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JANIO DE FREITAS
O que é abusivo
É apenas um sinal de desorientação grave do governo,
como se estivesse a poucos segundos do nocaute, a ameaça
feita por Fernando Henrique
Cardoso, José Serra e Pimenta
da Veiga aos que façam "aumento abusivo" de preço. Bastaria perguntar a cada um deles o que é "aumento abusivo"
para ver que a ameaça é apenas um jogo de cena ridículo.
Abusivos são os preços de todos os remédios no Brasil. A
quase totalidade desses produtos é similar a um remédio feito pelas matrizes dos laboratórios no exterior, e aqui fabricado pela subsidiária multinacional ou por licença. Similaridade, convém notar, não
significa qualidades idênticas.
Mas a diferença não pára aí.
Nenhum desses remédios
custa no Brasil o preço que tem
no exterior. A mão-de-obra na
Europa e nos Estados Unidos é
muito mais cara do que a brasileira. A balela de que os custos adicionais são maiores
aqui não resistiu ainda a nenhuma confrontação, a começar da diferença no Imposto de
Renda de empresas e de acionistas, tão generosos no Brasil.
Apesar disso, se feitos aqui, os
mesmos remédios custam aos
brasileiros sempre muito, muito mais caro do que aos consumidores no exterior.
A exploração não é exclusividade das filiais de laboratórios estrangeiros. Produtos de
higiene e limpeza custam,
aqui, muito mais caro do que
as mesmas marcas lá fora. Perfumaria e cosméticos, papéis,
carros, eletroeletrônicos, tudo,
enfim, que seja feito aqui por
filial ou licença é, sempre, caríssimo em comparação com o
produto gêmeo estrangeiro.
Mas Fernando Henrique,
Serra e Pimenta vão caçar
"aumentos abusivos". O governo é tão contrário a preços
abusivos que, há poucos dias,
Bolívar Moura Rocha, o secretário de Acompanhamento
Econômico que fazia sério esforço para combater abusos e
irregularidades, preferiu deixar o cargo. Desanimado com
a dificuldade de atravessar as
muralhas governamentais entre a lei e os autores de irregularidades e abusos.
O governo já teve especialistas notáveis em ameaças a
preços abusivos, especialmente de remédios e carros. Dorothea Werneck e José Milton
Dallari talvez não tenham deixado boa impressão por seu
desempenho, mas o que lhes
importa não é o que deixaram,
é o que levaram, com a experiência original de suas negociações em torno de preços
abusivos.
Aumentos de preços representam inflação, por mais que
os índices oficiais e oficiosos
resistam a reconhecê-los. E aí
está o problema criado pela liberação do dólar que, no entanto, não entrou ainda nas
cogitações de economistas e de
jornalistas, embora sua importância.
É que imensa variedade de
produtos brasileiros, aproveitando a abertura das importações, incorporaram matéria-
prima ou componentes importados e deles não podem abrir
mão. Pelo menos não podem
fazê-lo em curto prazo. E os
preços dessas matérias e componentes subiram e vão subir
com o dólar, que vai se refletir
no preço final. Só desse fator já
advém uma carga pesada, e
incalculada, de aumentos inflacionários.
Abusiva, no final da história,
é a maneira como o governo
tem conduzido a política econômica. Sem precauções nem
ao menos para evitar aquilo
que mais o horroriza - a volta da inflação, mostrando toda a face da incompetência governamental.
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