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REGIME MILITAR
Segundo beneficiados, Ministério do Planejamento alega que indenizações não foram previstas no Orçamento
Governo retém R$ 400 mi de pagamentos a anistiados
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O pagamento de benefícios a
anistiados políticos foi interrompido nos primeiros dias do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Folha apurou, o Ministério da Justiça estima em R$ 400
milhões o volume de pagamentos
retidos. Em todo o ano de 2002, o
governo federal gastou R$ 20,5
milhões em indenizações a 151
anistiados políticos. Outros 1.567
aguardam o pagamento de benefícios já autorizados pela Justiça.
Clóvis Bueno Monteiro, 95, foi
anistiado em dezembro do ano
passado, quando portaria do MJ
foi publicada no "Diário Oficial"
da União, mas ainda não viu o dinheiro. Preso de 73 a 75 durante o
regime militar, solicitou a anistia
em 96 ao Ministério do Trabalho e
depois à Comissão de Anistia, instalada em agosto de 2001.
Hoje, após um infarto ocorrido
no final do ano passado, Monteiro recebe um salário mínimo da
Previdência e espera o benefício,
cujo valor a família pediu que fosse mantido em sigilo por medo da
violência. Esse é um dos casos de
vítimas do bloqueio da verba.
A assessoria de imprensa do Ministério do Planejamento informou que foram liberados ontem
R$ 2,8 milhões para pagamentos
de benefícios. A Folha apurou
que a nova gestão do Ministério
da Justiça acompanha a Comissão
de Anistia com cautela. Causou
estranheza na nova equipe que
entre agosto de 2001 e novembro
de 2002 tenham sido julgados 453
processos e que apenas nos dois
últimos meses do ano o número
tenha subido para 2.285.
Lula foi cassado quando estava
na direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e chegou a ser
preso pela Polícia Federal em São
Paulo, mas não recebeu indenização do governo.
Outro problema dos anistiados
é a demora em ter o requerimento
julgado. Reportagem da Folha em
outubro do ano passado mostrou
que havia uma fila de 11.730 pedidos de anistia aguardando o julgamento pela comissão. Atualizada até ontem, a fila atinge cerca de
16 mil pedidos em compasso de
espera. Após a demora inicial, o
anistiado precisa esperar ainda a
assinatura do ministro da Justiça,
que transforma o processo em
portaria, e sua publicação no
"Diário Oficial" da União. Até ontem, o novo ministro, Márcio
Thomaz Bastos, não havia autorizado nenhum dos 240 processos
que aguardam seu aval.
Enquanto o processo não é publicado no "Diário Oficial", o
anistiado não pode pleitear o pagamento do benefício ao Planejamento. Anistiados beneficiados
com o pagamento de indenização
contaram à Folha que receberam
do Planejamento uma explicação
técnica: não há previsão orçamentária para o pagamento. Isso
significa que o governo não calculou que gastaria o dinheiro.
Segundo a assessoria do Planejamento, enquanto não foi sancionado o decreto orçamentário
deste ano, não havia base jurídica
para o pagamento. O decreto foi
publicado no dia 15 de janeiro,
dois dias antes do prazo máximo
previsto na legislação em vigor.
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