionado o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e até mesmo planos de retomar um vôo presidencial em 2010.
Na hora em que o PT debate como recuperar cacife na classe média e a imagem de esquerda, elenca programas sociais e se vende como petista genuína: "O combate às desigualdades sociais orientou uma série de medidas no plano financeiro, da educação, do transporte, de renda e de cidadania, características marcantes do modo petista de governar".
Dizendo ter feito uma "política de aliança precursora dentro do PT", Marta rebateu a cobrança da cúpula nacional de que foi culpa dela não ter se aliado ao PMDB.
"O caso do PMDB é sintomático, pois foram intervenções externas ao âmbito municipal e alheias ao meu governo que levaram o PMDB a romper o acordo com o PT." Como evidência, disse que os "principais candidatos a vereador" do PMDB a apoiaram.
Nos bastidores, dirigentes do PT ligados a Marta dizem que o governo federal não cumpriu promessas de entregar cargos e verbas a fatias do PMDB paulista. Lembram que a crise entre Lula e o PMDB comprovam a tese.

Erros na saúde e taxas
Afirmou haver uma "série de fatores" pela derrota e assumiu "erros" na saúde e na área tributária. "Tivemos falhas na maneira como apresentamos e fizemos a disputa em torno das taxas criadas."
Chamando sua gestão de "Governo de Reconstrução", disse que sua ação foi "limitada pelo pesado fardo do endividamento [da capital] que suga 13% das receitas do município" e "pela fraqueza da atividade econômica nos três primeiros anos de nossa gestão". Nesse ponto, sobrou outra farpa para Lula, pois um desses anos foi 2003, o primeiro do petista no Palácio do Planalto.
Como outra falha de campanha, Marta disse que demorou "demais em confrontar nosso próprio balanço de governo com o balanço da administração do PSDB" nas gestões de FHC e Geraldo Alckmin.

Ataque à mídia
Sobram petardos para a mídia, principalmente para os grandes jornais de São Paulo, como a Folha. "Ademais, havia o desgaste resultante da campanha movida pela grande mídia -a maior incentivadora do preconceito contra minha pessoa." Para ela, a mídia tentou "descaracterizar" feitos positivos de sua gestão.
Marta afirmou que os tucanos fizeram campanha "atiçando o ódio, a desqualificação e o preconceito", mas que Serra iniciará seu mandato "em condições infinitamente melhores" do que ela.
A prefeita não fez alusão à participação do senador Eduardo Suplicy (PT). A cúpula do PT paulistano atribuiu ao ex-marido de Marta parte do preconceito de que ela seria vítima e o responsabilizou pela entrevista da namorada dele, Mônica Dallari, à "Veja" uma semana antes da eleição.
Marta ficou três horas na reunião e não deu entrevista. Para o presidente do PT, José Genoino, a declaração da prefeita "é de natureza individual". "Não estou apreciando a declaração dela, assim como não vou opinar sobre as declarações dos demais", disse.

Colaborou a Reportagem Local


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