São Paulo, quarta, 22 de abril de 1998

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JANIO DE FREITAS
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O festival de entrevistas e discursos expondo um presidente dedicado às soluções sociais, e não à saúde dos bancos e à privatização a qualquer preço, sofreu apenas breve interrupção sentimental.
Iniciado com entrevistas para a Espanha, preparatórias da visita, entre elas sobressaiu a concedida a "El País", pelo valor de síntese: nela Fernando Henrique diz que está acabando com o estado de mal-estar social. Embora isso torne "a reeleição muito difícil", porque ele é "mais popular entre os pobres do que entre os ricos".
O festival e a sinceridade prosseguiram no Chile. Apesar de uma ou outra de suas inevitáveis gafes, como o "mucho obrigado" encerrador de um discurso. Ou como esta frase que só não é comprometedora porque não é reveladora: "Só há pobreza porque não estamos moralmente comprometidos com o seu combate". Pois é.
Deve-se a uma dessas intervenções, porém, que a Cúpula das Américas incluísse, na declaração final dos presidentes, a proposta brasileira de um compromisso geral de observância aos direitos dos trabalhadores. Proposta muito interessante, sobretudo por partir de um governo que está, como ocupação maior do seu novo ministro do Trabalho, listando os cortes e alterações que deseja na legislação trabalhista. Não se precisa dizer em que sentido.
Mas as atenções para o problema educacional, relacionado às condições de vida atuais e futuras, não faltaram: "A educação é a alavanca para a igualdade e o instrumento mais efetivo para melhorar as condições do nosso povo". É por isso que as universidades perderam entre 6 e 8.000 professores, suas verbas sofrem cortes sobre cortes, um professor universitário ganha menos do que um sargento e um professor de primeiro ganha menos que um cabo da PM.
O festival já recomeça na Espanha.
Grande feito
Pela ofensiva, de múltiplas procedências, para publicação de notas dizendo que fulano ou sicrano é o provável futuro ministro das Comunicações, já se vê que os punhais entraram em ação com rapidez que assinala mais um recorde do atual governo. As velas nem estavam apagadas ainda.
O PFL e o PMDB não só perderam a primazia conquistada, em sucessivas melhorias de velocidade, durante o governo Sarney. Estão até relegados à segunda divisão: as tentativas de homicídio, perdão, a disputa pelo cargo está fechada entre peessedebistas, esses engenheiros e economistas que vieram moralizar a política brasileira. Com uma ética que não é a da responsabilidade.



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