São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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Herdeiro político de Vargas, pedetista encampou múltis

DA REDAÇÃO

Leonel de Moura Brizola foi um dos principais líderes nacionalistas do país. Herdeiro político de Getúlio Vargas e de João Goulart, defendia o apoio do Estado aos produtores nacionais e restrições à atuação do capital estrangeiro.
Quando governou o Rio Grande do Sul, encampou as subsidiárias de duas multinacionais: a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense, filial da Amforp, em 1959, e a Companhia Telefônica Rio-Grandense, da ITT, em 1962.
Criou a Caixa Econômica Estadual e adquiriu o controle acionário do Banco do Rio Grande do Sul, usando essas instituições para financiar fazendeiros e industriais do Estado. Construiu termelétricas e rodovias ligando as regiões agrícolas aos portos de Porto Alegre e Rio Grande. Criou a Aços Finos Piratini e pressionou o governo federal a instalar uma refinaria de petróleo no Estado.
Filho de camponeses pobres, defendeu uma reforma agrária radical e apoiou o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master). Alfabetizado por sua mãe, destacou-se por suas iniciativas na educação: construiu 6.302 estabelecimentos de ensino no governo gaúcho; no Estado do Rio, implantou os Cieps (Centros Integrados de Educação Pública).
Leonel de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922 no povoado de Cruzinha, que pertenceu a Passo Fundo (RS) até 1931, quando passou à jurisdição de Carazinho (RS). Seu pai, José de Oliveira Brizola, morreu na Revolução Federalista de 1923, combatendo os republicanos.
Fez o primário em Passo Fundo e um curso técnico em Viamão. Exerceu trabalhos manuais em Gravataí e Porto Alegre. Para continuar os estudos, fez o supletivo na capital gaúcha. Em 1945, começou a cursar engenharia civil na Universidade do Rio Grande do Sul, formando-se em 1949.
Simpatizante do presidente Getúlio Vargas, ingressou no PTB em 1945 e, em 1947, foi eleito deputado estadual. Em março de 1950, Brizola casou-se com Neuza Goulart, irmã do deputado João Goulart, tendo Getúlio Vargas como padrinho de casamento.
Candidatou-se a prefeito de Porto Alegre em 1951, mas foi derrotado. Eleito deputado federal em 1954, no ano seguinte foi eleito prefeito da capital gaúcha. Em outubro de 1958, foi escolhido governador do Estado com mais de 55% dos votos -em aliança com o PRP, de Plínio Salgado. Tomou posse no ano seguinte. Quando o presidente Jânio Quadros renunciou, em 25 de agosto de 1961, os ministros militares tentaram vetar a posse de Jango, então no exterior. Brizola liderou a campanha da legalidade, em defesa do vice. O Congresso acabou aprovando às pressas emenda que instituiu o parlamentarismo, para permitir a posse de Goulart.
Em 1962, Brizola foi eleito deputado federal com votação recorde (269 mil votos). Na Câmara, passou a liderar a ala radical do PTB, que defendia a implantação da reforma agrária, enquanto preparava sua candidatura à Presidência, em 1965. Em 1964, Goulart foi deposto por militares. Brizola teve de se exilar no Uruguai, onde articulou tentativas de insurreição armada. Expulso do país em 1977, refugiou-se nos EUA e em Portugal. Voltou ao país em 1979, após a aprovação da Lei da Anistia.
Tentou recriar o PTB, mas perdeu a sigla para o grupo liderado por Ivete Vargas, em 1980. Criou o PDT, pelo qual foi eleito governador do Rio em 1982. Tomou posse em 1983. Sua gestão foi marcada pela implantação dos Cieps. Inicialmente defendeu a prorrogação do mandato do general João Baptista Figueiredo por dois anos, mas em 1984 passou a apoiar a campanha pelas diretas-já. Em 1989, disputou a Presidência, ficando em terceiro lugar. Em 1990, voltou a ser eleito governador do Rio. Fez um acordo político com o presidente Fernando Collor. Por isso, demorou a aderir à campanha pelo impeachment, em 1992.
Voltou a disputar a Presidência em 1994, mas teve apenas 3,2% dos votos. Em 1998, candidatou-se a vice na chapa de Lula. Em 2000, disputou a Prefeitura do Rio, mas obteve apenas 9,1% dos votos. Foi sua última campanha.


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