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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O BANQUEIRO
Controlador do Opportunity nega envolvimento com caixa 2 do PT e diz que governo se envolveu na disputa pelo controle da Brasil Telecom
Governo interferia em fundos, diz Dantas
LEONARDO SOUZA
FERNANDA KRAKOVICS
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O banqueiro Daniel Dantas afirmou ontem, em audiência conjunta das CPIs dos Correios e do
"Mensalão", que o governo "interferia constantemente" nos assuntos dos fundos de pensão,
mais especificamente na disputa
pelo comando da Brasil Telecom,
até o início deste ano controlada
pelo Opportunity. Negou também que tivesse contribuído para
o esquema de caixa dois do PT.
Dantas afirmou que a Previ
(fundo de pensão do Banco do
Brasil), durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em
2000, também pressionou a Brasil
Telecom a adquirir a CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações), com apoio do então
ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga (PSDB-MG).
Dantas revelou ainda ter sido
informado por executivos da Brasil Telecom que a empresa pagou
almoços e jantares em que esteve
presente o filho do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio,
durante uma viagem que realizou
ao Japão em 2003.
O banqueiro admitiu que a Brasil Telecom chegou a negociar a
compra da Gamecorp, empresa
que tem Fábio Lula entre seus sócios, mas a transação não foi
adiante porque a telefônica considerou o preço muito alto. A Gamecorp teve parte de suas ações
comprada depois pela Telemar
por cerca de R$ 5 milhões.
Após dez horas de depoimento,
Dantas passou mal por volta das
21h15, alegando pressão baixa.
Cinco minutos depois, voltou à
audiência. Às 22h10, disse que
não tinha mais condições de continuar, e a sessão foi encerrada.
Dantas contou que teve duas
reuniões, em maio de 2003, com o
então ministro José Dirceu (Casa
Civil) para tratar dos fundos de
pensão, conforme a Folha publicou no início deste mês. "Em duas
reuniões que tive com o ministro
José Dirceu, chamei a atenção para interferências indevidas favorecendo nossos adversários."
A interferência do governo não
poderia ocorrer já que os fundos,
apesar de patrocinados por estatais, são entidades privadas pois
pertencem aos associados, ou seja, pensionistas, aposentados e
trabalhadores da ativa.
O primeiro encontro foi marcado pela Casa Civil sem que ele tivesse pedido. Na ocasião, Dirceu
teria lhe dito que era preciso resolver a questão com o então presidente do Banco do Brasil, Cássio
Casseb. Após a conversa com
Casseb, Dantas diz que passou a
"ter a sensação de que as coisas
começaram a ficar mais difíceis"
para a Brasil Telecom. Dantas disse que não tinha como afirmar se
o ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) também participava
das discussões relacionadas aos
fundos. Contou, no entanto, que
os executivos do Citibank lhe disseram que o presidente da instituição financeira americana no
Brasil, Gustavo Marin, esteve com
o ministro para tratar do assunto.
Até abril, o Opportunity tinha
acordo com o Citibank e os três
grandes fundos de pensão (Previ,
Petros e Funcef) que garantiam a
Dantas o controle da Brasil Telecom. Os fundos e a instituição
americana conseguiram na Justiça do Brasil e dos EUA destituir o
Opportunity do comando da tele.
O real interesse dos fundos em
assumir o comando da Brasil Telecom seria repassar o controle da
empresa para outra companhia.
"Primeiro a Telemar, depois a
Telecom Italia", disse Dantas. Segundo ele, várias ofertas teriam sido feitas para a compra da participação dos fundos na Brasil Telecom, "pelo preço justo", mas as
fundações não teriam aceito. De
acordo com ele, para que a Telemar pudesse comprar a Brasil Telecom, a legislação teria de ser alterada, pois as empresas são concorrentes. Dantas disse ter ouvido
falar que o presidente Lula ficara
"chateado" ao saber dessas negociações. Assim, o presidente teria
pedido ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, para esclarecer ao mercado que a legislação
não seria modificada.
O banqueiro negou também
que tenha sido "achacado" pelo
PT ou que tenha doado dinheiro
para o partido. Contou que na
campanha de 2002 o petista Ivan
Guimarães (ex-presidente do
Banco Popular do Brasil) deixou
com seu sócio Carlos Rodemburg
um "kit do PT", que seria para
contribuir para o partido. "Como
não entendemos o que era, devolvemos o "kit'", afirmou.
Segundo ele, houve rumores de
que o episódio gerou uma "má
vontade" do governo com ele. Por
isso, Rodemburg procurou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares
para esclarecer o assunto.
Nos últimos cinco anos, segundo levantamento da CPI dos Correios, as empresas de telecomunicações controladas pelo Opportunity (Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular) depositaram cerca de R$ 150 milhões nas
agências do publicitário mineiro
Marcos Valério Fernandes de
Souza. Dantas afirmou que suas
empresas têm como comprovar
todos os gastos com publicidade.
Dantas negou que Valério tenha
representado os interesses do Opportunity em Portugal para a venda da Telemig para a Portugal Telecom. Admitiu que o Opportunity havia tentado vender a tele
celular para a empresa, em meados de setembro do ano passado,
mas que o Citibank não havia
aceito o negócio. Assim, quando
Valério foi a Portugal, em janeiro
deste ano, as negociações já haviam sido encerradas.
Ele tentou eximir Opportunity e
Citibank da responsabilidade pela
contratação da Kroll, empresa
que espionou integrantes do governo, como o ex-ministro Luiz
Gushiken.
De acordo com Dantas, o objetivo era investigar se o dinheiro que
a empresa teria pago a mais para
adquirir a CRT teria sido destinado a alguma das partes que teria
pressionado a Brasil Telecom a fechar o negócio.
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