São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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Lula estimula fogo amigo de "bloquinho" ao dar poder a PMDB

Escanteados das discussões sobre a sucessão em 2010, partidos de esquerda criticam pré-candidatura de Dilma; PSDB já assedia PSB

Deputado Márcio França, líder do "bloquinho", defende prévia entre partidos aliados para a escolha do nome do candidato à sucessão de Lula

LETÍCIA SANDER
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Engolidos pela força e pelo prestígio do PMDB no governo Lula, os partidos de esquerda que formam o "bloquinho" se tornaram o principal foco de tensionamento na base aliada. O PSDB tenta capitalizar essa insatisfação e já assedia abertamente o PSB, visando 2010.
Escanteados das discussões sobre a sucessão de Lula, PSB, PC do B e PDT, os dois últimos em menor grau, fazem críticas à pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Reclamam que a escolha do nome da ministra foi feita sem ouvir os aliados. Além disso, dizem haver uma articulação para minar uma eventual terceira via entre a ungida por Lula e o virtual candidato tucano.
"Lula tem falado da Dilma, e não abre chance de outra hipótese. Ele quer [o tucano José] Serra contra Dilma, e as pessoas que querem agradar o presidente caminham para isso", disse o deputado Márcio França (PSB-SP), líder do "bloquinho". Ele defende que partidos aliados se submetam a prévias para escolher o candidato à sucessão de Lula, o que abriria espaço para nomes como o do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que aparece em segundo nas pesquisas. O PSB programou viagens com Ciro após o Carnaval. O giro começa no Rio Grande do Sul, reduto de Dilma.
"Trocar a mulher pela paquera com o PMDB pode não ser um bom negócio", diz França, recordando que, na eleição municipal de 2008, Marta Suplicy (PT) não recebeu o apoio dos peemedebistas e ficaria isolada não fosse o PC do B.
Desde dezembro, o governador José Serra (PSDB-SP) tem conversado com frequência com lideranças do PSB, entre elas o presidente nacional do partido, governador Eduardo Campos (PE), na tentativa de atrai-los para o seu projeto em 2010. O governador Aécio Neves (MG), também pré-candidato tucano, faz o mesmo.
A Folha apurou que, em um desses encontros, o partido deixou claro a Serra que sua primeira opção é manter a aliança com o PT porque não teria como justificar ao eleitorado uma guinada de posição -o PSB controla hoje dois ministérios, além de ser parceiro em prefeituras. Ao mesmo tempo, manteve a porta aberta para o tucano. Caso este vença, o PSB não faria oposição.

Nordeste
A cúpula do PSB tem boas relações com os dirigentes tucanos, incluídos Serra, Aécio e o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). O próprio Ciro Gomes, que já trocou farpas públicas com Serra, estaria menos reticente em relação ao governador, dizem aliados.
O interesse do PSDB pelo PSB se justifica pelo potencial eleitoral do partido na região onde Lula é mais forte. O PSB elegeu 206 prefeituras no Nordeste, a maioria nos rincões. Foi o segundo melhor resultado na região, atrás apenas do PMDB, com 338 prefeituras.
Além disso, o PSB governa Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Os governadores dos dois primeiros Estados (Campos e Cid Gomes, irmão de Ciro) deverão buscar a reeleição em 2010 e têm hoje como "sombras" justamente dois petistas: o ex-prefeito de Recife João Paulo e a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins.
Apesar de insatisfações pontuais com o governo e com o protagonismo do PMDB, o apoio de PC do B e PDT ao projeto de Lula em 2010 é dado como praticamente certo.
PT e PC do B são aliados históricos. O PDT, com a morte de Leonel Brizola em 2004, ficou sem um líder capaz de tocar um projeto próprio. O Planalto também não acredita que o PSB deixe a aliança -PT e PSB são aliados em muitos Estados.
Criado em 2007, o "bloquinho" -que reúne PMN e PRB, além de PC do B, PSB e PDT- chegou a ser a segunda maior força do Congresso, atrás somente do PMDB. A ideia dos partidos era reunir forças para competir com PT e PMDB e, assim, ter papel mais importante na base de Lula. Mas, nas eleições municipais de 2008, a aliança não se repetiu nos Estados como se esperava, e o bloco saiu enfraquecido.
Na disputa pela presidência da Câmara, em janeiro, o racha ficou evidente: estimulado pelo Planalto, o PDT decidiu deixar o "bloquinho" e se aliou à candidatura do peemedebista Michel Temer (SP), abandonando Aldo Rebelo (PC do B-SP).
"O bloco não se viabilizou como um campo político, limitou a ação parlamentar de cada partido e faltou integração até no campo eleitoral", admite o líder do PDT, Brizola Neto (RJ). Para o secretário-geral do PSB, Renato Casagrande (ES), a desunião foi alimentada pelo governo federal.


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