São Paulo, segunda-feira, 22 de abril de 2002

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INVESTIGAÇÃO

Ednamar Silva Ramos, que autorizou operação de busca e apreensão na empresa da pefelista, está deixando o caso

Juíza do caso Lunus votaria em Roseana

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A principal ação que tirou a ex-governadora Roseana Sarney (PFL) do páreo presidencial partiu de uma ex-eleitora da pefelista. Em entrevista à Folha, a juíza federal Ednamar Silva Ramos, 37, que autorizou a operação de busca e apreensão no escritório da pefelista, disse que pretendia "dar um voto de confiança" a Roseana por ela ser mulher.
Ednamar autorizou a busca no dia 23 de fevereiro, um dia depois de assumir o cargo de titular interina na 2ª Vara da Justiça Federal no Tocantins, no lugar do juiz Alderico Rocha Santos. Foi na busca na empresa Lunus, da ex-governadora e do marido, Jorge Murad, que a Polícia Federal encontrou R$ 1,34 milhão. Roseana apresentou pelo menos seis versões diferentes para a origem do dinheiro. Desgastada politicamente, 41 dias depois da ação, a ex-governadora renunciou à pré-candidatura.
"Não parei para imaginar o reflexo político, mas isso não teria me detido", afirmou Ednamar. O resultado ela avalia como positivo: "Afastou pessoas que tinham falha de caráter".
A juíza não cuidará mais do caso. Atendendo a pedidos da família, que vive em Brasília, Ednamar será transferida para o Distrito Federal. "Sentirei saudades do caso da Sudam", disse, referindo-se ao processo principal, que apura a suposta participação de cerca de 80 empresas em fraudes na extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, entre elas, a Lunus.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone, na sexta-feira, último dia de Ednamar como juíza do caso.

Folha - A sra. imaginava a repercussão que sua decisão poderia causar na disputa presidencial?
Ednamar Silva Ramos -
Não parei para pensar no reflexo político e, mesmo que pudesse imaginar, isso não teria me detido. A intenção era que as forças policiais trouxessem os documentos da Lunus. Não tinha a menor idéia de que encontrariam o dinheiro.

Folha - Roseana disse que a investigação tem conotação política.
Ednamar -
Sou completamente ignorante em temas políticos. Do Judiciário, sei que não existe interferência política. Se tivesse de sofrer influência teria sido a favor da ex-governadora, pois minha primeira intenção era votar nela. Achava que deveria dar um voto de confiança às mulheres. Esse era o meu único argumento. Naturalmente, esperava sua plataforma de campanha. Não posso falar quando deixei a intenção de votar nela. Há uma série de coisas que não posso revelar. Hoje não teria nem a primeira intenção.

Folha - Como avalia a decisão da sra. e a renúncia de Roseana?
Ednamar -
Dentro da minha limitada visão de política, acho que as consequências foram boas. Afastou pessoas que tinham falha de caráter e se embrenhavam na política em nível bem alto.

Folha - Qual foi sua reação ao ouvir de Roseana que ela era perseguida por ser mulher?
Ednamar -
No começo, me senti um pouco incomodada e insatisfeita, mas nunca prejudicada. Depois reparei que havia ignorância dela no assunto. E botei esse assunto de lado.

Folha - O que aconteceu a partir do momento que a sra. autorizou a busca até a sua execução?
Ednamar -
Expedi uma carta precatória à Justiça do Maranhão. Depois, vi na imprensa o estardalhaço que isso causou. Na época, eu estava viajando.

Folha - Roseana reclamou por não ter sido avisada.
Ednamar -
Seria como avisar uma pessoa que a casa dela seria assaltada. Não tem sentido.

Folha - A sra. acha que Roseana irá colaborar com as investigações?
Ednamar -
Ao mesmo tempo que ela diz que sim, que quer ajudar, o comportamento dela parece dizer não. Mas não quero mais pensar nesse assunto. Já terminou meu período em Tocantins.

Folha - Sua remoção tem relação com o caso?
Ednamar -
Não. Sou de Brasília e estou retornando à minha terra. Se continuasse aqui, meu procedimento seria o mesmo que venho mantendo. Atendo os reclames da minha família.



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