São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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Renan sugere reforma política fatiada

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu ontem o fatiamento da reforma política para facilitar sua aprovação no Congresso e discordou do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), ao dizer que é contra a prorrogação do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por mais dois anos.
Hoje, Calheiros e Cavalcanti se reúnem com os líderes do Congresso e os presidentes dos partidos para discutir um calendário para a tramitação da reforma política e sua sistematização. Uma idéia é formar comissão mista.
A reforma política está em evidência depois da derrota sofrida pelo governo na eleição para a presidência da Câmara, em que o candidato oficial do PT, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), foi traído pela base. O processo foi marcado pelo troca-troca partidário e pelo desrespeito das bancadas à orientação dos líderes.
"O importante no primeiro momento é tentar contornar as dificuldades e, de repente, dividir a reforma", disse Calheiros, em café da manhã com a imprensa ontem, na residência oficial da presidência do Senado. O fatiamento facilitaria a sua tramitação porque, como está, quem é contra um ponto vota contra todo o texto.
Os principais pontos da proposta, que está na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, são a fidelidade partidária, a votação em listas fechadas elaboradas pelos partidos -o eleitor não escolheria candidatos individualmente- e o financiamento público das campanhas.
O presidente do Senado classificou o atual sistema partidário como "velho, carcomido, absurdo, obscuro e pouco verdadeiro".
O troca-troca partidário mais intenso, no entanto, foi justamente no PMDB, partido de Calheiros. O secretário de governo do Rio, Anthony Garotinho, e Eunício Oliveira (Comunicações) promoveram filiações em massa para fortalecer suas correntes.
"O Garotinho está completamente equivocado, porque é dificílimo controlar o partido pela bancada da Câmara", disse Calheiros. Governistas e oposicionistas do PMDB travam queda-de-braço desde que uma convenção nacional do partido aprovou em dezembro a saída do governo.
Ainda discorrendo sobre o sistema político brasileiro, Calheiros disse ser contra a prorrogação do mandato do presidente. "Por princípio, sou contra. Isso acaba colocando o interesse pessoal acima do nacional. Prorrogação do mandato é muito ruim. Não dá porque é inconstitucional e distorce completamente." Cavalcanti defendeu na semana passada mandato de seis anos para Lula sem direito à reeleição.

Goela
Quanto à eleição de Severino, o presidente do Senado afirmou que o governo precisa aprender com o episódio. "Não entendo que a vitória do Severino foi conseqüência só do corporativismo, foi conseqüência do cenário de dificuldade de articulação política e de inserção do governo", disse ele.
Calheiros também minimizou a polêmica defesa do aumento salarial dos parlamentares. "O Congresso é conseqüência do que a sociedade quer. Ninguém vai aprovar nada goela abaixo."
Para Calheiros, a reforma ministerial é fundamental para melhorar a relação com a. "Não há como chegar a um governo de coalizão sem a reforma", disse Calheiros, para quem o PT "precisa compartilhar mais o poder".


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