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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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CASO JERSEY

Procuradoria abrirá inquérito para apurar mudança de versão sobre propina

MP vai investigar ex-acusador de Maluf

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Federal vai instaurar inquérito para apurar os motivos que levaram Simeão Damasceno de Oliveira a recuar das acusações que fez contra Paulo Maluf (PPB). Essa iniciativa será relatada às autoridades de Jersey e da Suíça -países que devem enviar ao Brasil documentos bancários em nome do ex-prefeito e de seus familiares.
"Vamos comunicar a autoridades daqueles países que algo de estranho aconteceu para essa mudança de versão e que, mesmo com a retratação, as investigações comprovaram tudo o que foi dito ao Ministério Público e à Polícia Federal", afirmou o procurador Pedro Barbosa Neto.
O inquérito contra Simeão deverá ser aberto na próxima terça-feira e será exclusivamente para apurar em que circunstância ele modificou sua versão. Segundo a Folha apurou, no final do ano passado, Simeão já havia consultado um especialista para apurar as possíveis consequências criminais de sua retratação.

Defesa prévia
A ação da Procuradoria da República é uma defesa prévia diante da hipótese de os advogados do ex-prefeito encaminharem à ilha de Jersey a declaração que isenta o ex-prefeito de qualquer irregularidade. Para Barbosa Neto, isso poderia "confundir" as autoridades e atrasar ainda mais o envio de documentos ao Brasil.
Ao Ministério Público e à Polícia Federal, Simeão acusou o ex-prefeito de superfaturamento na construção da avenida Água Espraiada e remessa ilegal de verba para o exterior. "Os pagamentos de propina ao ex-prefeito Paulo Salim Maluf eram feitos em espécie, em dólar e, às vezes, em reais", disse ele, há cerca de um ano.
No último dia 27, no entanto, Simeão foi a um cartório e, por meio de uma escritura de declaração, modificou suas acusações: "Não posso afirmar que o mesmo Paulo Salim Maluf pediu, solicitou ou recebeu, inclusive por terceira pessoa, qualquer importância em dinheiro ou bem equivalente a qualquer título que seja, especialmente no de propina".
A Procuradoria tenta estabelecer um vínculo entre o dinheiro supostamente desviado da obra e as contas que Maluf e seus familiares mantêm em Jersey, paraíso fiscal no canal da Mancha, com US$ 200 milhões, conforme a Folha revelou em 2001.
O ex-prefeito Paulo Maluf sempre negou possuir contas bancárias em Jersey ou na Suíça. Seu advogado, Ricardo Tosto, disse ontem não ter a intenção de enviar a declaração feita em cartório para os advogados contratados por Maluf no exterior. Disse que a retratação é importante para a ação contra Simeão por danos morais.


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