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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES PERIGOSAS
"Homem de máquina", Okamotto é especialista em resolver problemas;
ele foi tesoureiro da primeira campanha do presidente e dirigiu o PT-SP
"Japonês" trabalha com Lula desde que ambos eram metalúrgicos
DA REPORTAGEM LOCAL
Paulo Okamotto, 49, falou pouco desde que seu nome foi envolvido na crise política. Assumiu a
autoria do pagamento de uma dívida do presidente Lula com o PT,
deu as explicações que considerou necessárias e se recolheu.
Amigos contam que se trata de
uma característica sua quando
tem de lidar com algo do qual não
é íntimo, no caso, a exposição pública. Nos quase 30 anos de atividade política, sempre evitou a linha de frente, mesmo tendo como escola uma entidade de massas, o Sindicato dos Metalúrgicos
de São Bernardo do Campo.
Foi onde conheceu Lula, presidente do sindicato, nas greves do
final dos anos 70. Desde então
Okamotto, ou "japonês", como o
presidente costuma chamá-lo nas
horas de descontração, se especializou em resolver problemas.
Okamotto nasceu em Mauá e,
aos 6 anos, já trabalhava. Fez de
tudo um pouco até ingressar em
um curso de metalurgia, arrumar
um emprego na Brastemp e iniciar sua militância sindical.
"Na hora que tinha de resolver
as coisas, era frio. Muitos diziam
que negociar com ele era como
tratar com uma pedra", afirma o
ex-colega de sindicato e ex-deputado petista Expedito Soares.
Em 1981, com a cassação no ano
anterior da diretoria de Lula, Okamotto integrou o novo comando
do sindicato, assumindo a tesouraria, onde ficou até 1984. Foi eleito na chapa de Jair Meneguelli,
hoje presidente do conselho do
Sesi (Serviço Social da Indústria).
Pancadas
Na época, Meneguelli estava
apreensivo. Militante obscuro, foi
o escolhido de Lula para sucedê-lo na presidência do sindicato.
De Okamotto e de Osvaldo Bargas, atual secretário de Relações
do Trabalho do governo e, à época, candidato a secretário-geral do
sindicato, Meneguelli lembra-se
de ter ouvido a seguinte frase:
"Pode deixar que nós levamos as
pancadas pra preservar você, que
é o presidente. As coisas ruins nós
fazemos, as boas você faz".
A fidelidade e o estilo a um só
tempo centralizador e cumpridor
aproximou Okamotto de Lula. Ele
participou da montagem do PT
-foi presidente do diretório estadual do partido- e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Apesar da dureza do "japonês",
que contrasta com perfil emotivo
de Lula, ambos cultivam o mesmo bom humor em momentos
informais, muitos deles vividos
na pequena chácara do presidente, que fica em Riacho Grande.
Em 1986, Okamotto coordenou
a campanha a deputado do líder
petista. Sem dinheiro, preparava
santinhos em folhas de sulfite.
A parceria eleitoral prosseguiu
em 1989, quando foi tesoureiro de
Lula -anos depois, foi acusado
de receber ajuda de um sindicato
na campanha, o que é proibido.
Em 1990, com a derrota nas eleições, o "japonês" deixou os cargos de direção entre os metalúrgicos para assumir a tarefa de tocar
o Instituto Cidadania, organização não-governamental de Lula.
Paralelamente, administrou a
casa noturna KVA, em São Paulo,
de propriedade de Marília Andrade, outra amiga do presidente.
Marília abrigou a jovem Lurian
em Paris, após a mãe dela, Mirian
Cordeiro, ex-namorada de Lula,
ir ao programa eleitoral do então
candidato Fernando Collor, em
1989, para acusar o petista de tentar forçá-la a abortar a filha.
A ajuda pessoal de Okamotto a
Lula se intensificou em 1998,
quando Sadal Igushi, administrador do Sindicato dos Metalúrgicos, morreu afogado. Igushi era o
contador de Lula. Okamotto, então, assumiu essa tarefa.
"Ele sempre cuidou das coisas
do Lula", afirma o ex-sindicalista
Francisco Dias Barbosa, o Chicão,
também amigo do presidente e
hoje funcionário do Sesi. "A luta
faz isso com a gente. Entre nós, o
que mais existiu foi solidariedade", diz Chicão. Com a vitória de
Lula, Okamotto assumiu uma diretoria do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Neste ano, o presidente fez valer a "solidariedade"
de amigo e o indicou para comandar a instituição.
(CONRADO CORSALETTE E LAURA CAPRIGLIONE)
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