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ELEIÇÕES 2006/ABRIL VERMELHO
Insatisfeito com andamento da reforma agrária e manutenção da política econômica, movimento não deve anunciar apoio à reeleição
MST testa Lula com radicalização verbal
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O anúncio do MST de que investirá em ações urbanas a partir
de 2007 é uma forma de ameaça
ao governo federal em ano eleitoral. É também um termômetro da
insatisfação dos sem-terra com a
gestão petista, seja na reforma
agrária, seja na manutenção da
política econômica ortodoxa.
Sem perspectiva de ver ocorrerem as mudanças desejadas, como a desapropriação em massa
de terras e o investimentos em
projetos de desenvolvimento sem
o pagamento de juros da dívida
externa, o MST lança agora a idéia
do deslocamento de suas ações do
campo para a cidade para aumentar seu poder de barganha, mas
também para lhe dar uma maior
penetração na sociedade.
A avaliação interna dos sem-terra é que a reforma agrária somente ocorrerá quando a população urbana for convencida de que
ela é "urgente e necessária".
Para isso, querem levar às cidades a organização que possuem
no campo, principalmente o poder de arregimentar e convencer
as pessoas. No momento, principalmente por conta da informalidade no trabalho, enxergam um
poder escasso de organização e
mobilização dos movimentos e
sindicatos urbanos. É justamente
das periferias das grandes cidades
que saem muitas das famílias que
aderem ao MST e engrossam os
acampamentos país afora -hoje
com cerca de 500 mil pessoas, segundo o movimento.
Os sem-terra avaliam que os
brasileiros, em geral, apesar de
não serem contrários por princípio à distribuição de terras, condenam as invasões como uma
forma de pressão aos governos.
Ao deslocar sua atuação para a cidade, o MST tenta reverter o desgaste na sua imagem ante o governo e a população com a invasão a
terras produtivas.
Os líderes do movimento querem o fim das concentrações de
renda e de terra por meio de uma
radical mudança da estrutura de
poder do país, hoje, segundo eles,
nas mãos de multinacionais. A
meta final, porém, continua sendo a reforma agrária.
Com a eleição e o governo de
Lula, o principal movimento sem-terra do país entrou em refluxo.
Ao mesmo tempo, teve a certeza
de que deveria prosseguir invadindo terras para conseguir o mínimo de assentamentos e a convicção de que, de forma alguma,
poderia romper com uma gestão
que, por mais decepcionante que
seja, não o criminaliza e ainda lhe
proporciona menos burocracia
na assinatura de convênios.
Eleições
Essa sinuca de bico também se
reflete às vésperas das eleições a
presidente. O MST, justamente
para não perder autonomia diante do Planalto, não deverá declarar voto a nenhum dos candidatos, mesmo ciente que a maioria
de sua base vai votar em Lula.
A relação histórica entre PT e
MST ganhou rachaduras desde
que Lula chegou ao Planalto.
Houve troca de acusações públicas, com o movimento denunciando a inflação dos números da
reforma agrária, e o Ministério do
Desenvolvimento Agrário rotulando as críticas de "levianas".
Agora, a orientação nacional do
movimento é intensificar as invasões até meados de junho. No segundo semestre, já está decidido
que as ações ficarão em segundo
plano. O MST sabe que sua base
estará dispersa por conta das eleições. E devido aos custos de recentes manifestações pelo país, o
caixa do movimento está vazio,
tanto que adiou para janeiro seu
congresso marcado para outubro.
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