São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ GUERRA DAS TELES

Heráclito Fortes nega ter havido acordo entre o banqueiro e Thomaz Bastos em sua casa

Segundo pefelista, dono do Opportunity voltou a dizer, em reunião com ministro, não ter divulgado relação de supostas contas de petistas


Senador afirma que, para governo, Dantas vazou lista

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um encontro na terça-feira passada, o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) informou ao banqueiro Daniel Dantas que levaria a Lula suas explicações de que não teria participado da divulgação da lista de supostas contas de petistas no exterior. Disse porém que o governo o considera o responsável pelo vazamento à revista "Veja" dos documentos. O relato foi feito à Folha pelo senador Heráclito Fortes (PFL-PI), que cedeu sua casa em Brasília para que os dois pudessem conversar. De acordo com a "Veja", eles teriam selado um acordo para que a Polícia Federal não investigasse o banqueiro. Como contrapartida, Dantas não vazaria informações contra o governo. O senador negou que tivesse havido acordo e disse que o ministro teria afirmado que as investigações da PF continuariam. Identificado com o Opportunity (já defendeu o banco na CPI dos Correios e usou diversas vezes jatinhos controlados pelo grupo), o senador se contradisse sobre quem teria marcado o encontro entre Dantas e o ministro. Primeiro deu a entender que ele próprio havia feito o contato com Thomaz Bastos; depois negou. Ele contou que encomendou comida a um restaurante árabe e que um dos assuntos foi futebol.
 

Folha - O senhor presenciou a conversa entre os dois?
Heráclito Fortes -
Algumas partes não. Causou-me surpresa uma coisa que o ministro disse [a Dantas]: "Olha, quero confessar que o governo acha que você é o culpado". Só que acho que o governo que acha é o [Luiz] Gushiken [chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos], porque essa briga deixou de ser uma briga de governo para ser uma briga pessoal. É uma briga do Gushiken, que defende os fundos de pensão, contra o Daniel, que se sente agredido pelos fundos de pensão. O Daniel disse: "Olha, ministro, eu fui tão surpreendido [pela reportagem da "Veja'] como o senhor", e entregou uma carta a ele. Foi uma coisa muito "light". Compreendo a posição do cara acuado. O Daniel como empresário acuado e o ministro sendo cobrado pelo governo. Não houve acordo, o ministro disse que iria comunicar o fato ao presidente.

Folha - Por que o encontro foi na casa do senhor?
Heráclito -
Tenho um amigo, que é o Carlos Rodenburg [ex-sócio do Opportunity], que me ligou e perguntou se haveria algum inconveniente de haver um encontro aqui em casa entre o ministro e o Daniel. Querem me jogar como procurador do Daniel, o que não sou. Estive com o Daniel, na verdade, antes do episódio da CPI, umas três vezes. Depois, quatro ou cinco vezes. A sexta foi aqui em casa.

Folha - O sr. não teme ser considerado defensor do Opportunity?
Heráclito -
Não me preocupo. Prefiro ser caracterizado como defensor do Opportunity a defensor do Waldomiro [Diniz, ex-assessor de José Dirceu].

Folha - O pedido do Rodenburg foi na segunda-feira?
Heráclito -
A primeira conversa era para eu falar com o ministro. Eu fiquei... Converso com qualquer um. Até porque sou presidente de uma comissão do Senado que me obriga a conversar com setores do governo.

Folha - Foi o Rodenburg que pediu para fazer o contato com o ministro?
Heráclito -
Não, não, não, eu não fiz, não, nunca liguei.

Folha - Não foi o senhor quem convidou o ministro para ir à sua casa encontrar o Daniel Dantas?
Heráclito -
Recebi o ministro com a maior alegria na minha casa.

Folha - Mas não foi o senhor que o convidou?
Heráclito -
Recebi o ministro com a maior alegria na minha casa.


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