São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 1998

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Versículos viram "arma' na defesa da conduta homossexual

da Reportagem Local

Recurso tradicionalmente utilizado pelos cristãos para indicar a reprovação de Deus ao homossexualismo, os versículos da Bíblia também se transformaram em elementos de defesa da conduta gay.
"Cada um usa ( a Bíblia) de acordo com os seus interesses ideológicos. Existem passagens que condenam as práticas homossexuais, mas outras não. Por isso, é autoritarismo puro usar a palavra de Deus para reprimir as pessoas", diz Elias Lilikã, um dos fundadores da Comunidade Cristã Gay.
Um dos exemplos de tolerância da Bíblia mais citados pelo grupo é o que descreve o relacionamento de Davi e Jonatas, no Antigo Testamento.
"Tua amizade me era mais maravilhosa do que o amor das mulheres. Tu me eras deliciosamente querido", relata Samuel no capítulo 1, versículo 26 de seu segundo livro, conforme panfleto distribuído pelo Grupo Gay da Bahia.
A mesma opinião é compartilhada pelo pastor presbiteriano Nehemias Marien. "Os dois se amavam. Sem dúvida nenhuma eram homossexuais", diz.
"Isso nunca existiu. Era uma relação de amizade. Quando fala em amor superior ao que sente pelas mulheres, Jonatas quer dizer que seu amor pelo amigo vai muito além do sexo", afirma o pastor Túlio Barros Ferreira (Assembléia de Deus).
"E assim mesmo também os homens, deixado o uso natural das mulheres, arderam nos seus desejos mutuamente, cometendo homens com homens a torpeza e recebendo em si mesmos a paga que era devida ao seu pecado", afirma São Paulo em sua primeira carta aos Romanos, citado por Ferreira.
"Essas passagens são de outra cultura e têm de ser compreendidas no contexto da época", diz o padre José Antonio Trasferetti, responsável pela pastoral dos homossexuais em Campinas.
Em sua avaliação, o bom relacionamento de Jesus com prostitutas e leprosos demonstra ainda sua tolerância quanto a minorias.
O pastor Marien vai mais longe, afirmando que o apóstolo Paulo era homossexual, e cita a carta dele aos Romanos para comprovar sua tese.
"Mas sinto nos meus membros outra lei, que repugna a lei do meu espírito, e que me faz cativo na lei do pecado que está nos meus membros. Infeliz homem eu. Quem me livrará do corpo desta morte?", diz o capítulo 7, versículos 23 e 24. (PZ)



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