São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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JANIO DE FREITAS

Criação de avestruzes

A Operação Navalha vem da fase de Thomaz Bastos, como outras; mas o Ministério da Justiça já não parece o mesmo

A REAÇÃO que mais se amplia, diante das operações da Polícia Federal, é a da repugnância concentrada em frases do tipo "não dá mais, essa política está uma indecência, é preciso fazer alguma coisa para acabar com isso". Mal se distingue se a repulsa é por efeito da corrupção revelada ou da revelação que transgride o comodismo inconfesso. O que se vê é, afinal, alguém "fazer alguma coisa". A reação quase generalizada sugere certa simpatia pela sugestão atribuída aos avestruzes.
Vai nessa linha a apreciação do ministro da Justiça, Tarso Genro, que se parece com um pedido de adesão geral aos avestruzes. Recomenda-nos ele observar que, nas revelações da PF, "uma coisa são hábitos políticos condenáveis, como liberação de emendas, relação parlamentar com empreiteiro, que pode ser mau costume político. Outra coisa são crimes como manipulação de editais".
Liberação de emendas não são, por si, ato condenável, mas ato normal desde que há emendas de parlamentares ao Orçamento. Tarso Genro, já se aproximando da adesão zoológica, escamoteia o sentido do que diz pela metade: refere-se, isso sim, a emendas e liberação decorrentes de "relação parlamentar com empreiteiro", e tal "relação", em português à luz do dia, deve ser chamada, no mínimo, de conluio para fins ilícitos.
No sentido mais amplo de suas considerações, o que Tarso Genro procura é descaracterizar como crime a venda por parlamentares, a empreiteiros, de inclusão no Orçamento de determinadas obras, e, depois, a liberação da verba respectiva pelo governo. Quando liberada, parte dessa verba é dinheiro público que se desvia para o patrimônio do parlamentar, por intermédio da empreiteira; outra parte vai constituir o superpreço, que, robustecido ainda pelos reajustes, explica a rapidez com que empreiteiras de obras públicas tornam-se potências financeiras, logo estendendo seus domínios à petroquímica, à mineração, bancos, transportes, aqui e no exterior.
A Operação Navalha vem da fase de Márcio Thomaz Bastos, como várias outras ainda por aparecer. Mas o Ministério da Justiça já não parece o mesmo.

Os apagadores
A balbúrdia que antecedeu a criação da CPI do Apagão na Câmara, e invadiu suas primeiras exibições, faz supor que há choques de aviões com freqüência, e caem uns atrás dos outros por falhas do controle aéreo. A prestar algum serviço, caso o PT e seus aliados sabotem um pouco menos os trabalhos, seria uma finalidade útil da CPI se levantasse as causas maiores de acidentes. Tanto para confirmar a segurança de vôo, que está desacreditada por acidente aéreo e muitas trapalhadas que são administrativas, como para a cobrança de correções, quase sempre necessárias na acidentada aviação de pequeno porte.

Artilheiros
Mil gols de Romário. Pois é, como chutam os jornalistas.


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