|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NA BAHIA
"Essa gente tem mentalidade fascista?", questiona presidente sobre militantes sem terra que o criticam
FHC diz estar cansado de ações do MST
WILLIAM FRANÇA
enviado especial à ilha de Comandatuba (BA)
O presidente Fernando Henrique
Cardoso afirmou
ontem estar cansado das ações do
MST (Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra) e deixou claro que não
quer que o Congresso vote, na
próxima quarta-feira, a medida
provisória do salário mínimo fixado em R$ 151.
FHC acrescentou que os sem-terra são "uma parte radical da
sociedade voltada para o vazio",
que "não quer resolver nada, só
agravar".
Na sua opinião, há no país "a tolerância necessária" para as manifestações durante as comemorações dos 500 anos, mas ele não
aceita ofensas pessoais, à democracia, ao país ou à instituição
Presidência da República.
"Essa gente tem mentalidade
fascista?", questionou ao comentar a invasão e depredação da Secretaria da Segurança Pública do
Pará, quarta-feira passada. "Esse
movimento está descambando
para a baderna", afirmou, referindo-se ao MST.
Em resposta às declarações de
FHC, o coordenador do MST na
Bahia, Valmir Assunção, disse
que o que o presidente considera
baderna é, para o MST, a luta pela
vida, pela reforma agrária e pelos
direitos humanos.
"Baderna é o que o presidente
quer fazer ao impedir o povo de
participar de uma festa democrática, ao rasgar a Constituição, ao
tentar impedir o direito de ir e
vir", afirmou o líder sem terra, em
referência aos bloqueios policiais
de ônibus com MST.
A seguir, os principais trechos
da entrevista concedida pelo presidente FHC, que estava de bermuda e chinelos, ao lado do bangalô em que está hospedado, de
frente para o mar, pouco antes de
fazer uma caminhada pela praia
privativa da ilha de Comandatuba, no litoral sul da Bahia, onde
descansa desde quinta-feira à noite.
MANIFESTAÇÕES - "Elas (as
manifestações) são livres. Todo
mundo sabe que o Brasil é um
país multirracial, cheio de contradições e de ambiguidades e tem a
tolerância necessária para essa
convivência. Eu pelo menos acho
muito bom que haja todo tipo de
manifestação, de protestos, também dos excluídos, desde que sejam civilizados. Agora, ofender as
pessoas... Eu outro dia vi uma
bandeira do Brasil em que tiraram a frase "Ordem e Progresso"
e fizeram uma ofensa a mim. Ora,
isso não é manifestação, é uma
questão de desrespeito ao país,
aos demais e à figura do presidente. Acho que passou de tudo que é
limite."
OS MANIFESTANTES - "O
acirramento de ânimos é de um
setor que, aliás, não acirrou nada,
sempre foi assim, que é o MST.
Ele às vezes usa a bandeira da
CUT, que não sei se é com ou sem
a autorização da central. E tem
um grupelho chamado PSTU,
que às vezes é muito agressivo.
Outro dia jogaram uma pedra e,
em vez de cair em mim, caiu no
presidente da Câmara, Michel
Temer. Isso é uma falta de civilidade total, que não tem nada a
ver com política no sentido forte
da palavra. Tem a ver com visões
de pequenos grupos. Eles são um
setor radicalizado da sociedade
brasileira, só que voltada para o
vazio."
SEM-TERRA - "Eles não me pediram audiência. Quem pediu foram os índios e vou recebê-los.
Mas já os recebi. E estão enganados ao afirmar que vão forçar um
encontro comigo. Ninguém força
um encontro com o presidente da
República. Se tivessem pedido...
Mas eu não vou entrar nessa, não.
De outras vezes que os recebi a
conversa foi muito boa. Só que
depois eles vão para a rua, dizem
outras coisas e só atacam, atacam.
E aí, cansa."
VIOLÊNCIA - "Não diria que
parecem atos de guerrilha. Mas
em que lugar do mundo já se viu
que manifestantes invadem uma
Secretaria da Segurança, como
aconteceu no Pará? A vida inteira,
quando há violência, é o contrário. É na secretaria que se faz a
violência, batem nas pessoas, que
no passado torturavam. Agora é
o oposto? Quer dizer, essa gente
tem mentalidade fascista? Claro
que isso preocupa. Não é pelo perigo, pois são meia dúzia de gatos
pingados, mas é pelo desrespeito
aos outros, à democracia, ao país.
Em nenhum lugar do mundo isso
é aceitável. Esse movimento está
descambando totalmente para o
lado da baderna."
MÍNIMO - "Vamos falar um
português claro: os R$ 151 representam um aumento real para o
salário mínimo. É baixo. Todos
os salários no Brasil são baixos.
Imagino que até o seu (da repórter que o questionou). Mas salário não se resolve por decreto. Se
fosse assim, quem não gostaria de
colocar o salário mínimo em R$
1.000? Eu faria isso na hora. Mas
se eu fizer isso, explode a economia do Brasil."
ACM - "Lógico que nós não vamos discutir acordo nenhum
aqui (ACM quer votar a MP do
mínimo na próxima quarta-feira). O encaminhamento das coisas é no Congresso. Os líderes é
que estão discutindo. São dois
anos (ontem) do falecimento do
Luís Eduardo. Essa é uma razão
que me leva a dar um abraço no
senador."
Colaborou a Agência Folha, em Salvador
Texto Anterior: Orla recebeu R$ 150 milhões Próximo Texto: Segurança abrevia a visita Índice
|