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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula afirma a artistas que elite quis fazê-lo "sangrar"
Petista se apresenta como vítima e diz que "vingança quem vai fazer é o povo"
Em encontrou na casa de Gil, presidente reclamou de falta de "condescendência" da imprensa e chorou ao lembrar do auge da crise
MÔNICA BERGAMO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Em reunião ontem com artistas na casa do ministro Gilberto
Gil (Cultura), no Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse que foi atacado por uma
elite que queria fazê-lo "sangrar", mas que quem fará "sua
vingança" será o povo. O presidente se emocionou e chegou a
chorar ao lembrar do ápice da
crise em seu governo.
Lula começou seu discurso
lembrando que, na década de
80, conheceu os "artistas famosos" do Rio numa reunião na casa da atriz Dina Sfat, quando pediu apoio para as Diretas-Já.
"Estávamos eu e o FHC. Não estava só o Lula."
Ao falar da crise política, reclamou da imprensa. "Se a imprensa desse para mim 10% da
condescendência que deu para
outros presidentes, eu teria hoje 70% dos votos."
Segundo o petista, parte da
elite política "se deu conta" de
que era preciso "impedir" a continuidade de seu governo.
"O que aconteceu com Getúlio Vargas? Foi levado à morte.
O que aconteceu com João Goulart? E com o JK? Ele foi achincalhado pelo Carlos Lacerda e
por outros que ainda hoje o representam. A elite queria fazer
o Lula sangrar. Eis que todo
mundo ficou surpreso quando
saíram as pesquisas e as pessoas
que eles queriam destruir estavam crescendo. Esqueceram de
um componente chamado povo
brasileiro. E houve um antagonismo das pessoas que escreviam com sabedoria infinita
com o povo que provavelmente
não lê o que eles escrevem."
Ontem, em evento em São
Paulo, FHC também citou Lacerda.
Lula citou uma frase de Fidel
Castro -"A história me absolverá"- e concluiu: "Nós não vamos precisar da história. O povo
vai mostrar quem é quem neste
país". Afirmou ainda: "Que não
mexam comigo: estou com 60
anos, não me irrito com nada.
Minha vingança quem vai fazer
é o povo".
Sobre o escândalo do mensalão, Lula afirmou: "Foi triste?
Foi. O PT errou? Errou. O PT,
não, teve companheiros que erraram. Como posso julgar o PT
por erros que alguns companheiros cometeram?"
No fim do discurso, o ator José de Abreu pediu uma "homenagem" a José Dirceu, José
Mentor e José Genoino, todos
envolvidos no escândalo do
mensalão. O presidente aplaudiu. Na saída, Abreu perguntou
a Lula: "Estraguei a festa?". E o
presidente: "Não, não. Não podemos renegar as amizades que
temos".
Após o discurso, Lula chorou
ao abraçar o compositor Wagner Tiso, lembrando de entrevista em que ele defendeu o presidente no auge da crise.
O presidente reclamou com a
reportagem de notícia de ontem
da Folha sobre ele não ter querido aparecer no palanque ao
lado do deputado federal João
Paulo Cunha, outro envolvido
com o mensalão. "Foi uma sacanagem da Folha. Em todos os
meus comícios, tem separação
entre deputados, prefeitos e
candidatos majoritários. Eu
não tinha visto o João Paulo."
Diversos dos presentes declararam voto em Lula -entre outros, Luiz Carlos Barreto, Tonico Pereira, Alcione, Lecy Brandão e Tassia Camargo. Também
foram ao jantar, entre outros,
os atores Paulo Betti, Renata
Sorrah e Letícia Sabatella e os
cantores Zeca Pagodinho, Sandra de Sá e Fernanda Abreu.
Não compareceram Chico
Buarque, que já declarou voto
em Lula, e Caetano Veloso. "O
Caetano não vem porque já não
é Lula há muito tempo. Não é
uma questão racional, é uma
questão de afeto. Política não se
faz só com razão, mas com afeto
também", disse Gil.
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