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"Com Dirceu, o diálogo iria piorar"
DO EDITOR DE OPINIÃO
Leia a seguir continuação da entrevista do senador Cristovam
Buarque (PT-DF).
Folha - O sr. acredita que trocar
Aldo Rebelo por José Dirceu iria
mudar alguma coisa?
Buarque - Eu acho que se trocar
vai ser pior, porque o José Dirceu
não tem bom diálogo. Pelo que eu
ouço no Senado, de pessoas em
posições muito altas, é que essa
troca poderia até quebrar o diálogo. Mas o fundamental não é esse
ou aquele nome, mas a falta de
projeto. A gente veio para para
dar assistência aos mais pobres,
para administrar a economia com
eficiência, para fazer uma política
externa menos dependente, mas
veio também para dobrar uma esquina, acenar noutra direção,
construir um ciclo novo na história do Brasil. O Lula tinha que ser
o primeiro presidente de um novo ciclo. Tinha que ser, mas não
está sendo.
Folha - Até que ponto as divergências entre o PT e o governo prejudicam?
Buarque - O PT é para ser permanente, o governo é outra coisa.
Foi por isso que eu defendi sempre que o PT deve que fazer parte
do governo, mas entender que o
governo é de coalizão. Mas essa
coalizão tem que ter um objetivo.
Não é só a coalizão em troca de
cargos e de emendas de parlamentares. Quem entrar no governo pelo PTB tem que saber que está entrando para botar as crianças
em boas escolas e para melhorar a
distribuição da renda.
Folha - Mas muitos se queixam de
que o governo não sabe se comportar como coalizão.
Buarque - Realmente, o que explica certos erros é que a equipe
que dirige o governo, incluindo o
Lula, trata os partidos da base de
apoio como o presidente do PT
trata as tendências do PT. O grande êxito e o grande mérito do Lula, que foi fazer esse partido crescer durante 20 anos, estiveram ligados ao fato de ele se comportar
como o centro de uma esfera. O
Lula nunca foi um líder de se colocar na frente do PT. Ele ouvia e dizia o que o PT queria ouvir. Mas
agora ele é o centro de uma reta
que vai da direita à esquerda, o
que não é a mesma coisa.
Folha - O sr. é a favor da política
econômica, mas ao mesmo tempo
parece ter consciência de seus limites. Não há nada a mudar?
Buarque - Eu defendo a política
econômica do governo, mas acho
que o PT tem obrigação de começar a pensar alternativas.
Folha - O sr. não acha que essa política já se esgotou?
Buarque - Ela tende a se esgotar,
mas hoje qualquer outra seria arriscada. É preciso, primeiro, construir intelectualmente uma alternativa. E isso não é tarefa do governo. O governo não é lugar de
intelectual, é lugar de pessoas
pragmáticas. É tarefa do partido.
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