São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Com Dirceu, o diálogo iria piorar"

DO EDITOR DE OPINIÃO

Leia a seguir continuação da entrevista do senador Cristovam Buarque (PT-DF).
 

Folha - O sr. acredita que trocar Aldo Rebelo por José Dirceu iria mudar alguma coisa?
Buarque
- Eu acho que se trocar vai ser pior, porque o José Dirceu não tem bom diálogo. Pelo que eu ouço no Senado, de pessoas em posições muito altas, é que essa troca poderia até quebrar o diálogo. Mas o fundamental não é esse ou aquele nome, mas a falta de projeto. A gente veio para para dar assistência aos mais pobres, para administrar a economia com eficiência, para fazer uma política externa menos dependente, mas veio também para dobrar uma esquina, acenar noutra direção, construir um ciclo novo na história do Brasil. O Lula tinha que ser o primeiro presidente de um novo ciclo. Tinha que ser, mas não está sendo.

Folha - Até que ponto as divergências entre o PT e o governo prejudicam?
Buarque
- O PT é para ser permanente, o governo é outra coisa. Foi por isso que eu defendi sempre que o PT deve que fazer parte do governo, mas entender que o governo é de coalizão. Mas essa coalizão tem que ter um objetivo. Não é só a coalizão em troca de cargos e de emendas de parlamentares. Quem entrar no governo pelo PTB tem que saber que está entrando para botar as crianças em boas escolas e para melhorar a distribuição da renda.

Folha - Mas muitos se queixam de que o governo não sabe se comportar como coalizão.
Buarque
- Realmente, o que explica certos erros é que a equipe que dirige o governo, incluindo o Lula, trata os partidos da base de apoio como o presidente do PT trata as tendências do PT. O grande êxito e o grande mérito do Lula, que foi fazer esse partido crescer durante 20 anos, estiveram ligados ao fato de ele se comportar como o centro de uma esfera. O Lula nunca foi um líder de se colocar na frente do PT. Ele ouvia e dizia o que o PT queria ouvir. Mas agora ele é o centro de uma reta que vai da direita à esquerda, o que não é a mesma coisa.

Folha - O sr. é a favor da política econômica, mas ao mesmo tempo parece ter consciência de seus limites. Não há nada a mudar?
Buarque
- Eu defendo a política econômica do governo, mas acho que o PT tem obrigação de começar a pensar alternativas.

Folha - O sr. não acha que essa política já se esgotou?
Buarque
- Ela tende a se esgotar, mas hoje qualquer outra seria arriscada. É preciso, primeiro, construir intelectualmente uma alternativa. E isso não é tarefa do governo. O governo não é lugar de intelectual, é lugar de pessoas pragmáticas. É tarefa do partido.


Texto Anterior: Governo sob pressão: Planalto sem projeto vende a alma pelo poder, diz Cristovam
Próximo Texto: Política familiar: Comissão do nepotismo tem 9 nepotistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.