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Legalidade da greve
divide especialistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Contrariamente à interpretação
feita pelo presidente do Supremo
Tribunal Federal (STF), Maurício
Corrêa, o advogado Ives Gandra
Martins diz que a adesão de juízes
à greve geral convocada pelo funcionalismo contra a reforma da
Previdência é constitucional.
O ministro Maurício Corrêa,
que ainda acredita na negociação
com a Câmara, havia dito anteontem que a greve seria inconstitucional e fez um apelo aos magistrados para que não aderissem à
paralisação do funcionalismo.
"Como presidente do Supremo e
magistrado não posso conceber
que a magistratura faça greve",
afirmou o ministro.
Celso Antônio Bandeira de Mello, especialista em direito constitucional, concorda com a constitucionalidade. Por outro lado,
Márcio Pestana, também especialista na matéria, afirma ser inconstitucional uma greve de magistrados e chega a falar em "mácula" para o país.
Magistrados decidiram ontem
fazer uma paralisação entre os
dias 5 e 12 de agosto.
De acordo com Gandra Martins, a Constituição afirma que somente os militares estão proibidos de fazer greve.
Entre os artigos sobre a magistratura, explica o advogado, nenhum proíbe a paralisação, e os
juízes estariam incluídos ainda na
categoria dos servidores públicos,
a quem é expressamente concedido o direito de greve.
O advogado diz, no entanto,
acreditar que "este não é o caminho". "Sou favorável a se discutir
amplamente. É um dos três Poderes. Vamos supor que o Poder
Executivo fizesse greve. Isso traria
um problema muito sério", afirmou Gandra Martins.
Em caso de prejuízos, a União
seria responsabilizada. "Se a greve
gerar prejuízos [para quem dependa de uma sentença], o cidadão tem o direito de entrar com
uma ação de indenização contra a
União", declara o advogado.
Bandeira de Mello concorda
com a constitucionalidade da greve, embora diga que uma paralisação do Judiciário traz consigo
"restrições inerentes". "Não podem parar de maneira total, a
ponto de poderem trazer prejuízos irreparáveis a quem depende
de decisões do Judiciário", declara o advogado constitucionalista.
Credibilidade externa
Já para Márcio Pestana, "é inconcebível, em um Estado de direito, que os magistrados entrem
em greve". A explicação para isso,
segundo o especialista, é que os
juízes "são a representação máxima de um dos Poderes".
Além desse ponto, continua o
advogado, não há de fato "nenhum ferimento de direito".
"A reforma previdenciária ainda é um projeto, que está onde deve estar: sendo discutido pela sociedade e pelo Congresso Nacional", afirmou.
Uma atitude como esta, afirma,
trará "prejuízos imensos ao país".
Entre os problemas está inclusa a
credibilidade externa: "Imagine
um investidor no exterior vendo
esse tipo de movimento. Isso macula o próprio país".
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