São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perdemos referência importante, diz Lula

Achutti Photon
Leonel Brizola e o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, durante comício pelas eleições diretas, realizado em Porto Alegre, em 84


Presidente afirma que admirava personalidade política representada por Brizola, que havia rompido com governo em 2003

DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que, apesar das divergências, "lamenta profundamente" a morte do ex-governador do Rio de Janeiro e presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, 82. Lula terminava um jantar com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, quando foi avisado da morte do pedetista.
Para Lula, o país perde referência importante de sua história. "Eu acho que ele foi um personagem de nossa história durante mais de meio século. Acho que ele é uma figura de muita importância política para o Brasil. E acho que nós perdemos. Perdemos uma referência importante da nossa política", afirmou.
Brizola apoiou Lula no segundo turno das eleições presidenciais de 2002, mas rompeu com o governo no final do ano passado. Em 1998, o pedetista foi o vice na chapa de Lula à Presidência.
"Obviamente, eu lamento profundamente a morte de uma personalidade política como a do governador Brizola. Todo mundo sabe que, mesmo nos momentos de divergência, eu sempre nutri um profundo respeito e admiração pela história política do Brizola", afirmou o presidente.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse estar "chocado" com a morte.
"Eu, pessoalmente, fico muito chocado, porque a minha geração viveu várias tentativas de golpe de Estado, e algumas acabaram dando certo, infelizmente. Eu era muito jovem e me lembro da "cadeia da legalidade" que o Brizola comandou." E concluiu: "Para mim, [Brizola] é uma pessoa que sempre esteve em defesa da ordem democrática no momento em que ela foi ameaçada".

História
A ruptura do PDT com o governo Lula se deu no final do ano passado. À época, Brizola alegou que a decisão da saída da base aconteceu depois de uma análise do primeiro ano do governo, na qual se chegou à conclusão de que Lula repete Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
O líder pedetista intimou os filiados do partido a deixar o governo, sob pena de desligamento. O ex-ministro Miro Teixeira, então na pasta das Comunicações, preferiu sair do PDT. Na oposição, Brizola foi a favor da CPI dos Bingos, requerida em razão do caso Waldomiro Diniz.
Em maio último, o ex-governador foi citado na reportagem do "New York Times" segundo a qual o "hábito de bebericar" do presidente Lula era uma "preocupação nacional" no Brasil. "Quando eu fui candidato a vice-presidente de Lula, ele bebia muito", diz Brizola na reportagem.
Em um de seus últimos artigos, escrito antes da primeira votação da medida provisória do salário mínimo na Câmara e publicado no site do PDT, o pedetista criticou as "desculpas esfarrapadas" que, segundo ele, eram usadas pelo governo para defender o mínimo de R$ 260: "As desculpas esfarrapadas têm um conteúdo de crueldade e cinismo que fica a dever à infame época da ditadura".


Texto Anterior: Herdeiro político de Vargas, pedetista encampou múltis
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.