São Paulo, quarta, 22 de abril de 1998

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RELIGIÃO
Igreja Católica constata avanço evangélico e estuda estratégias em sua assembléia, que começa hoje em Itaici
CNBB discute perda de fiéis em encontro

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local

Documento interno da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) revela que a Igreja Católica já tem uma estratégia para conter a perda de fiéis para outras religiões e incentivar uma maior participação de seus leigos no projeto de "Nova Evangelização", lançado pelo papa João Paulo 2º.
O texto, obtido pela Folha, foi enviado para todos os bispos brasileiros e servirá como base para as principais discussões da 36ª Assembléia Geral da CNBB, que começa hoje em Itaici, um distrito de Indaiatuba (110 km de São Paulo).
Com 28 páginas, o documento tem como título o tema central da assembléia: "Missão e Ministério dos Leigos na Perspectiva do Novo Milênio". Nas primeiras páginas, o texto constata a perda de fiéis católicos para outras religiões.
"No Brasil, havendo um grande número de católicos, muitos deles ligados por laços frouxos à comunidade eclesial, é natural que não poucos tenham mudado de religião", diz o documento.
Em seguida, o texto destaca de maneira positiva as diversas formas de organização existentes para os leigos católicos, destacando as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), os grupos de oração e novos movimentos mais ligados à religiosidade, como a RCC (Renovação Carismática Católica).
Apesar de não citar o nome da Renovação, o documento enumeras críticas que são comuns a ela dentro da CNBB: "Sua experiência religiosa é muito emocional; seu engajamento social e político nem sempre é crítico; as lideranças exercem seu papel, às vezes, de forma autoritária".
O texto, pragmático, ressalta que as críticas aos carismáticos devem "ofuscar" os "valores" do movimento, como "o anseio pelo anúncio missionário e a capacidade de atrair e levar à conversão pessoas e categorias que as pastorais sociais não envolvem mais".
A terceira parte do documento enumera as "diretrizes pastorais" para que a igreja atinja seus objetivos em relação aos leigos.
Basicamente, a Igreja Católica se inspira nas igrejas evangélicas na tentativa de ser mais atrativa. O texto pede que a comunidade seja "realmente fraterna" e "acolhedora" para que "um estranho possa nela reconhecer um sinal da presença de Deus".
O documento ainda pede que a comunidade seja "mais semelhante a uma família do que um aparato burocrático" e que sejam afastadas "formas de autoritarismo e mecanismos de exclusão", lembrando que há "frequentes queixas" contra "panelinhas" que exercem um controle demasiadamente rigoroso sobre a participação de novos membros, "afastando-os".
O texto da CNBB ainda recomenda que os católicos tenham mais "cuidado" com o acolhimento daqueles que são diferentes", entre eles, os divorciados ("que vivem em situação canônica irregular") ou que procedem de outras religiões.
A CNBB também deverá divulgar um documento traçando diretrizes éticas para os católicos escolherem seus candidatos nas eleições deste ano. "Devem ser escolhidos candidatos realmente preocupados com os problemas da sociedade e que possam gerar soluções para esses problemas", disse o secretário-geral da CNBB, d. Raymundo Damasceno Assis.
Segundo o bispo, a publicação do documento político é uma praxe da CNBB em anos eleitorais. "A proposta ainda não faz parte da proposta de pauta da reunião, mas deverá ser apresentada."
O cardeal arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, deverá participar da assembléia. A posse de seu sucessor, d. Cláudio Hummes, acontece no dia 23 de maio.



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