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POLÍTICA FAMILIAR
28% dos 32 deputados que vão analisar projetos contra a prática tiveram familiares empregados sem concurso
Comissão do nepotismo tem 9 nepotistas
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos 9 dos 32 deputados
federais que vão integrar a comissão especial criada para analisar
os projetos contra o nepotismo tiveram familiares empregados
sem concurso pela Câmara. O favoritismo abrange principalmente mulheres dos parlamentares,
mas há várias relações de parentesco nas nomeações, que pagam
entre R$ 1.697,47 e R$ 5.175,50.
Entre os cinco deputados indicados pelo PMDB há inclusive a
prática de "nepotismo cruzado",
que ocorre quando um contrata o
parente do outro com a aparente
intenção de dificultar a detecção
da ação. Enquanto a mãe do deputado Benjamin Maranhão
(PMDB-PB) prestava serviços no
gabinete de Wilson Santiago
(PMDB-PB), a mulher de Santiago constava na folha de pagamento do gabinete de Maranhão. Ambas ganhavam R$ 5.175,50, o mais
alto salário pago nos gabinetes.
A comissão antinepotismo tem
o objetivo de consolidar os vários
projetos que visam a proibir a
contratação de parentes até o 2º
grau nos Três Poderes. Sua instalação está atrasada há várias semanas, mas pode ocorrer na próxima. Os deputados terão 40 sessões para a discussão.
Hoje, apenas parte do Judiciário
e alguns Estados e municípios
têm restrição ao nepotismo, que é
o favorecimento a parentes na esfera pública. A conta sobre os "nepotistas" da comissão é muito
conservadora, já que inclui apenas os apadrinhamentos na Câmara: não abrange os parentes
dos parlamentares que atuam no
Senado, no Executivo e órgãos
públicos estaduais e municipais.
Há também a possibilidade de
haver outros parentes de deputados com sobrenomes diferentes, o
que escaparia ao levantamento
feito pela Folha nos boletins administrativos da Câmara.
A afirmação geral dos deputados ouvidos é que não há lei hoje
que coíba o nepotismo no Legislativo e que a comissão é a oportunidade para fixar regras claras.
"Essa proibição vai ser uma barreira de defesa para o próprio deputado. Contra a pressão da sociedade [contra o nepotismo] e da
família [para ser contratada], que
é a mais terrível. A pressão da sociedade a gente discute politicamente, a família não aceita discussão política nessa questão", disse
Jackson Barreto (PTB-SE), que
emprega o sobrinho no gabinete e
tem um "parente de uma prima"
na liderança de seu partido.
A discussão sobre nepotismo
voltou à tona depois que a Folha
revelou que familiares do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e de uma série de
outros deputados trabalham em
cargos de confiança na Câmara.
Contribuíram para o acirramento
dos debates declarações de Severino favoráveis ao nepotismo.
Na quarta, o Tribunal de Contas
da União decidiu que o fato de
que mais de uma dezena de familiares de Severino e do corregedor
da Casa, Ciro Nogueira (PP-PI),
terem sido empregados pela Câmara não fere os princípios constitucionais da impessoalidade e
da moralidade na administração.
Devido à dificuldade de haver
deputados sem parentes alojados
no serviço público, a indicação
para a presidência da comissão já
trocou de mãos duas vezes. Manato (PDT-ES) foi o primeiro escolhido por Severino, mas havia
influenciado na contratação da
mulher, em 2003, e hoje contrata a
mulher de um correligionário.
Em seu lugar, Severino indicou
Carlos Willian (PMDB-MG), que
deu emprego a quatro familiares
desde 2003. O deputado renunciou à indicação, e Manato voltou
à presidência. Na relatoria, ficará
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).
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