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JANIO DE FREITAS
O lucro inesperado
A longa rotina dos depoimentos que nada esclarecem foi afinal quebrada, e de
maneira surpreendente. Primeiro, no interrogatório ao doleiro
Antonio de Oliveira Claramunt,
de quem era esperado que só fizesse a demolição de umas
quantas reputações. A outra, o
interrogatório ao polêmico Daniel Dantas, controlador do grupo Opportunity, que os petistas
esperavam corroer até o último
osso.
A CPI dos Bingos marcou um
grande tento em relação à dos
Correios e à do Mensalão, ao
convocar Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona (da Barcelona Turismo,
sua empresa). Foi o mais valioso
depoimento desde as revelações
iniciais e, dadas as suas circunstâncias pessoais, o mais corajoso. O que explica e comprova o
persistente e suado empenho
dos deputados e dos senadores
do PT para impedir a convocação de Claramunt nas duas outras CPIs.
Esse depoimento teve duas
partes, das quais a de maior relevância foi em sessão reservada, cujo teor os parlamentares
estão teoricamente impedidos
de divulgar. Mesmo a parte
aberta, porém, foi suficiente para estabelecer em definitivo
uma certeza e, a ela conexa,
uma estranheza. Os tais empréstimos tomados ao Banco Rural,
para Marcos Valério abastecer
as distribuições financeiras do
PT, não são a fonte real e completa da fortuna partilhada por
Delúbio Soares.
Pelas operações que Claramunt revelou, já na parte pública do depoimento, não há dúvida de que operações ilegais em
dólares foram feitas desde o decorrer da campanha presidencial em 2002. De duas maneiras.
Pela troca de grandes quantidades de dólares por reais, em São
Paulo, e por uma operação
triangular: dólares de uma conta no exterior eram transferidos
para a conta, lá também, de um
doleiro, que aqui os pagava em
reais. Operações assim são comuns, mas Claramunt fez, às
vezes até definindo a época, a ligação com os condutos de dinheiro político ilegal. Mais uma
razão, nisso tudo, para estranhar-se que até hoje as CPIs não
tenham esmiuçado as contas do
Real para verificar a saída, ou
não, dos R$ 55 milhões reconhecidos nas operações Valério-Delúbio.
Já Daniel Dantas, que tem a
peculiaridade de reunir a maior
coleção nacional de inimigos,
inclusive na mídia, confirmou
essa especialidade mas, desta
vez, de maneira original: calado
e quieto como simples espectador, deu motivo a uma brigalhada que deveria terminar, se
houvesse alguma preocupação
com a compostura na Câmara,
pela entrega imediata de um
punhado de congressistas à Comissão de Ética. Para rápida expulsão do Congresso por falta de
decoro parlamentar e de respeitabilidade pessoal - medida
prevista, para tais casos de desordeiros, nos regimentos do Senado e da Câmara.
Entre as importantes explanações que começou sem jamais
desenvolver, porque interrompido pelos parlamentares interessados em politicagem e não em
informações, ainda assim Daniel Dantas proporcionou um
rascunho desse mundo desconhecido, de métodos pesadamente próprios, que é dos negócios bilionários. E deu os elementos de uma certeza que tantos se esforçam por negar: a interferência do governo, em particular de Luiz Gushiken, nas
transações dos fundos de pensão
das estatais com seus tantos bilhões.
O material proporcionado pelos depoimentos de Antonio
Claramunt e Daniel Dantas poderia resultar, por si só, em escândalo de proporções ainda
maiores que o atual. E, de quebra, ainda se teve o retorno à
inacabada CPI do Banestado,
com a admirável iniciativa do
senador Pedro Simon de que se
retomem as suas conclusões que
o PT e o PSDB enfurnaram, para proteger gente sua.
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