São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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TIRADENTES

Militantes criticam o governo; Aécio cobra novo pacto federativo

Festa tucana da Inconfidência assiste a protesto contra Lula

Tuca Vieira/Folha Imagem
Manifestantes seguram placas com a frase "Lula traidor" durante a entrega da medalha da Inconfidência, ontem, em Ouro Preto


CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO

A entrega da medalha da Inconfidência, concedida ontem pelo governo de Minas Gerais a mais de 200 personalidades, em Ouro Preto, serviu como pretexto para manifestações promovidas por PSDB, PMDB e Liga Operária contra o governo federal.
Os cerca de 2.000 manifestantes levaram faixas contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até placas, que formavam a frase "Lula traidor". Ônibus saíram de Belo Horizonte ontem de manhã levando os militantes. Em alguns deles era possível ler faixas com dizeres como "Aécio: este é o nosso governador".
Posicionados bem em frente ao palanque das autoridades, onde estavam os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Turismo, Walfrido Mares Guia, além do secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, os manifestantes não paravam de gritar "traidor, traidor", ao som de cornetas e tambores. Entre as faixas, críticas contra tudo: "Abaixo a reforma do MEC", "Lula quer acabar com a licença-maternidade", "Abaixo as reformas do governo". Bandeiras do PSDB e do PMDB foram distribuídas aos populares.
Palocci, que foi agraciado com a medalha da Inconfidência, entrou mudo e saiu calado da cerimônia realizada na praça Tiradentes. A honraria é concedida pelo governo mineiro às pessoas que contribuíram para a projeção do Estado.

Déficit zero
Numa rua ao lado, mas longe dos olhos do governador Aécio Neves (PSDB), professores também protestavam, mas contra o governo de Minas Gerais. "Déficit zero x investimentos: cortando direitos dos cidadãos é fácil economizar", dizia uma das faixas, cuja autoria era atribuída ao Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação.
A frase é uma alusão à propaganda do governo mineiro que afirma que, em dois anos, acabou com o déficit nas contas do Estado. Em outro cartaz, o mesmo grupo criticava o que considera uma censura branca à imprensa de Minas Gerais: "Amordaçar a mídia é atentado contra a democracia".

Pacto federativo
Nesse clima, o governador Aécio Neves cobrou do governo federal um novo pacto federativo e criticou o que considera centralização da arrecadação nas mãos da União. Aécio disse estar preocupado com a "erosão" do pacto no país. Diante de Palocci e de Dulci -este também agraciado com a medalha da Inconfidência-, o governador mineiro afirmou que criticava a centralização "sem nenhum constrangimento".
"Entendo ser esta uma bandeira comum que, se ainda não nos une plenamente na mesma caminhada, já é idéia-força que pontua as reflexões de todos que temos responsabilidade pública e queremos avançar no rumo de um país mais justo e equilibrado", discursou o governador tucano, que chamou o ministro da Fazenda de "amigo" e o elogiou por conduzir a economia brasileira "de forma tão firme e séria".
Aécio disse que é "urgente, imprescindível e inadiável enfrentar esse desafio" e lembrou que a centralização "é antiga no Brasil". Como quem faz um desafio, afirmou que "é de se lembrar que o sistema imperial caiu não porque fosse uma monarquia, mas por ser centralizador".
Ao mesmo tempo em que criticou o governo petista, o tucano o eximiu de toda a responsabilidade pela concentração de poderes, afirmando que "a federação, mesmo mitigada, praticamente quase não existe, sobretudo com o esforço concentrador dos últimos 15 anos".
Para o governador mineiro, a atualização do pacto federativo "é a primeira e a mais exigida reforma política e institucional do Estado brasileiro".
O governo federal não comentou ontem o protesto durante a cerimônia em Ouro Preto.


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