São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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PT NO DIVÃ

Maior corrente de esquerda da sigla se reúne para divulgar candidato alternativo

Esquerda tem novo nome "antiGenoino"

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do Movimento PT, a corrente Democracia Socialista (DS) se reúne a partir de hoje em São Paulo para o lançamento da candidatura de Raul Pont, ex-prefeito de Porto Alegre, à presidência do PT. Maior tendência de esquerda, a DS também reafirmará o teor da "Carta aos petistas" divulgada no dia 28 de janeiro, no Fórum Social Mundial. Nela, há críticas à política econômica do governo e à atuação de José Genoino à frente do PT.
Candidato à reeleição, Genoino é chamado até de "bedel de parlamentares" por integrantes da DS. O termo mais usado é "embaixador do governo". A começar pelo próprio Pont: "Ele traz as posições do governo para dentro do partido. Precisamos de um presidente que represente mais o PT, menos o governo".
Reproduzindo expressão da carta, o deputado Dr. Rosinha (PR) diz que o PT atua como "correia de transmissão" do Planalto. Walter Pinheiro (BA), por sua vez, diz que "o debate não está na fulanização, mas na subserviência do partido ao governo". Para João Alfredo (CE), porém, Genoino age como "bedel" dos petistas.
Em campanha, Genoino se esforça para evitar polêmica. Diz que "o campo majoritário não vai brigar internamente".
"Meus adversários estão fora do PT", afirma ele, mas sem se conter: "O debate não pode ir por aí. O desafio que o PT tem é analisar a grande experiência de governar o Brasil e construir um projeto estratégico à luz do que já foi feito. É muito importante para ficarmos presos a esse tipo de adjetivação que não merece resposta". Ainda segundo Genoino, "o campo majoritário vai pensar grande nessa disputa porque tem a responsabilidade de administrar o partido".
Apesar das queixas contra uma centralização das decisões no comando do PT, Genoino não será o único alvo de artilharia no encontro, a ser encerrado amanhã. A política econômica -especialmente a de juros- voltará a ser atacada. "Conter a inflação com base exclusivamente no juros não tem lógica", diz Pont.

União da esquerda
A relação com o Congresso -classificada como de "troca-troca" na carta- também será objeto de crítica. O documento da DS condensará as propostas saídas dos encontros estaduais. E deverá recomendar a união das correntes à esquerda do partido.
Hoje são três os candidatos da esquerda do PT. Professor do Instituto de Economia da Unicamp, Plínio de Arruda Sampaio foi lançado pelo bloco parlamentar de esquerda e Walter Pomar, vice-presidente do PT, pela corrente Articulação de Esquerda.
A idéia é buscar uma candidatura única. Pomar, no entanto, sofre restrições na DS. "Concordamos com as propostas. Difícil é o nome", admitiu Pont, segundo o qual a intenção é levar a eleição para um segundo turno. "É uma possibilidade remota. Mas existe. Há um sentimento de descontentamento no partido e é nesse espaço que vamos trabalhar."
Em 2001, o hoje ministro José Dirceu foi eleito com 55% de votos. À época, DS e Articulação tiveram, cada um, cerca de 15% do partido. Então candidato, Pont recebeu 18% dos votos. Em setembro, o campo majoritário poderá estar debilitado, se for mantida a candidatura da deputada federal Maria do Rosário (RS) à presidência do PT. Seu nome foi lançado na semana passada pelo moderado Movimento PT.
Nos Estados, a DS também tem discutido a participação no governo. No Ceará, a conclusão foi que a nomeação de integrantes da corrente -uma maneira de mudar os rumos do governo por dentro- não pode inibir a ação dos militantes. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, é da DS. Sua presença é esperada. Além dos seis deputados federais que integram a corrente, parlamentares afinados à tendência foram convidados.


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