São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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ELEIÇÕES 2006/ABRIL VERMELHO

Insatisfeito com andamento da reforma agrária e manutenção da política econômica, movimento não deve anunciar apoio à reeleição

MST testa Lula com radicalização verbal

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O anúncio do MST de que investirá em ações urbanas a partir de 2007 é uma forma de ameaça ao governo federal em ano eleitoral. É também um termômetro da insatisfação dos sem-terra com a gestão petista, seja na reforma agrária, seja na manutenção da política econômica ortodoxa.
Sem perspectiva de ver ocorrerem as mudanças desejadas, como a desapropriação em massa de terras e o investimentos em projetos de desenvolvimento sem o pagamento de juros da dívida externa, o MST lança agora a idéia do deslocamento de suas ações do campo para a cidade para aumentar seu poder de barganha, mas também para lhe dar uma maior penetração na sociedade.
A avaliação interna dos sem-terra é que a reforma agrária somente ocorrerá quando a população urbana for convencida de que ela é "urgente e necessária".
Para isso, querem levar às cidades a organização que possuem no campo, principalmente o poder de arregimentar e convencer as pessoas. No momento, principalmente por conta da informalidade no trabalho, enxergam um poder escasso de organização e mobilização dos movimentos e sindicatos urbanos. É justamente das periferias das grandes cidades que saem muitas das famílias que aderem ao MST e engrossam os acampamentos país afora -hoje com cerca de 500 mil pessoas, segundo o movimento.
Os sem-terra avaliam que os brasileiros, em geral, apesar de não serem contrários por princípio à distribuição de terras, condenam as invasões como uma forma de pressão aos governos. Ao deslocar sua atuação para a cidade, o MST tenta reverter o desgaste na sua imagem ante o governo e a população com a invasão a terras produtivas.
Os líderes do movimento querem o fim das concentrações de renda e de terra por meio de uma radical mudança da estrutura de poder do país, hoje, segundo eles, nas mãos de multinacionais. A meta final, porém, continua sendo a reforma agrária.
Com a eleição e o governo de Lula, o principal movimento sem-terra do país entrou em refluxo. Ao mesmo tempo, teve a certeza de que deveria prosseguir invadindo terras para conseguir o mínimo de assentamentos e a convicção de que, de forma alguma, poderia romper com uma gestão que, por mais decepcionante que seja, não o criminaliza e ainda lhe proporciona menos burocracia na assinatura de convênios.

Eleições
Essa sinuca de bico também se reflete às vésperas das eleições a presidente. O MST, justamente para não perder autonomia diante do Planalto, não deverá declarar voto a nenhum dos candidatos, mesmo ciente que a maioria de sua base vai votar em Lula.
A relação histórica entre PT e MST ganhou rachaduras desde que Lula chegou ao Planalto. Houve troca de acusações públicas, com o movimento denunciando a inflação dos números da reforma agrária, e o Ministério do Desenvolvimento Agrário rotulando as críticas de "levianas".
Agora, a orientação nacional do movimento é intensificar as invasões até meados de junho. No segundo semestre, já está decidido que as ações ficarão em segundo plano. O MST sabe que sua base estará dispersa por conta das eleições. E devido aos custos de recentes manifestações pelo país, o caixa do movimento está vazio, tanto que adiou para janeiro seu congresso marcado para outubro.


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