|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sem-tora desmatam áreas no Pará a serviço de madeireira, diz secretaria
Grupos de posseiros simulam integrar movimentos sociais para invadir terras
DA AGÊNCIA FOLHA
A extração ilegal de madeira
no Pará e a omissão do poder
público em relação à atividade
nos últimos anos possibilitaram o surgimento de grupos de
posseiros, conhecidos como
sem-tora, especializados em invadir terras e desmatar a serviço de madeireiras no Estado.
Os sem-tora, assim chamados porque nunca ficam com a
madeira extraída, se passam
por membros de movimentos
de trabalhadores rurais sem
terra e invadem áreas de florestas intactas com o objetivo de
fornecer matéria-prima para as
madeireiras. Estas, segundo a
Sema (Secretaria Estadual de
Meio Ambiente), financiam a
estrutura da ação -fornecendo
equipamentos como motosserras e caminhões.
Após devastar a área, muitas
vezes os sem-tora atuam como
grileiros, vendendo as terras
degradadas pela ação.
"Há casos em que eles invadem territórios com até 300
homens. São desempregados
pagos pelas madeireiras e que
contam com logística cara", diz
o secretário de Meio Ambiente
do Pará, Valmir Ortega.
Em Tailândia (218 km de Belém), onde, em fevereiro, houve
conflito entre população e fiscais de órgãos ambientais por
causa da apreensão de madeira,
uma área está invadida por
sem-tora desde janeiro de
2007. A propriedade, de 2.500
hectares, pertence a Armando
Zurita Leão, professor da
UFPA (Universidade Federal
do Pará). Ele diz ter sido expulso da área e que um empregado
foi ameaçado e teve a casa incendiada por invasores.
"Tínhamos uma área nativa
com mais de 10 mil árvores.
Nunca derrubamos nada. Eles
chegaram e começaram a devastar", disse o proprietário.
Já no município de Breu
Branco (376 km ao sul de Belém), sem-tora promoveram
dez invasões à fazenda Reflorestamento Água Azul 2, da
empresa Globe Metais.
A área possui 11,2 mil hectares -a última invasão, que contou com cerca de 50 pessoas,
terminou no final de 2007.
Durante as invasões, a empresa afirma ter registrado 70
boletins de ocorrência, que resultaram em três inquéritos
policiais.
De acordo com a Globe, cerca
de 30 mil metros cúbicos de
madeira em tora foram cortados ilegalmente no local, dos
quais 20 mil foram roubados
em 40 dias -o que encheria 40
caminhões de toras por dia.
Segundo o subcomandante
da PM em Tailândia, Robson
Martins de Oliveira, ações de
sem-tora se tornaram comuns
por conta da degradação das
áreas florestais no Estado.
"Muitos desses invasores se
tornam grileiros. É difícil identificá-los e reprimir as ações,
porque estão em áreas grandes,
dispersos e misturados com
outros movimentos", afirmou.
(FG E MP)
Texto Anterior: Assentamento do Incra é origem de parte da madeira Próximo Texto: Madeireiras: Sindicato nega apoio às ações dos desmatadores Índice
|