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Entidades favoráveis à paralisação de 8 de julho são na maioria filiadas à central, cujo presidente é contra o movimento
Greve de servidores ameaça rachar a CUT
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A greve dos funcionários públicos federais, convocada para 8 de
julho, ameaça implodir a maior
central sindical do país, a CUT, e
já começou por dividir a Cnesf
(Coordenação Nacional das Entidades de Servidores Federais), entidade responsável pelo comando
do movimento que defende a retirada da proposta de reforma da
Previdência enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao
Congresso.
Com a Andes (entidade que representa os professores universitários) à frente, a coordenação
reúne 11 das entidades de funcionários públicos e representaria,
teoricamente, cerca de 800 mil
servidores da União. Três dessas
entidades -inclusive a mais numerosa, a CNTSS, dos trabalhadores em Seguridade Social- estão contra a greve. A confederação é a entidade da Cnesf com o
maior número de ex-dirigentes
com cargos no governo Lula.
"Não vamos entrar numa greve
nefelibata [que vive nas nuvens].
A greve do dia 8 foi desvirtuada e
perdeu o sentido", diz o presidente do Sindilegis, Ezequiel Nascimento, porta-voz dos "dissidentes". Ele acredita que a proposta
de greve como foi formulada tem
mais objetivos políticos de marcar posição contra o governo Lula
do que chances de sucesso.
"Somos contra o fim da aposentadoria integral, o fim da paridade
de vencimentos entre ativos e inativos e contra os fundos de pensão, mas não há como imaginar
que Lula possa retirar a reforma
do Congresso", argumenta. A alternativa, segundo ele, seria negociar mudanças no projeto do governo, a começar pelo cálculo das
aposentadorias.
Sem os servidores do Poder Legislativo, os trabalhadores das
universidades e em Seguridade
Social, a greve teria o apoio dos
professores universitários, servidores do Judiciário e fiscais. Detalhe: julho, mês da greve, é também época de recesso dos juízes e
de férias nas universidades.
O comando do movimento fala
em repetir "a grande greve" de
2001, promovida pela mesma
Cnesf. Na época, a greve geral dos
servidores por aumento salarial
fracassou logo no primeiro dia.
Somente os professores universitários levaram à paralisação
adiante por outros 98 dias. Parte
das concessões feitas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso só agora começam a sair do
papel; o calendário escolar ainda
não voltou ao normal.
A proposta votada em assembléia no último dia 14 é de greve
por tempo indeterminado. Em
carta aos parlamentares, a Cnesf
insiste em que não há déficit nas
contas da Previdência e diz que a
"perniciosa" PEC 40, como é chamada a proposta de emenda
constitucional, visa privatizar o
sistema de aposentadorias ao gosto do mercado e do FMI.
PSTU
A convocação da greve ganhou
destaque durante a semana no site do PSTU, o Partido Socialista
dos Trabalhadores Unificado, que
lançou José Maria à disputa pelo
Planalto no ano passado e agora
aposta em atrair os petistas descontentes para crescer e virar referência de esquerda no Brasil.
"Essa reforma é um divisor de
águas. Não é possível seguir fiel à
nossa classe por dentro do PT, vide os parlamentares ameaçados
de expulsão por se contraporem à
reforma. Para ficar no PT é preciso abandonar os trabalhadores e
colocar-se ao lado dos banqueiros
e do acordo com o FMI", diz editorial do PSTU, que tem alguma
influência no comando de greve.
A Cnesf não tem diretores fixos.
Os representantes das entidades
se revezam em sistema de rodízio.
Na avaliação dos atuais membros
da coordenação, a maioria da cúpula das entidades é integrada por
petistas, mas não daqueles ligados
à Articulação, tendência majoritária da qual fazem parte muitos
integrantes do governo.
"Entre 70% e 80% são petistas,
os demais são do PSTU, do PC do
B ou independentes", calcula
Marcos Raposo, atual representante da Fenajufe (trabalhadores
do Judiciário) na Cnesf.
Os petistas do movimento têm
um discurso pronto para o descompasso: "Não é o PT, é a cúpula
do PT que tem se manifestado assim, quem rompeu com os trabalhadores foi o governo", diz Gilberto Gomes, da Condsef (Confederação dos Trabalhadores do
Serviço Público Federal).
"Desdobramentos políticos"
A Cnesf também passou a investir num racha da CUT -em parte, na tentativa de forçar o apoio
da central à greve dos servidores
do mês que vem.
"Têm havido ruídos, se a direção da CUT mantiver a posição
contrária à greve, haverá desdobramentos políticos que não sabemos dizer exatamente quais serão", avalia Antônio Luís de Andrade, representante da Andes. O
endereço eletrônico do sindicato
dos docentes informa que "uma
cisão não está descartada".
Assim como a maioria dos servidores-sindicalistas é petista, a
maioria das entidades reunidas
na Cnesf é filiada à CUT. O problema é que o presidente da entidade, Luiz Marinho, se opõe à
greve. A central tampouco endossa todas as reivindicações dos servidores públicos.
O racha da CUT, se ocorrer, pode tirar da maior central do país
uma de suas grandes fontes de receita, "pelo menos 60%", segundo
o cálculo de Ezequiel Nascimento,
do Sindilegis.
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