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CÂMARA SEVERA
"Vai embora, Severino, seu corrupto!", grita estudante, retirada à força
Estudantes e seguranças se agridem
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Bastou Severino Cavalcanti
botar o ponto final em seu discurso de renúncia, recebido sem
aplausos pelo plenário, para
uma grande confusão tomar
conta das galerias da Câmara.
Em greve há duas semanas, 20
estudantes da Universidade de
Brasília (UnB) entraram em
confronto com a segurança, sob
os olhares dos deputados, que
pediam calma. Não houve feridos graves.
A senha para o protesto foi dada por uma estudante posicionada do lado oposto ao qual se
concentravam seus colegas.
"Vai embora, Severino, seu corrupto!", gritou, ao fim do discurso. Agarrada por um segurança, foi retirada à força, debatendo-se. Iniciou-se um coro: "É
"mensalinho", é "mensalão", queremos verba para a educação".
Quando a polícia interna da
Câmara chegou para cumprir
ordem de retirar os manifestantes -dada pelo deputado José
Thomaz Nonô (PFL-AL) poucos segundos após assumir a
presidência interinamente-,
eles entrelaçaram os braços e se
recusaram a sair. Começou então o tumulto com empurrões,
socos e pontapés. Dois estudantes foram puxados pelas pernas.
Outros, arrastados pelo braço.
Cerca de 25 seguranças participaram da ação, mas um dos
que reprimiram o movimento,
inclusive dando socos, estava à
paisana. "Estou cumprimento
meu dever. Pedi com educação,
mas ninguém quis me atender",
disse ele, que não se identificou.
Nas galerias, os estudantes resistiam. Uma jovem, puxada
por um segurança, jogou-se ao
chão: "Socorro!", gritava.
A chegada da imprensa aumentou a confusão. Fotógrafos,
cinegrafistas e repórteres entraram no empurra-empurra e
acabaram batendo boca com os
policiais legislativos. Após cerca
de dez minutos, os estudantes
foram finalmente retirados, mas
o tumulto, em vez de perder força, acabou recrudescendo, em
um corredor que leva das galerias à saída.
A segurança tentou fazer um
cordão de isolamento para evitar a aproximação da imprensa,
o que só contribuiu para o tumulto. Deputados do PT e do
PSOL chegaram para tentar pacificar os ânimos, em vão.
Uma porta de vidro da sala
que serve como guarda-volumes da Câmara partiu-se, ferindo levemente as mãos de um estudante e de um segurança. Um
manifestante foi detido por dez
minutos e depois liberado.
Na saída do corredor, mais 50
manifestantes, que não haviam
obtido senha para entrar nas galerias, aguardavam seus companheiros. "Solta! Solta!", gritavam, em referência ao colega
detido. Outros coros diziam:
"Estudante não é bandido!" e
"Congresso do "mensalão", não
vai prender nenhum ladrão".
"Viemos protestar contra a
corrupção, que resulta em menos verbas para a educação",
disse o coordenador do Diretório Central dos Estudantes da
UnB, Vagner Guimarães, 28. O
diretório faz oposição à União
Nacional dos Estudantes. Alguns dos manifestantes têm ligações com o PSTU e o PSOL.
A segurança da Câmara negou
que tenha abusado da força. "Os
estudantes puderam entrar e
acompanhar a sessão, mas a galeria teve de ser evacuada no
momento em que o protesto virou desordem", afirmou o diretor do Departamento de Polícia
Legislativa, Renato Câmara.
O deputado Chico Alencar
(PT-RJ) considerou excessiva a
ação da segurança. "A força usada foi desmedida. A manifestação dos estudantes foi mais educada do que o que se passava na
Mesa, com um parlamentar que
renunciava para escapar da cassação."
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