São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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INVESTIGAÇÃO

Análise foi feita pela PF na contabilidade de Toninho da Barcelona; superintendente em SP comprou US$ 134,6 mil

Doleiro movimenta US$ 2,6 mi com policiais

ANDRÉA MICHAEL
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise preliminar da inteligência da Polícia Federal sobre parte da contabilidade de Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, sugere que ao menos 12 policiais foram clientes do doleiro entre 1997 e 2003, com movimento de US$ 2,59 milhão.
O superintendente da PF em São Paulo, delegado Francisco Baltazar da Silva, está no grupo de policiais. Entre 1997 e 2002, comprou US$ 134,6 mil. As movimentações mais expressivas, porém, são atribuídas aos agentes Ricardo Branco, que comprou US$ 572,74 mil e vendeu US$ 291,41 mil, e Jonson Lara Júnior, que adquiriu US$ 356,45 mil e vendeu US$ 38,28 mil, segundo o relatório da equipe de inteligência.
O documento da PF foi encaminhado à 6ª Vara da Justiça Federal, em São Paulo, na qual tramita ação penal contra Barcelona.
A equipe de inteligência teve como ponto de partida uma denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal em março do ano passado, na qual o doleiro é acusado de crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro.
Ao propor a ação penal, os procuradores fazem referência a cinco delegados e quatro agentes da Polícia Federal que teriam negócios com Barcelona. Esse foi o primeiro grupo a ser rastreado.
Outra parte da análise, que teve como matéria-prima 18 arquivos gravados em três discos rígidos de computador em um programa batizado de Bater, utilizou 11 palavras-chaves. Entre elas, estão PF, Polícia Federal, delegado, advogado, procurador, desembargador e Tribunal de Justiça. Com esse filtro, a equipe de inteligência chegou aos outros clientes do doleiro.
Além dos policiais federais, no conjunto analisado de 21 nomes consta movimentação atribuída a dois funcionários de um "Tribunal de Justiça", ao subprocurador-geral da República Henrique Fagundes Filho, ao juiz Aroldo José Washington, da 4ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo, que teria comprado US$ 14 mil, e ao advogado Carlos Alberto da Costa e Silva, preso em outubro último pela Operação Anaconda.
A pesquisa realizada pela PF partindo do nome do delegado Mário Sérgio Abdo, por exemplo, encontrou três correspondências: "Abdo Careca", "Abdo Camelo" e "Abdo 422". Entre elas, a maior movimentação é a de "Camelo": entre 1999 e 2001, vendeu US$ 36,46 mil; de 1998 a 2003, comprou US$ 256,79 mil. Já o nome do delegado Paulo Miyoshi consta da contabilidade associado ao de sua mulher, Isaura Almeida Aiosa, que teria comprado US$ 288,26 mil entre 1999 e 2001.
As compras de dólar, num total de US$ 207 mil, atribuídas ao subprocurador-geral Henrique Fagundes também estão associadas ao advogado Gustavo Eid Bianchi, que foi estagiário do escritório do subprocurador em São Paulo. Ambos admitem conhecer Barcelona, mas negam ter comprado dólar. Afirmam que apenas trocaram cheques com o doleiro.
Há ao menos outros quatro nomes a identificar associados às palavras-chaves "PF" e "Polícia Federal". Exemplo é um cliente chamado "Peãozinho", que comprou US$ 97 mil entre 1996 e 1999.


Colaborou RUBENS VALENTE, da Reportagem Local

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