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GOVERNO PAULISTA
Chefe de gabinete da secretaria recebe desde fevereiro da Fundação Padre Anchieta sem trabalhar na emissora
Promotoria monitora "caixa-preta" da Cultura
FREDERICO VASCONCELOS
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
A chefe de gabinete da Secretaria da Cultura do Estado de São
Paulo, Maria Luiza Granado, que
ocupa o terceiro cargo mais importante na hierarquia da pasta,
recebeu vencimentos como funcionária-fantasma da Fundação
Padre Anchieta, emissora mantida com verbas públicas e privadas
e que atravessa crise financeira.
Documentos obtidos pela Folha
confirmam que Granado está registrada na diretoria de programação da TV Cultura, embora o
cargo de chefe de gabinete exija
jornada completa de trabalho.
Ao ser questionada pela Folha
sobre a situação de sua subordinada, a secretária da Cultura,
Cláudia Costin, 47, informou, anteontem, que decidira afastá-la.
O Palácio dos Bandeirantes
confirmou que o ato de exoneração, assinado pelo governador
Geraldo Alckmin (PSDB), será
publicado no "Diário Oficial".
"É uma situação que não me
agrada. Não porque seja irregular.
Mas é uma situação que foi construída no processo da vinda dela
para a secretaria", disse Costin.
Procurada ontem pela Folha, a
chefe de gabinete não se manifestou até o fechamento da edição.
A secretária da Cultura diz que
Granado, ex-presidente da Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), recebe apenas da
fundação. A acumulação de vencimentos, no caso, seria ilegal. Segundo Costin, não há duplicidade, pois a TV Cultura é remunerada em contrato pela secretaria e
paga a chefe de gabinete. Ela não
disse quanto Granado recebe.
Funcionários da TV Cultura
confirmam que Granado não dava expediente na emissora. Segundo a assessoria de imprensa
da fundação, "constatado o problema, a funcionária Maria Luiza
Granado foi imediatamente afastada do quadro funcional da Fundação Padre Anchieta".
Granado foi nomeada chefe de
gabinete em 10 de janeiro último,
por decreto do governador Alckmin. No dia 21 do mesmo mês, resolução da secretária Costin atribuiu gratificação mensal à chefe
de gabinete. Sua admissão na TV
Cultura ocorreu no dia 3 de fevereiro, segundo o cadastro de funcionários da emissora.
Esse artifício, um recurso adotado pela administração pública para melhorar a remuneração de assessores, expõe duplamente Costin. A Fundação Padre Anchieta,
vinculada à Secretaria da Cultura,
teve dotações reduzidas pelo governo estadual e vem sendo instada por Costin a apresentar indicadores de eficiência e melhor gestão dos recursos públicos.
Ex-ministra da Administração
Federal e Reforma do Estado no
governo FHC, onde firmou a imagem de gestora rigorosa, Costin
-sem maiores vinculações com
a área cultural- assumiu a secretaria no início do ano, convidada
por Alckmin para corrigir irregularidades acumuladas na pasta.
Ela também tem sido criticada
por colocar na direção de órgãos
vinculados à pasta pessoas sem
intimidade com a área cultural.
Sem maior divulgação, Costin
está obrigada a prestar contas periodicamente ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério
Público do Estado sobre contratações e demissões na secretaria.
Termo de compromisso
Trata-se de herança da administração anterior, um "Termo de
Compromisso de Ajustamento de
Conduta" firmado pelo antecessor de Costin, Marcos Mendonça,
no dia 26 de dezembro de 2002, às
vésperas de deixar o cargo.
O acordo é peça de inquérito civil instaurado a partir de reportagem da Folha, de abril do ano
passado, revelando casos de clientelismo e nepotismo na contratação de pessoal. A pasta mantinha
funcionários em situação irregular, contratados sem concurso
público e pagos com recursos da
"verba de adiantamento", que só
deveria ser usada em despesas
"extraordinárias e urgentes", não
previstas no orçamento.
Na ocasião, havia 2.145 pessoas
nessa situação irregular, o que
correspondia a 87% do quadro de
funcionários, contra apenas 330
funcionários concursados. Mendonça alegava que a contratação
de temporários decorria do caráter diferenciado da pasta, marcada por eventos e exposições.
Segundo a Folha apurou, esse
acordo foi proposto por Mendonça (havia a possibilidade de serem
oferecidas ações de improbidade
contra o secretário). O ex-secretário atribui esse risco a uma "divergência de interpretação sobre a
questão da regularidade ou não
da forma de contratação".
Ele diz que o Ministério Público
aceitou uma prorrogação dos
prazos de contratação. O "termo
de ajuste" também convinha ao
Ministério Público, pois evitaria o
ajuizamento de milhares de ações
individuais e de êxito difícil.
Com a extinção, em 1995, do Baneser (Banespa Serviços Técnicos
S/A), empresa usada principalmente nos governos de Orestes
Quércia (1987-1991) e de Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1994) para o Estado contratar funcionários sem concurso, a Secretaria da
Cultura manteve, por meio de renovação sucessiva de contratos
temporários, funcionários que
realizavam trabalho continuado
sem haver prestado concurso público, o que é vedado pela Constituição e viola a legislação trabalhista do país.
Pelo termo de compromisso firmado por Mendonça, Costin não
poderá contratar pessoas para
trabalho continuado sem realizar
concurso público. Num prazo de
18 meses (a partir de dezembro
último), terá que demitir as pessoas nessa situação irregular. E,
dentro de 36 meses, terá que dispensar as que desenvolvam atividades artísticas e estejam na mesma situação.
A cada seis meses, Costin é obrigada a informar ao Ministério Público os editais de concurso público, as demissões e contratações.
Em maio, Costin enviou ofício
ao Ministério Público relatando a
reestruturação da secretaria e a
revisão de projetos. "Novas vocações estão sendo definidas para
espaços da secretaria que terão reflexos diretos na diminuição de
contratação de pessoal", afirmou.
Costin informou que "foram retomados os andamentos dos processos administrativos para qualificação das entidades interessadas
e iniciaram-se reuniões periódicas para preparação da implantação das organizações sociais, no
âmbito da Cultura, com especificação das áreas, levantamento de
acervos, custos e definição do
contrato de gestão padrão".
Colaborou MARIO CESAR CARVALHO,
da Reportagem Local
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