São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

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CÂMARA SEVERA

"Vai embora, Severino, seu corrupto!", grita estudante, retirada à força

Estudantes e seguranças se agridem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA


Bastou Severino Cavalcanti botar o ponto final em seu discurso de renúncia, recebido sem aplausos pelo plenário, para uma grande confusão tomar conta das galerias da Câmara.
Em greve há duas semanas, 20 estudantes da Universidade de Brasília (UnB) entraram em confronto com a segurança, sob os olhares dos deputados, que pediam calma. Não houve feridos graves.
A senha para o protesto foi dada por uma estudante posicionada do lado oposto ao qual se concentravam seus colegas. "Vai embora, Severino, seu corrupto!", gritou, ao fim do discurso. Agarrada por um segurança, foi retirada à força, debatendo-se. Iniciou-se um coro: "É "mensalinho", é "mensalão", queremos verba para a educação".
Quando a polícia interna da Câmara chegou para cumprir ordem de retirar os manifestantes -dada pelo deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL) poucos segundos após assumir a presidência interinamente-, eles entrelaçaram os braços e se recusaram a sair. Começou então o tumulto com empurrões, socos e pontapés. Dois estudantes foram puxados pelas pernas. Outros, arrastados pelo braço.
Cerca de 25 seguranças participaram da ação, mas um dos que reprimiram o movimento, inclusive dando socos, estava à paisana. "Estou cumprimento meu dever. Pedi com educação, mas ninguém quis me atender", disse ele, que não se identificou.
Nas galerias, os estudantes resistiam. Uma jovem, puxada por um segurança, jogou-se ao chão: "Socorro!", gritava.
A chegada da imprensa aumentou a confusão. Fotógrafos, cinegrafistas e repórteres entraram no empurra-empurra e acabaram batendo boca com os policiais legislativos. Após cerca de dez minutos, os estudantes foram finalmente retirados, mas o tumulto, em vez de perder força, acabou recrudescendo, em um corredor que leva das galerias à saída.
A segurança tentou fazer um cordão de isolamento para evitar a aproximação da imprensa, o que só contribuiu para o tumulto. Deputados do PT e do PSOL chegaram para tentar pacificar os ânimos, em vão.
Uma porta de vidro da sala que serve como guarda-volumes da Câmara partiu-se, ferindo levemente as mãos de um estudante e de um segurança. Um manifestante foi detido por dez minutos e depois liberado.
Na saída do corredor, mais 50 manifestantes, que não haviam obtido senha para entrar nas galerias, aguardavam seus companheiros. "Solta! Solta!", gritavam, em referência ao colega detido. Outros coros diziam: "Estudante não é bandido!" e "Congresso do "mensalão", não vai prender nenhum ladrão".
"Viemos protestar contra a corrupção, que resulta em menos verbas para a educação", disse o coordenador do Diretório Central dos Estudantes da UnB, Vagner Guimarães, 28. O diretório faz oposição à União Nacional dos Estudantes. Alguns dos manifestantes têm ligações com o PSTU e o PSOL.
A segurança da Câmara negou que tenha abusado da força. "Os estudantes puderam entrar e acompanhar a sessão, mas a galeria teve de ser evacuada no momento em que o protesto virou desordem", afirmou o diretor do Departamento de Polícia Legislativa, Renato Câmara.
O deputado Chico Alencar (PT-RJ) considerou excessiva a ação da segurança. "A força usada foi desmedida. A manifestação dos estudantes foi mais educada do que o que se passava na Mesa, com um parlamentar que renunciava para escapar da cassação."


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