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Gustavo Ioschpe
Se merecem
SE O BRASIL fosse um
país sério, Lula não
estaria ainda no cargo. Se estivesse, não se recandidataria. E, recandidatando-se, não estaria liderando as pesquisas. É
difícil de entender como
um governo e um partido
que estiveram envolvidos
em tantos e tão fantásticos
escândalos, que tiveram
seus dois homens-fortes
apeados do poder e indiciados, que tiveram sua
turma chamada de "quadrilha" pelo procurador-geral que eles mesmos indicaram possa passar incólume. É uma chance para profunda introspecção
e auto-análise da sociedade brasileira. O que o sucesso eleitoral da quadrilha diz a nosso respeito?
A responsabilidade, porém, não deve ser dividida
de forma equânime. A falência mais inacreditável
foi a da oposição. Se a inércia da sociedade surpreende, a inação da oposição
espanta. Pois se o nosso
mutismo vai contra o espírito público que se espera
dos cidadãos de uma democracia, o deles vai contra seus próprios ganhos
privados, seu próprio interesse político-eleitoral.
Por que tivemos uma oposição tão situacionista?
Por várias razões. Uma
parte é certamente inépcia, de acreditar que os escândalos fariam o estrago
por si só. Esperar que um
governo com um Orçamento de R$ 1,6 trilhão
por ano deite em berço esplêndido e resigne-se com
sua própria morte é de um
otimismo que nem Freud
explica. Outra parte é simplesmente fraqueza. "As
elite" do Brasil vêm apanhando retoricamente há
tanto tempo que parecem
não ter tido coragem de
aplicar a lei a um governo
dito popular. Compraram
a tese de que a conspiração
da quadrilha era, em realidade, uma conspiração da
direita. E nisso esfolaram
a democracia. A essência
da democracia não é o voto. É a criação de um arranjo institucional que garanta liberdade e isonomia perante a lei a todos. O
respeito a essas instituições vem antes do apego
ao voto. É fácil ser democrata chutando cachorro
morto. A prova de força de
um sistema vem justamente quando ele precisa
se deparar com um transgressor poderoso -quer
seja o seu poder popular,
econômico ou midiático.
E, nessa prova, a oposição
conduziu a democracia
brasileira à derrota. Substituíram a justiça pela vitória nas urnas. Ao que tudo indica, não terão uma
coisa nem outra.
E assim o fazem porque
seu apreço pela democracia é tático. Subjugam-no
ao cálculo político do momento. Suas omissões não
são tão graves quanto as
comissões dos que estão
no poder, mas confirmam
no eleitor a impressão de
que os políticos só advogam em benefício próprio.
Assim, reforçam a mais
nefasta das conclusões
que pode se abater sobre
uma pólis: a de que todos
são iguais e ninguém presta, e que, portanto, o engajamento político de cada
cidadão é totalmente irrelevante.
Se os capitães da nau
abandonam o barco na
tempestade, o que esperar
dos marujos?
GUSTAVO IOSCHPE é mestre em
desenvolvimento econômico pela
Universidade Yale (EUA)
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