São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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entrevista

Fazer primária fortalece sigla, diz pesquisador

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

O cientista político norte-americano John Michael Carey, da Universidade de Dartmouth, fez uma pesquisa sobre primárias em toda a América Latina. Ele analisou cerca de 700 escolhas de candidatos por esse sistema, em mais de 90 eleições, em países como Argentina, Uruguai e República Dominicana.
Autor de "Primary Elections and Candidate Strength in Latin America" (primárias e a força dos candidatos na América Latina), Carey diz que as "pré-eleições" trazem resultados positivos aos partidos. "Se um candidato é nomeado em processo de primária, ele tende a ter entre 4% e 5% a mais de votos."

 

FOLHA - Os partidos ganham ao fazer primárias?
JOHN MICHAEL CAREY -
No geral, sou favorável às primárias. O que se argumenta normalmente é que elas dão mais transparência e trazem processos abertos e democráticos aos partidos. Por outro lado, uma percepção comum é que, no final, os candidatos podem sair enfraquecidos. Mas pesquisas apontam para outra direção.

FOLHA - Qual?
CAREY -
O efeito das primárias é positivo para o resultado eleitoral dos partidos. E a minha expectativa era outra. É claro que estamos olhando para 700 escolhas de candidatos à Presidência em 25 anos e, portanto, há casos em que o resultado é negativo. Mas, no geral, ele é positivo.

FOLHA - Positivo como?
CAREY -
Se um candidato é nomeado em processo de primária, ele tende a ter entre 4% e 5% a mais de votos. Como cheguei a esse resultado? Estabeleci um modelo estatístico para prever o percentual de votos que você esperaria que um candidato tivesse em uma eleição. Para isso contam muitos fatores: como está a situação da economia? O partido está no poder atualmente? Fez coligação? A partir disso, perguntamos se o candidato foi escolhido via primárias.

FOLHA - Por que o resultado é melhor?
CAREY -
Creio que o resultado seja melhor porque as primárias são uma espécie de "teste de marketing". Os eleitores vão dar indicações de qual tipo de candidato preferem. Além disso, os líderes partidários são especialistas em várias áreas, mas nem sempre sabem o que vai agradar ao eleitor médio. Talvez eles sejam bons em escolher alguém que vá governar bem, o que não significa, necessariamente, que seja bom em campanhas.

FOLHA - Há outras hipóteses?
CAREY -
Se o candidato tem uma fraqueza, um escândalo no histórico, isso pode ser exposto só na eleição. Em uma primária, as fraquezas aparecem antes, selecionando o candidato mais forte.


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