São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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LUXO

Sede da Receita é equipada com tapetes paquistaneses e coleção de aparelhos de som

Apreensões "sofisticam" repartição

da Sucursal do Rio
e da Reportagem Local

Depois das lojas especializadas, um dos lugares com maior concentração de tapetes finos e aparelhos de som por metro quadrado talvez seja o gabinete da superintendência da Receita Federal em São Paulo.
A Receita escapou da penúria que atinge a maior parte das re partições porque nos últimos dois anos vem se equipando com mercadoria confiscada no combate ao contrabando.
Pela lei, cabe à própria Receita decidir o destino dos produtos apreendidos. Podem ser leiloados, doados a órgãos públicos ou incorporados ao patrimônio do fisco. Como o orçamento anda apertado, o superintendente de São Paulo, Flávio Del Comuni, prioriza as incorporações.
Só no ano passado, a Receita confiscou cerca de US$ 1 bilhão, a preços de mercado, em mercadorias no Estado de São Paulo.
Mas ninguém na Receita sabe informar quanto disso ficou com a repartição. Em grande parte, o processo envolveu computadores, faxes ou telefones, que ajudam a melhorar o desempenho da instituição.
O que mais chama a atenção, no entanto, é a quantidade de artigos requintados e os vários carros de luxo. No conjunto de escritórios e salas de espera da superintendência há dezenas de tapetes feitos à mão no Paquistão ou na Bulgária. Há também pelo menos um aparelho de som em cada escritório.
A Folha teve acesso aos registros das incorporações feitas entre janeiro de 98 e fevereiro deste ano. Nesses documentos, aparecem mais de 400 aparelhos de som, 160 tapetes, 80 videocassetes e 60 televisores.
"Televisores e vídeos servem para o treinamento de funcionários, os aparelhos de som melhoram o ambiente de trabalho", diz Flávio Del Comuni, superintendente da Receita em São Paulo. "Os tapetes nós preferimos segurar porque, se forem a leilão, o comprador poderá ter um documento para esquentar mercadoria irregular."
O problema é que, só no item conjunto de som, o fisco atinge a marca de 1 aparelho para cada 10 funcionários - a Receita tem 4.050 funcionários no Estado.
Todos esses produtos, mais geladeiras, microondas e veículos, são repartidos entre as várias unidades da Receita no Estado. A delegacia de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, tem 16 funcionários. Mas recebeu 21 conjuntos de som e 4 vídeos.
A Receita incorporou vários veículos esportivos, picapes e carros de luxo. Para o gabinete da superintendência foram destinados meia dúzia de veículos, entre eles um Honda e um Mazda. "Eu mando gente entregar documentos à Justiça cinco ou seis vezes por dia. Não posso pedir que o funcionário use seu carro para isso", diz Comuni.



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