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QUESTÃO AGRÁRIA
Abreu produz em MS
Fazendeiro critica a
"cultura
do calote"
ROBERTO DE OLIVEIRA
da Reportagem Local
"Tem muita gente se aproveitando dessa manifestação. Gente
que pegou dinheiro que era de
produtores para aplicar em outros negócios, restringindo os recursos a quem trabalha sério."
A afirmação é do empresário
carioca Renato Ribeiro Abreu,
um dos maiores produtores de
soja do Brasil, que deverá colher
na próxima safra 1,2 milhão de sacas de 60 kg, em Mato Grosso.
Abreu garante que nunca pegou
dinheiro emprestado do Banco
do Brasil ou de qualquer outro
banco para tocar suas lavouras.
"No Brasil, impera a cultura da
inadimplência. Muitos aproveitadores acham que o empréstimo
do governo não tem que ser pago,
mas, empurrado com a barriga."
Abreu critica a gestão dos recursos destinados ao financiamento
agrícola, que exclui a maior parte
dos pequenos agricultores do financiamento, "aqueles que realmente precisam de crédito".
Na avaliação do empresário, o
país necessita urgentemente de
uma nova forma de administrar o
dinheiro destinado à agricultura.
"Essa deveria ser a pauta de discussão do governo e do Congresso. Enquanto analisam o perdão
da dívida, vários agricultores estão ainda sem plantar porque não
chegou dinheiro para o custeio da
lavoura", afirma o empresário,
que está desenvolvendo um projeto de suinocultura no Centro-Oeste.
Para Abreu, se houvesse um
melhor controle dos empréstimos, a velha ladainha de atrasos
de recursos não seria tão frequente. "Isso acaba restringindo os recursos, evitando um melhor planejamento, e ainda impede a expansão da agricultura brasileira."
Abreu controla duas fazendas
em Mato Grosso, que empregam
cerca de 300 pessoas na época da
colheita. A Agromom Agricultura
e Pecuária, entre Diamantino e
São José do Rio Claro, vai plantar
30 mil hectares de soja nesta safra
de verão 1999/2000.
Na Vale do Rio Verde, em Tapurah, serão 22 mil hectares de
soja, 4.000 hectares de algodão,
1.000 hectares de milho e outros
3.000 hectares de arroz.
"Negociamos diretamente os
insumos com as fábricas. Vamos
gastar cerca de US$ 4 milhões só
de adubo nesta temporada. Tudo
comprado e fechado direto com o
fabricante."
Diz que não há dúvida de que a
agricultura, base de sustentação
do Plano Real por meio da cesta
básica, foi esquecida pelo governo. Contudo há fazendeiros querendo se safar de suas dívidas,
empurrando-as para a sociedade,
segundo o empresário.
Na avaliação do produtor de arroz Ricardo Teixeira Gonçalves
Silva, 51, da região de Jaguarão
(RS), agora é a vez de a sociedade
assumir as perdas dos produtores.
"Foi a agricultura que deu sustentação ao Plano Real", diz.
Silva garante que está pagando
suas dívidas em dia. Faltam R$
800 mil da securitização e um débito de R$ 1,2 milhão da Finame
(Agência Especial de Financiamento Industrial), resultado da
compra de quatro colheitadeiras,
adquiridas no primeiro semestre
deste ano.
Silva colheu 19,5 mil toneladas
de arroz em 3.500 hectares.
"Aquele pessoal caloteiro caiu fora da agricultura. Agora tem gente
realmente endividada", diz.
De acordo com ele, para evitar
atrasos, o agricultor deve fazer
uma conta básica antes de se envolver em financiamentos. "Se a
dívida consome cerca de 10 sacas
por hectare, tudo bem, ele terá
condições de pagar seu débito em
dia. Saiu fora disso, ele correrá riscos", diz o produtor.
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