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JANIO DE FREITAS
Prêmio à falsificação
Uma frase do governador
Mário Covas foi suficiente
para que o Plano Nacional de
Segurança fosse modificado, às
pressas, em uma de suas medidas mais decididas e características - a exigência de que os
governadores, para ter direito a
verbas do Fundo de Segurança,
reduzissem a criminalidade em
pelo menos 10%, nos respectivos
Estados.
O comentário de Covas: "Se o
governo federal diminuísse em
10% o desemprego, a gente conseguiria (diminuir os crimes em
10%)". A condição da queda,
para fazer jus à verba, ficou no
plano, mas os 10% sumiram.
Nisso há duas evidências importantes.
O sumiço dos 10% entre a véspera e a apresentação do plano,
anteontem, indica o nível de seriedade com que tal condição,
de enorme importância para os
Estados e seus habitantes, foi introduzida no plano. Daí para os
milhões e bilhões abundantes,
não há por que se imaginar que
houvesse menos chute e mais seriedade.
Os tecnocratas do governo
-tipo Pedro Parente, um dos
integrantes do grupo de autores
do plano- estão dominados
pela monomania de limites percentuais. Se o prefeito e o governador não cortarem x nisso, não
recebem o y a que teriam direito. As peculiaridades de cada
Estado são ignoradas, como se o
Acre fosse igual ao Paraná -o
que acontece, de fato, na cabeça
dos tecnocratas.
Como a tecnocracia é uma
forma de ignorância inespecífica, com abrangência sobre todas as possibilidades do raciocínio, os tecnocratas planaltinos
retiraram os 10% apenas para
não levar outro trompaço de
Mário Covas. Não perceberam o
sentido acusatório do comentário. E continuaram sem perceber o estímulo danoso da exigência, com ou sem percentual
definido.
A Folha constatou há alguns
anos, quando São Paulo estava
governado pelo PMDB, que as
estatísticas oficiais paulistas só
incluíam metade das ocorrências de que a polícia paulista tivera conhecimento. É isso mesmo que vai acontecer, em vários
Estados, se as verbas dependerem de estatísticas sorridentes
porque inverificáveis.
Isso, supondo-se que venham
a existir os milhões e bilhões do
plano, recebidos com descrença,
quando não com escárnio, pela
quase totalidade dos comentários sobre o novo balão tecnocrático do governo.
Genéricos, sempre
O Laboratório Teuto Brasileiro queixa-se de que já estavam
reduzidos os preços dos seus dois
medicamentos genéricos, cujos
preços superiores aos dos remédios de marca foram aqui comentados. A nota não tratou da
vigência, mas dos preços injustificáveis. E isso o Laboratório
Teuto confirma em sua carta:
"(...) embora os preços divulgados anteriormente fossem maiores do que os produtos de marca".
A carta atribui os preços elevados a que "a empresa não estava conseguindo comprar no
mercado externo o princípio ativo por um preço competitivo".
Nesse caso, a compra negará a
finalidade do medicamento genérico, que é proporcionar ao
consumidor preços mais baratos
30%, 40% e até mais, em relação aos remédios com nome comercial.
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