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Lula estimula fogo amigo de "bloquinho" ao dar poder a PMDB
Escanteados das discussões sobre a sucessão em 2010, partidos de
esquerda criticam pré-candidatura de Dilma; PSDB já assedia PSB
Deputado Márcio França,
líder do "bloquinho", defende
prévia entre partidos aliados
para a escolha do nome do
candidato à sucessão de Lula
LETÍCIA SANDER
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Engolidos pela força e pelo
prestígio do PMDB no governo
Lula, os partidos de esquerda
que formam o "bloquinho" se
tornaram o principal foco de
tensionamento na base aliada.
O PSDB tenta capitalizar essa
insatisfação e já assedia abertamente o PSB, visando 2010.
Escanteados das discussões
sobre a sucessão de Lula, PSB,
PC do B e PDT, os dois últimos
em menor grau, fazem críticas
à pré-candidatura da ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil).
Reclamam que a escolha do nome da ministra foi feita sem ouvir os aliados. Além disso, dizem haver uma articulação para minar uma eventual terceira
via entre a ungida por Lula e o
virtual candidato tucano.
"Lula tem falado da Dilma, e
não abre chance de outra hipótese. Ele quer [o tucano José]
Serra contra Dilma, e as pessoas que querem agradar o presidente caminham para isso",
disse o deputado Márcio França (PSB-SP), líder do "bloquinho". Ele defende que partidos
aliados se submetam a prévias
para escolher o candidato à sucessão de Lula, o que abriria espaço para nomes como o do deputado Ciro Gomes (PSB-CE),
que aparece em segundo nas
pesquisas. O PSB programou
viagens com Ciro após o Carnaval. O giro começa no Rio Grande do Sul, reduto de Dilma.
"Trocar a mulher pela paquera com o PMDB pode não ser
um bom negócio", diz França,
recordando que, na eleição municipal de 2008, Marta Suplicy
(PT) não recebeu o apoio dos
peemedebistas e ficaria isolada
não fosse o PC do B.
Desde dezembro, o governador José Serra (PSDB-SP) tem
conversado com frequência
com lideranças do PSB, entre
elas o presidente nacional do
partido, governador Eduardo
Campos (PE), na tentativa de
atrai-los para o seu projeto em
2010. O governador Aécio Neves (MG), também pré-candidato tucano, faz o mesmo.
A Folha apurou que, em um
desses encontros, o partido
deixou claro a Serra que sua
primeira opção é manter a
aliança com o PT porque não
teria como justificar ao eleitorado uma guinada de posição
-o PSB controla hoje dois ministérios, além de ser parceiro
em prefeituras. Ao mesmo
tempo, manteve a porta aberta
para o tucano. Caso este vença,
o PSB não faria oposição.
Nordeste
A cúpula do PSB tem boas relações com os dirigentes tucanos, incluídos Serra, Aécio e o
presidente do partido, senador
Sérgio Guerra (PE). O próprio
Ciro Gomes, que já trocou farpas públicas com Serra, estaria
menos reticente em relação ao
governador, dizem aliados.
O interesse do PSDB pelo
PSB se justifica pelo potencial
eleitoral do partido na região
onde Lula é mais forte. O PSB
elegeu 206 prefeituras no Nordeste, a maioria nos rincões.
Foi o segundo melhor resultado na região, atrás apenas do
PMDB, com 338 prefeituras.
Além disso, o PSB governa
Pernambuco, Ceará e Rio
Grande do Norte. Os governadores dos dois primeiros Estados (Campos e Cid Gomes, irmão de Ciro) deverão buscar a
reeleição em 2010 e têm hoje
como "sombras" justamente
dois petistas: o ex-prefeito de
Recife João Paulo e a prefeita
de Fortaleza, Luizianne Lins.
Apesar de insatisfações pontuais com o governo e com o
protagonismo do PMDB, o
apoio de PC do B e PDT ao projeto de Lula em 2010 é dado como praticamente certo.
PT e PC do B são aliados históricos. O PDT, com a morte de
Leonel Brizola em 2004, ficou
sem um líder capaz de tocar um
projeto próprio. O Planalto
também não acredita que o
PSB deixe a aliança -PT e PSB
são aliados em muitos Estados.
Criado em 2007, o "bloquinho" -que reúne PMN e PRB,
além de PC do B, PSB e PDT-
chegou a ser a segunda maior
força do Congresso, atrás somente do PMDB. A ideia dos
partidos era reunir forças para
competir com PT e PMDB e, assim, ter papel mais importante
na base de Lula. Mas, nas eleições municipais de 2008, a
aliança não se repetiu nos Estados como se esperava, e o bloco
saiu enfraquecido.
Na disputa pela presidência
da Câmara, em janeiro, o racha
ficou evidente: estimulado pelo
Planalto, o PDT decidiu deixar
o "bloquinho" e se aliou à candidatura do peemedebista Michel Temer (SP), abandonando
Aldo Rebelo (PC do B-SP).
"O bloco não se viabilizou como um campo político, limitou
a ação parlamentar de cada
partido e faltou integração até
no campo eleitoral", admite o
líder do PDT, Brizola Neto
(RJ). Para o secretário-geral do
PSB, Renato Casagrande (ES),
a desunião foi alimentada pelo
governo federal.
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