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MILITARES
Multinacional que perdeu licitação questiona projeto de comunicação aérea que será instalado na região Sudeste
Alemães criticam compra da Aeronáutica
DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL
A Aeronáutica está sendo acusada de escolher um sistema de
comunicação inseguro, que pode
levar a acidentes com aviões, para
equipar os principais aeroportos
do país. A acusação é da multinacional alemã Rhode & Schwarz,
derrotada na licitação para reaparelhar o Cindacta-1, sistema que
controla o tráfego aéreo no Sudeste do país.
O projeto questionado pelos
alemães pertence à empresa britânica Park Air Eletronics, que venceu a concorrência pedindo US$
14,6 pelo serviço. A licitação foi
em dezembro do ano passado,
mas o contrato com a Park Air até
hoje não foi assinado.
De acordo com a Rhode &
Schwarz, o projeto vencedor
não [ " atende várias das condições
previstas no edital de licitação. Se
o serviço for executado assim
mesmo, afirmam os alemães, o
tráfego aéreo entre São Paulo, Rio,
Brasília e Belo Horizonte será monitorado por um sistema de comunicação sujeito a falhas.
Mais: a multi alemã diz que a
Park Air só venceu a disputa porque apresentou um preço artificialmente baixo, provavelmente
pensando em virar o jogo e arrancar aumento de verbas durante a
implantação do projeto. "Espero
que eles sejam responsáveis por
qualquer coisa que aconteça", diz
Heitor Vita, presidente da Rohde
& Schwarz no Brasil.
"Eles só querem tumultuar para
reabrir o processo. Por que não
entram na Justiça? É que sabem
que irão perder dinheiro e serão
desmoralizados", diz Roberto
Araújo, da DEPV (Diretoria de
Eletrônica e Proteção ao Vôo) do
comando da Aeronáutica.
Embora o resultado tenha saído
em dezembro, o contrato com a
Park Air não foi assinado até agora. A empresa britânica venceu a
disputa pedindo U$ 14,6 milhões
para executar o serviço. Também
participaram da licitação a Raytheon (EUA) e Marconi (Itália). A
proposta da Rhode & Schwarz foi
de US$ 26,7 milhões. O contrato
prevê a compra e instalação de
800 rádios VHF e 32 estações retransmissão destinados a substituir o atual sistema do Cindacta-1,
que já tem mais de 20 anos de uso.
Na área coberta por esse sistema, trafegam cerca de 60% de todos os aviões e helicópteros que
circulam pelo Brasil. São cerca de
150 mil vôos por mês, ou 1,8 por
ano, um fluxo que tende a ser cada vez maior. De acordo com informações da Aeronáutica, apenas em São Paulo o número de
vôos tem crescido a uma taxa média de 18% ao ano.
A reação da Rhode & Schwarz
quebra uma tradição de silêncio
quando o assunto são contratos
com o setor público, principalmente quando o cliente pertence
às Forças Armadas. Normalmente, quem deseja reverter o resultado atua no anonimato, tentando
desacreditar o ganhador ou o processo de licitação. A multi alemã
veio a público porque acha que
tem argumentos suficientes para
convencer a opinião pública.
O edital de licitação e a proposta
das quatro empresas que disputaram o contrato foram analisados
por técnicos enviados da Alemanha. Eles concluíram que o sistema da Park Air tem falhas graves
porque "as mensagens podem ser
mal entendidas ou mesmo incompreensíveis. Isso pode implicar em ações e reações incorretas
dos operadores e causar acidentes, no pior caso."
Ganhar o contrato do Cindacta-1 vai além do negócio em si. O fornecedor ficará em vantagens para
disputar futuras concorrências
para fazer a manutenção do Cindacta-2, que controla o tráfego aéreo no Sul, e o Cindacta-3, que
monitora o Nordeste.
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