São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2001

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MILITARES

Multinacional que perdeu licitação questiona projeto de comunicação aérea que será instalado na região Sudeste

Alemães criticam compra da Aeronáutica

DAVID FRIEDLANDER
DA REPORTAGEM LOCAL

A Aeronáutica está sendo acusada de escolher um sistema de comunicação inseguro, que pode levar a acidentes com aviões, para equipar os principais aeroportos do país. A acusação é da multinacional alemã Rhode & Schwarz, derrotada na licitação para reaparelhar o Cindacta-1, sistema que controla o tráfego aéreo no Sudeste do país.
O projeto questionado pelos alemães pertence à empresa britânica Park Air Eletronics, que venceu a concorrência pedindo US$ 14,6 pelo serviço. A licitação foi em dezembro do ano passado, mas o contrato com a Park Air até hoje não foi assinado.
De acordo com a Rhode & Schwarz, o projeto vencedor não [ " atende várias das condições previstas no edital de licitação. Se o serviço for executado assim mesmo, afirmam os alemães, o tráfego aéreo entre São Paulo, Rio, Brasília e Belo Horizonte será monitorado por um sistema de comunicação sujeito a falhas.
Mais: a multi alemã diz que a Park Air só venceu a disputa porque apresentou um preço artificialmente baixo, provavelmente pensando em virar o jogo e arrancar aumento de verbas durante a implantação do projeto. "Espero que eles sejam responsáveis por qualquer coisa que aconteça", diz Heitor Vita, presidente da Rohde & Schwarz no Brasil.
"Eles só querem tumultuar para reabrir o processo. Por que não entram na Justiça? É que sabem que irão perder dinheiro e serão desmoralizados", diz Roberto Araújo, da DEPV (Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo) do comando da Aeronáutica.
Embora o resultado tenha saído em dezembro, o contrato com a Park Air não foi assinado até agora. A empresa britânica venceu a disputa pedindo U$ 14,6 milhões para executar o serviço. Também participaram da licitação a Raytheon (EUA) e Marconi (Itália). A proposta da Rhode & Schwarz foi de US$ 26,7 milhões. O contrato prevê a compra e instalação de 800 rádios VHF e 32 estações retransmissão destinados a substituir o atual sistema do Cindacta-1, que já tem mais de 20 anos de uso.
Na área coberta por esse sistema, trafegam cerca de 60% de todos os aviões e helicópteros que circulam pelo Brasil. São cerca de 150 mil vôos por mês, ou 1,8 por ano, um fluxo que tende a ser cada vez maior. De acordo com informações da Aeronáutica, apenas em São Paulo o número de vôos tem crescido a uma taxa média de 18% ao ano.
A reação da Rhode & Schwarz quebra uma tradição de silêncio quando o assunto são contratos com o setor público, principalmente quando o cliente pertence às Forças Armadas. Normalmente, quem deseja reverter o resultado atua no anonimato, tentando desacreditar o ganhador ou o processo de licitação. A multi alemã veio a público porque acha que tem argumentos suficientes para convencer a opinião pública.
O edital de licitação e a proposta das quatro empresas que disputaram o contrato foram analisados por técnicos enviados da Alemanha. Eles concluíram que o sistema da Park Air tem falhas graves porque "as mensagens podem ser mal entendidas ou mesmo incompreensíveis. Isso pode implicar em ações e reações incorretas dos operadores e causar acidentes, no pior caso."
Ganhar o contrato do Cindacta-1 vai além do negócio em si. O fornecedor ficará em vantagens para disputar futuras concorrências para fazer a manutenção do Cindacta-2, que controla o tráfego aéreo no Sul, e o Cindacta-3, que monitora o Nordeste.


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