São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Ex-governador gaúcho já negocia filiação ao PPS; senador José Fogaça ainda estuda mudança

PMDB racha no Sul; Britto deve apoiar Ciro

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Um grupo de políticos liderado pelo ex-governador do Rio Grande do Sul Antônio Britto decidiu ontem deixar o PMDB. A tendência é de que esse grupo ingresse no PPS, compondo com o presidenciável Ciro Gomes.
Britto estava descontente com os destinos da sigla desde que perdeu o controle do PMDB gaúcho para os aliados do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha.
Mas a gota d'água para a mudança partidária foi a "forma humilhante" como o senador José Fogaça (PMDB) foi tratado na disputa pela presidência do Senado Federal, vencida por Ramez Tebet (PMDB-RS).
Aliado de Britto, Fogaça fez mistério sobre a possibilidade de abandonar o PMDB. "Não sei o que vou fazer. Meu momento é de muita emocionalidade para tomar decisões", disse, negando, por enquanto, a cogitação de que deixaria a política partidária.
O deputado estadual gaúcho Bernardo de Souza (PPS) já recebeu um telefonema de Britto confirmando a adesão ao partido na semana que vem. O presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PE), fez contato com Fogaça para fazer-lhe o convite.
"Na terça ou na quarta divulgaremos nossa decisão, que começou a ser tomada ontem. Divulgaremos juntos o que faremos. A situação de desconforto é visível. Não posso anunciar nada agora, nosso grupo é muito coeso, e a decisão será divulgada em conjunto", afirmou Britto para a Agência Folha. Hoje ou amanhã, o ex-governador se reúne com Bernardo de Souza para acertar os detalhes do anúncio.
O senador Roberto Freire não escondeu sua euforia. "É um avanço muito importante, em termos regionais e nacionais. O Britto tem o propósito de, no PPS, ajudar a costurar a aliança que envolverá o PDT e o PTB", disse.

Governo ou Senado
Por mais que evite especulações, a mudança de partido credencia Britto a disputar o governo gaúcho ou uma vaga no Senado. A possibilidade de ser vice na chapa de Ciro Gomes é remota, pois não seria considerada uma boa estratégia ter, na composição, dois políticos de um mesmo partido. A vaga de vice seria destinada a alguém de uma sigla diferente na aliança -até o momento, ela está prometida ao PTB.
A decisão de trocar o PMDB pelo PPS ocorreu em reunião realizada na casa de Britto, que se iniciou na noite de anteontem e se estendeu até as 4h de ontem.
Os outros integrantes do grupo são o deputado federal Nelson Proença e os estaduais Berfran Rosado, Iara Wortmann, Mário Bernd e Elmar Schneider. Os deputados estaduais Paulo Odone e Cézar Busatto ainda decidirão se acompanham a dissidência. Dentre os que participaram do encontro, o único que decidiu permanecer no PMDB foi o deputado federal Germano Rigotto.
A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados vem encolhendo este ano. Em 14 de fevereiro, o partido tinha 100 deputados federais. Ontem, a Câmara registrava 92 deputados do partido.
A vitória da ala governista na convenção nacional fortaleceu a impressão de que o partido não terá candidato próprio na eleição presidencial, o que pode levar a uma retração ainda maior da bancada. Por isso muitos deputados estão buscando refúgio em legendas mais competitivas.


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