São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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QUESTÃO AGRÁRIA

Abreu produz em MS

Fazendeiro critica a "cultura do calote"


ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local

"Tem muita gente se aproveitando dessa manifestação. Gente que pegou dinheiro que era de produtores para aplicar em outros negócios, restringindo os recursos a quem trabalha sério."
A afirmação é do empresário carioca Renato Ribeiro Abreu, um dos maiores produtores de soja do Brasil, que deverá colher na próxima safra 1,2 milhão de sacas de 60 kg, em Mato Grosso.
Abreu garante que nunca pegou dinheiro emprestado do Banco do Brasil ou de qualquer outro banco para tocar suas lavouras.
"No Brasil, impera a cultura da inadimplência. Muitos aproveitadores acham que o empréstimo do governo não tem que ser pago, mas, empurrado com a barriga."
Abreu critica a gestão dos recursos destinados ao financiamento agrícola, que exclui a maior parte dos pequenos agricultores do financiamento, "aqueles que realmente precisam de crédito".
Na avaliação do empresário, o país necessita urgentemente de uma nova forma de administrar o dinheiro destinado à agricultura.
"Essa deveria ser a pauta de discussão do governo e do Congresso. Enquanto analisam o perdão da dívida, vários agricultores estão ainda sem plantar porque não chegou dinheiro para o custeio da lavoura", afirma o empresário, que está desenvolvendo um projeto de suinocultura no Centro-Oeste.
Para Abreu, se houvesse um melhor controle dos empréstimos, a velha ladainha de atrasos de recursos não seria tão frequente. "Isso acaba restringindo os recursos, evitando um melhor planejamento, e ainda impede a expansão da agricultura brasileira."
Abreu controla duas fazendas em Mato Grosso, que empregam cerca de 300 pessoas na época da colheita. A Agromom Agricultura e Pecuária, entre Diamantino e São José do Rio Claro, vai plantar 30 mil hectares de soja nesta safra de verão 1999/2000.
Na Vale do Rio Verde, em Tapurah, serão 22 mil hectares de soja, 4.000 hectares de algodão, 1.000 hectares de milho e outros 3.000 hectares de arroz.
"Negociamos diretamente os insumos com as fábricas. Vamos gastar cerca de US$ 4 milhões só de adubo nesta temporada. Tudo comprado e fechado direto com o fabricante."
Diz que não há dúvida de que a agricultura, base de sustentação do Plano Real por meio da cesta básica, foi esquecida pelo governo. Contudo há fazendeiros querendo se safar de suas dívidas, empurrando-as para a sociedade, segundo o empresário.
Na avaliação do produtor de arroz Ricardo Teixeira Gonçalves Silva, 51, da região de Jaguarão (RS), agora é a vez de a sociedade assumir as perdas dos produtores.
"Foi a agricultura que deu sustentação ao Plano Real", diz.
Silva garante que está pagando suas dívidas em dia. Faltam R$ 800 mil da securitização e um débito de R$ 1,2 milhão da Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial), resultado da compra de quatro colheitadeiras, adquiridas no primeiro semestre deste ano.
Silva colheu 19,5 mil toneladas de arroz em 3.500 hectares. "Aquele pessoal caloteiro caiu fora da agricultura. Agora tem gente realmente endividada", diz.
De acordo com ele, para evitar atrasos, o agricultor deve fazer uma conta básica antes de se envolver em financiamentos. "Se a dívida consome cerca de 10 sacas por hectare, tudo bem, ele terá condições de pagar seu débito em dia. Saiu fora disso, ele correrá riscos", diz o produtor.


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