São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O BANQUEIRO

Controlador do Opportunity nega envolvimento com caixa 2 do PT e diz que governo se envolveu na disputa pelo controle da Brasil Telecom

Governo interferia em fundos, diz Dantas

LEONARDO SOUZA
FERNANDA KRAKOVICS
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O banqueiro Daniel Dantas afirmou ontem, em audiência conjunta das CPIs dos Correios e do "Mensalão", que o governo "interferia constantemente" nos assuntos dos fundos de pensão, mais especificamente na disputa pelo comando da Brasil Telecom, até o início deste ano controlada pelo Opportunity. Negou também que tivesse contribuído para o esquema de caixa dois do PT.
Dantas afirmou que a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2000, também pressionou a Brasil Telecom a adquirir a CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações), com apoio do então ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga (PSDB-MG).
Dantas revelou ainda ter sido informado por executivos da Brasil Telecom que a empresa pagou almoços e jantares em que esteve presente o filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Fábio, durante uma viagem que realizou ao Japão em 2003.
O banqueiro admitiu que a Brasil Telecom chegou a negociar a compra da Gamecorp, empresa que tem Fábio Lula entre seus sócios, mas a transação não foi adiante porque a telefônica considerou o preço muito alto. A Gamecorp teve parte de suas ações comprada depois pela Telemar por cerca de R$ 5 milhões.
Após dez horas de depoimento, Dantas passou mal por volta das 21h15, alegando pressão baixa. Cinco minutos depois, voltou à audiência. Às 22h10, disse que não tinha mais condições de continuar, e a sessão foi encerrada.
Dantas contou que teve duas reuniões, em maio de 2003, com o então ministro José Dirceu (Casa Civil) para tratar dos fundos de pensão, conforme a Folha publicou no início deste mês. "Em duas reuniões que tive com o ministro José Dirceu, chamei a atenção para interferências indevidas favorecendo nossos adversários."
A interferência do governo não poderia ocorrer já que os fundos, apesar de patrocinados por estatais, são entidades privadas pois pertencem aos associados, ou seja, pensionistas, aposentados e trabalhadores da ativa.
O primeiro encontro foi marcado pela Casa Civil sem que ele tivesse pedido. Na ocasião, Dirceu teria lhe dito que era preciso resolver a questão com o então presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb. Após a conversa com Casseb, Dantas diz que passou a "ter a sensação de que as coisas começaram a ficar mais difíceis" para a Brasil Telecom. Dantas disse que não tinha como afirmar se o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) também participava das discussões relacionadas aos fundos. Contou, no entanto, que os executivos do Citibank lhe disseram que o presidente da instituição financeira americana no Brasil, Gustavo Marin, esteve com o ministro para tratar do assunto.
Até abril, o Opportunity tinha acordo com o Citibank e os três grandes fundos de pensão (Previ, Petros e Funcef) que garantiam a Dantas o controle da Brasil Telecom. Os fundos e a instituição americana conseguiram na Justiça do Brasil e dos EUA destituir o Opportunity do comando da tele.
O real interesse dos fundos em assumir o comando da Brasil Telecom seria repassar o controle da empresa para outra companhia.
"Primeiro a Telemar, depois a Telecom Italia", disse Dantas. Segundo ele, várias ofertas teriam sido feitas para a compra da participação dos fundos na Brasil Telecom, "pelo preço justo", mas as fundações não teriam aceito. De acordo com ele, para que a Telemar pudesse comprar a Brasil Telecom, a legislação teria de ser alterada, pois as empresas são concorrentes. Dantas disse ter ouvido falar que o presidente Lula ficara "chateado" ao saber dessas negociações. Assim, o presidente teria pedido ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, para esclarecer ao mercado que a legislação não seria modificada.
O banqueiro negou também que tenha sido "achacado" pelo PT ou que tenha doado dinheiro para o partido. Contou que na campanha de 2002 o petista Ivan Guimarães (ex-presidente do Banco Popular do Brasil) deixou com seu sócio Carlos Rodemburg um "kit do PT", que seria para contribuir para o partido. "Como não entendemos o que era, devolvemos o "kit'", afirmou.
Segundo ele, houve rumores de que o episódio gerou uma "má vontade" do governo com ele. Por isso, Rodemburg procurou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para esclarecer o assunto.
Nos últimos cinco anos, segundo levantamento da CPI dos Correios, as empresas de telecomunicações controladas pelo Opportunity (Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular) depositaram cerca de R$ 150 milhões nas agências do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza. Dantas afirmou que suas empresas têm como comprovar todos os gastos com publicidade.
Dantas negou que Valério tenha representado os interesses do Opportunity em Portugal para a venda da Telemig para a Portugal Telecom. Admitiu que o Opportunity havia tentado vender a tele celular para a empresa, em meados de setembro do ano passado, mas que o Citibank não havia aceito o negócio. Assim, quando Valério foi a Portugal, em janeiro deste ano, as negociações já haviam sido encerradas.
Ele tentou eximir Opportunity e Citibank da responsabilidade pela contratação da Kroll, empresa que espionou integrantes do governo, como o ex-ministro Luiz Gushiken.
De acordo com Dantas, o objetivo era investigar se o dinheiro que a empresa teria pago a mais para adquirir a CRT teria sido destinado a alguma das partes que teria pressionado a Brasil Telecom a fechar o negócio.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: PT e oposição partem para briga na sessão conjunta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.