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Deputado diz que provará inocência
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Sete meses e seis dias após assumir a presidência da Câmara de
forma surpreendente, Severino
Cavalcanti (PP-PE), 74, renunciou ontem, às 16h54, ao cargo e a
seu mandato de deputado federal.
Dizendo-se vítima de "empobrecimento ilícito" na vida pública e condenado politicamente pela mídia e por aqueles que querem
seu lugar, Severino caiu após 19
dias de pressão resultante da acusação de que recebeu propina em
2002 e 2003, quando era primeiro-secretário da Casa.
Assim como sua ascensão, sua
queda foi tumultuada. Num discurso lido ainda na cadeira de
presidente, o deputado demonstrou estar bastante emocionado e
afirmou, em 33 minutos de fala,
que caiu porque lutou contra
"uma elitezinha", contra "os donos do Congresso", e que provará
sua inocência nos tribunais.
No final, antes que alguém pudesse aplaudir, ouviu-se o grito de
uma mulher na galeria: "Vai embora, Severino, seu corrupto!"
Depois disso, um grupo do outro
lado das galerias começou a entoar gritos de ordem contra o pepista. A sessão foi suspensa, a segurança retirou vários manifestantes à força, momento em que
Severino aproveitou para se retirar com forte esquema de segurança e sem falar com a imprensa.
"Repito que as acusações contra
mim são inconsistentes; [...] são
falsas e mentirosas, e vou comprovar isso nos tribunais", disse
no discurso, apesar de não apresentar provas de sua inocência.
Ele assim justificou sua renúncia: "Se continuasse como presidente, iria atravancar o funcionamento da Casa. Entre a Casa e o
meu sacrifício, eu prefiro ficar
com a Casa", disse, em uma das
partes em que improvisou.
No texto lido de seis páginas,
acusou imprensa e adversários
por sua derrocada: "Meus acusadores [...] não me deixaram alternativa: optei, assim, pela renúncia, porque já me sabia condenado de antemão. Minha culpabilidade foi declarada, sem apelação,
antes das provas e mesmo do processo, e minha condenação veio
antes de qualquer sentença: veio
pela imprensa, [...] veio por aqueles interessados em tornar vaga, o
mais rapidamente possível, a cadeira do presidente da Câmara".
A renúncia tem o objetivo de
evitar a inelegibilidade até 2015
que uma possível cassação acarretaria. Severino promete se candidatar no ano que vem e retornar à
Câmara em 2007. Para isso, citou
a Bíblia: "Voltarei. Já anunciava o
profeta Jó: "O júbilo dos ímpios é
breve, e a alegria dos hipócritas,
apenas um momento'".
A queda de Severino se deu devido à acusação de Sebastião Buani, dono da rede de restaurantes
Fiorella. Ele diz ter pago propina
de R$ 40 mil ao pepista em 2002 e
um "mensalinho" de R$ 10 mil
durante ao menos nove meses de
2003. Severino teria exigido o dinheiro para atender a pleitos de
Buani, que até o início de 2004 gerenciava os três restaurantes e seis
lanchonetes da Câmara.
Severino sempre negou a história -que possui contradições-,
mas a descoberta de que uma de
suas funcionárias sacou um cheque de R$ 7.500 de Buani sepultou
suas condições políticas de ficar
no cargo. A Procuradoria Geral
da República possui documento
mostrando que a conta do pepista
recebeu depósito de R$ 6.810 no
mesmo dia do saque, o que contraria a versão de Severino de que
o dinheiro foi usado para a campanha de um dos filhos, em Pernambuco. Severino não fez menção nenhuma a isso em sua fala.
Bancarrota
Como um dos indicadores de
que não teria recebido propina,
enfatizou a afirmação de que sai
endividado da vida pública: "O
político levou o bem-sucedido comerciante à bancarrota", afirmou, lembrando ter sido comerciante de jóias e ter possuído lojas
de eletrodomésticos.
O fato é que o processo de sucessão já havia sido desencadeado
antes do anúncio oficial da renúncia. Pelo regimento interno, a Câmara tem cinco sessões para eleger outro presidente. Hoje ocorre
reunião de líderes partidários para definir regras da sucessão.
Severino, que foi deputado estadual por 28 anos e estava em seu
terceiro mandato federal, assumiu o comando da Casa em 15 de
fevereiro após derrotar o candidato do Planalto, Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT-SP). Pela primeira vez, quebrava-se a tradição de a
maior bancada -no caso, o PT-
assumir o posto. Com a renúncia,
o pepista também entra para a
história como o primeiro presidente da Câmara a se afastar do
cargo. Ibsen Pinheiro (PMDB),
que foi cassado em 1994 acusado
de envolvimento no esquema dos
Anões do Orçamento, já não era
presidente da Casa ao perder o
mandato.
(RANIER BRAGON, FÁBIO ZANINI, CHICO DE GOIS, LUIZ FRANCISCO,
SILVIO NAVARRO E ADRIANO CEOLIN)
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