São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

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Itamar articula contra a união PMDB-PSDB

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA

Em nova investida contra o apoio oficial do PMDB à candidatura de José Serra (PSDB), o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), disse em Ouro Preto (MG) considerar importante para Minas e para o Brasil que o próximo presidente tenha "sentimento de pátria" e não represente o "continuísmo de ações que não interessam ao Brasil".
As frases foram ditas quando repórteres perguntaram a Itamar sobre o sentido da nota divulgada por ele na sexta-feira pregando um "desgarramento" do PMDB da candidatura de Serra.
"Minas não pode escolher qualquer presidente, tem que escolher aquele que tenha sentimento de pátria, o que é fundamental para Minas e para o Brasil", afirmou.
O governador participou na cidade histórica das comemorações dos 213 anos da Inconfidência Mineira, ato que é usado desde 1999 pelo ex-presidente como forma de externar suas preferências e tendências políticas. A solenidade teve como orador oficial o presidente do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio de Melo.
"Se escolherem o continuísmo naquelas ações que não interessam ao Brasil, nós não devemos votar nele [Serra"", acrescentou.
Apesar de fazer oposição ao governo federal desde 1998, Itamar mantinha bom diálogo com Serra e chegou a ser cotado como possível vice na chapa do ex-ministro.
Desde sexta, dia seguinte à decisão do Supremo Tribunal Federal de manter a verticalização nas eleições de outubro, a relação estremeceu. Entre aliados íntimos de Itamar, há duas versões sobre o sentido das críticas a Serra.
A primeira é a de que Itamar busca liderar a corrente peemedebista -ainda não majoritária- que defende que o partido não se coligue nacionalmente e dê, com isso, liberdade de aliança aos diretórios estaduais.
Itamar usa o exemplo de Minas Gerais. Líder nas pesquisas na disputa pelo governo mineiro, Itamar trabalha com a chance de ter o apoio, entre outros, do PT e do PL. Se o PMDB fechar a aliança nacional com Serra, Itamar avalia que poderia estar fortalecendo indiretamente o PSDB mineiro, de quem é adversário ferrenho.
A tese de afastamento da candidatura Serra, que vai de encontro às pretensões da cúpula peemedebista, encontra forte respaldo nos setores do partido que defendiam a candidatura própria -como é o caso dos grupos liderados pelo senador Pedro Simon (RS) e pelo ex-governador Orestes Quércia (SP) e ex-deputado Paes de Andrade (CE)-, mas mobiliza também setores que até então ou apoiavam a cúpula da legenda ou se mantinham neutros.
Esses são os casos dos peemedebistas do Rio de Janeiro -que fizeram "coligação branca" com o PSB- e os liderados pelo ex-senador Jader Barbalho (PA) e pelos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP), que controla também o PMDB maranhense.
A mudança de posição destes setores pode complicar a intenção da cúpula da legenda de aprovar na convenção partidária de junho a coligação com os tucanos. Isso porque, em setembro, o grupo oposicionista, até então composto só pela ala liderada por Itamar, conseguiu 37,26% dos votos na convenção nacional do partido.
A outra versão diz que Itamar, ao atacar a candidatura Serra, poderia estar querendo colaborar com uma possível substituição do ex-ministro pelo presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves (PSDB), que tem uma amizade pessoal com Itamar.



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