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EXCLUSIVO
Presidente da corporação, Carla Cico, nega ter contratado a empresa internacional Kroll para espionar membros do governo Lula
Brasil Telecom afirma que alvo são italianos
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente da Brasil Telecom,
Carla Cico, confirmou à Folha ter
contratado o braço europeu da
Kroll para investigar a Telecom
Italia. No entanto, Cico negou
"com veemência" que alguns dos
alvos da investigação sejam autoridades do governo brasileiro.
"O escopo das investigações é
apenas corporativo", disse Cico
em entrevista telefônica. "Não
tem nada a ver com governo."
Mas fez uma ressalva: "Eventualmente, quando você entra numa
investigação, não sabe quais são
as ligações que você acha."
A direção da Kroll, por sua vez,
lançou dúvidas sobre a autenticidade de todo o material apreendido pela Polícia Federal. Essa, acusam, seria uma estratégia da Telecom Italia para manipular o governo, abalando o comando da
Brasil Telecom, num momento
decisivo da disputa por seu controle acionário. "Não há inocentes
aqui. Isso não é a história da Branca de Neve e os Sete Anões", disse
Frank Holder, presidente mundial de investigações da Kroll,
acrescentando que a empresa
atua dentro da lei.
"Não fazemos, nem fizemos nada ilegal. A Telecom Italia, sim,
comete atos questionáveis."
Enquanto Holder admite que os
atos públicos do presidente do
Banco do Brasil, Cássio Casseb,
possam ter sido monitorados, a
diretoria da Kroll no Brasil nega a
investigação de autoridades brasileiras. "Nunca nos envolvemos
em questões controversas, como
espionagem de governo. Não
existe gravação feita por nós sobre
nenhuma autoridade, sobre nenhum funcionário da Telecom
Italia. Sobre ninguém, aqui ou fora do Brasil", disse Eduardo Gomide, diretor-executivo do escritório brasileiro da Kroll.
Segundo Gomide, a atuação da
Kroll se restringe ao cálculo do
prejuízo da Brasil Telecom com a
briga pelo comando da empresa.
Além disso, foram investigados
os antecedentes de Luiz Roberto
Demarco. Mas, frisa, tudo dentro
da legislação brasileira e da lei
americana que proíbe a corrupção de funcionários estrangeiros.
Também diretor da Kroll, Vander Giordano alega que o teor de
e-mails, como os entre o ministro
Luiz Gushiken e Demarco, só é
obtido quando autorizado pela
empresa contratante ou quando
consta de processos judiciais.
A Kroll não explicou por que a
operação foi batizada de "Projeto
Tóquio". Cico descarta que seja
uma referência à descendência japonesa de Gushiken, embora encontrar dados sobre o ministro
seja descrito nos papéis da empresa Kroll como tarefa de "máxima prioridade".
"Nem sabia que a origem dele
[do ministro Gushiken] era japonesa", disse Cico.
Entre os documentos em poder
da Polícia Federal está a cópia de
um e-mail que teria sido enviado
por Cico à Charles Carr, chefe do
escritório da Kroll na Itália.
Nessa mensagem, Cico solicita
que se investigue a hipótese de a
Telecom Italia ter feito pagamentos a políticos nos municípios de
Ribeirão Preto e Santo André, administrados pelo PT.
A Folha enviou a cópia dessa
mensagem a Cico. E obteve a seguinte resposta: "Não comento
minha comunicação pessoal com
a Kroll. Mas posso dizer que essa
mensagem não é minha".
Segundo Cico, a obtenção de
documentos sigilosos da Kroll pela própria Telecom Italia revela
que a Brasil Telecom não é a única
empresa a recorrer a espionagem
corporativa. "Não sei quais documentos vocês têm em mãos, nem
sei se foram falsificados ou não.
Mas, evidentemente, a Telecom
Italia está usando o mesmo instrumento", declarou.
Procurada, a direção da Telecom Italia não quis se manifestar
sobre o assunto, alegando que já
adotou as medidas cabíveis.
(MARCIO AITH E CATIA SEABRA)
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