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Assembléia de MT põe R$ 65 mi em empresa de Arcanjo
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Empresas de factoring de João
Arcanjo Ribeiro, 52, chefe de uma
das maiores quadrilhas criminosas sob investigação no Brasil, receberam R$ 65,2 milhões da Assembléia Legislativa de Mato
Grosso e R$ 5,4 milhões da Prefeitura de João Pessoa (PB), segundo
relatório do Banco Central.
Os repasses ocorreram entre
1998 e 2002 e foram descobertos
graças à quebra do sigilo bancário
das empresas de Arcanjo Ribeiro.
Os dados constam de processo
que apura, entre outros crimes,
lavagem de dinheiro.
Uma empresa de factoring opera "comprando" cheques pré-datados. Em troca de comissões, antecipa o dinheiro aos comerciantes e mantém os cheques em carteira até a data do desconto.
Sustentada pelo contribuinte
mato-grossense, a Assembléia Legislativa só recebe cheques do governo de Mato Grosso. Os R$ 65,2
milhões entregues à firma de factoring correspondem a 22% do
dinheiro repassado pelo Estado
no mesmo período: cerca de R$
300 milhões. O Ministério Público
busca explicações.
Responsável pelo caso, o juiz da
1ª Vara Federal de Mato Grosso,
Julier Sebastião da Silva, convocou para depor o atual presidente
da Assembléia, José Geraldo Riva,
e o antecessor dele, Humberto de
Melo Bosaipo. Os dois deputados
estaduais estão sem partido. O
primeiro foi eleito pelo PSDB. O
segundo, pelo PL.
O Ministério Público arrolou
Riva e Bosaipo como testemunhas. Na condição de deputados,
os dois puderam escolher a data e
hora do depoimento: 20 de junho,
às 14h. Não compareceram.
À véspera do feriado de Corpus
Christi, Riva e Bosaipo enviaram
ao juiz um ofício em que afirmam
que só poderão depor em 25 de
agosto. O juiz não parece disposto
a esperar. Deferindo um pedido
do Ministério Público, determinou à PF que encontre os dois deputados e os conduza à sua presença. Preventivamente, remarcou para a próxima sexta, às 9h, o
depoimento dos deputados.
O último depósito da Assembléia em favor da Confiança Factoring (R$ 77.500) foi feito em 3
de dezembro de 2002. Dois dias
antes, a PF realizara operação de
busca e apreensão de computadores e documentos nas empresas e
nas casas de integrantes da quadrilha de Arcanjo, conhecido no
Estado como "comendador".
Entre os papéis recolhidos pela
PF na firma de factoring estavam
22 notas promissórias. Traziam a
assinatura dos mesmos deputados Riva e Bosaipo. Somavam R$
15,4 milhões. A primeira promissória é de fevereiro de 1999. A última, de dezembro de 2000.
Apreenderam-se também três
cheques da Assembléia de Mato
Grosso. Somavam R$ 1,04 milhão
-R$ 348 mil cada.
Em discurso que fez na Assembléia, em 9 de dezembro de 2002,
o deputado Bosaipo afirmou:
"Sou amigo pessoal do comendador e o nosso time de futebol já jogou partidas em sua chácara várias vezes. Agora que ele caiu em
desgraça, não vou fugir da raia."
No mesmo dia, o deputado Riva
disse que, quando assumira a mesa diretora da Assembléia, a Casa
acumulava dívidas de R$ 40 milhões. "Essas notas [promissórias] foram um compromisso
pessoal meu e do Bosaipo", disse.
A Confiança Factoring foi fundada em 1994. Pertence ao comendador e à mulher dele, Silvia
Chirata Arcanjo Ribeiro. Em dezembro de 2000, os dois "venderam" a empresa para uma firma
com sede no Uruguai, a Lyman, e
para uma pessoa física chamada
Edson Marques de Freitas. Ao investigar a venda, a PF descobriu
que tratou-se de operação fictícia.
Ex-policial civil, Arcanjo Ribeiro amealhou uma das maiores
fortunas de Mato Grosso. Daí o
apelido de comendador.
Relatório da Receita informa
que os auditores detectaram movimentação de R$ 1 bilhão nas
contas bancárias do comendador
e de suas empresas entre 1997 e
2001. Chegou-se a esse valor a
partir do cruzamento de dados
relativos à CPMF, o imposto do
cheque. Possui negócios em Mato
Grosso, no Distrito Federal, no
Uruguai e nos Estados Unidos.
Preso em Montevidéu, no dia 10
de abril, depois de quatro meses
foragido, Arcanjo Ribeiro responde a inquéritos por lavagem de dinheiro, exploração de jogo ilegal e
tráfico de armas.
Responde também à acusação
de ter encomendado o assassinato
de Sávio Brandão, dono do jornal
"Folha do Estado", ocorrido em
30 de setembro do ano passado. O
jornal referia-se a ele como "Al
Capone de Mato Grosso".
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