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JANIO DE FREITAS
No país das maravilhas
O Brasil está precisando de
algo mais necessário e urgente do que CPI da corrupção,
investigações do Ministério Público e revelações de imprensa:
precisa desesperadamente que
Fernando Henrique Cardoso
deixe por um período, breve
que seja, de ser fracassomaníaco, de insistir em que seu governo não exiba uma só realização
de êxito comprovado e se desmanche em fracassos morais e
administrativos que explodem
na cascata ininterrupta de escândalos.
(O "fim da inflação" foi um
êxito? Pois a inflação não acabou. Se não aparece, é só porque o governo, para isso, aplica
o arrocho, corta programas sociais, corta em gastos gerais
-exceto para comprar parlamentares- e não investe em
realizações como termo e hidrelétricas, transmissoras de energia, saneamento e habitação
popular. Se agir como deve agir
um governo, a inflação reaparece, porque, não se iluda com o
conto da mídia, está só reprimida).
Além dos escândalos novos,
agora ressurgem mais oxigenados os escândalos que adormecidos. Está aí de novo o grampo
do BNDES, aquele episódio em
que o presidente da República
autoriza o então presidente do
BNDES a usar seu nome para
cometer ilegalidades (quase
saía agora a palavra crime) na
privatização das telefônicas. Está aí outra vez a deliciosa história do presente de US$ 1,6 bilhão, limpinho, dado pelo governo ao Marka de Salvatore
Cacciola e ainda aos donos do
FonteCindam. Logo estará aí,
em poucas horas mais, o ministro Pedro Malan outra vez no
Senado, relembrando dona baratinha, o gato de botas, a carochinha.
A ida precipitada e a contragosto de Malan ao Senado, sem
Alice mas com Tereza Grossi,
faz lembrar também de outra
história muito infantil. É a contada sobre o almoço que tiveram com Fernando Henrique,
no dia mesmo em que Cacciola
recebia o presentão, Pedro Malan e Francisco Lopes. Bate-papo de duas para três horas durante o qual, segundo o presidente e o ministro, a doação daquela fortuna pelo Banco Central não foi mencionada nem
de passagem.
Informação ilegal sobre decisões de governo e com propósito
de vantagens, a chamada informação privilegiada, não é caso
único na nova explicação das
relações entre o governo e Salvatore Cacciola. É parte de um
mercado brasileiro, mercado
mais negro do que qualquer outro, e no qual está a explicação
para tantas e tão grandes fortunas feitas em tão pouco tempo,
sempre com alguma relação entre beneficiário e a ocupação
passada de um gabinete na
área financeira do governo.
Poucos têm passado pelo
Banco Central, por exemplo,
sem dali decolar supersonicamente para a fortuna. Mesmo,
porém, que uma investigação
bem intencionada ficasse só na
denúncia atribuída a Cacciola,
e que esconde outras pessoas, já
se tornariam publicamente conhecidos segredos quase inimagináveis. O problema não está
nos segredos, está na viabilidade de investigação bem intencionada.
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