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FOLCLORE POLÍTICO
Comprando mala no Cairo
PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO
No imenso salão do hotel em
que se realizava a reunião
da Internacional Socialista, Brizola convidou seus companheiros
de viagem para um passeio pelo
centro do Cairo. Aproveitaria para comprar uma valise.
Com um taxista que mal arranhava o inglês, rumaram para a
região dos bazares. Ao desembarcar, os passageiros foram literalmente assaltados por uma dúzia
de meninas maltrapilhas entre os
10 e 12 anos. Falavam, choramingavam, agarravam os passageiros
pelo paletó, pedindo esmolas.
Ainda procurando um meio de
sair do sufoco, Brizola e seus
acompanhantes viram, estupefatos, surgir um velho que, munido
de um chicote, afastou as meninas a chicotadas.
Os brasileiros ficaram catatônicos. Embora todos notassem que
o velho, tão esquálido e maltrapilho quanto as meninas (que, na
verdade pareciam ser suas netas),
mais agitava o chicote do que as
atingia, a cena era inaceitável para respeitáveis homens públicos,
contrários à violência e dedicados
os pobres. Mas, fazer o quê? Discutir com o velho? Criar um caso?
Chamar a polícia? Em que idioma?
Cabisbaixos, e já sem nenhum
prazer no passeio, foram seguindo lenta e caladamente em direção aos bazares. Nisto, ouve-se
um grito: "Governador Brizola!".
Todos se voltam para o grupo alegre que chamava o governador.
Eram turistas cariocas. "Governador, podemos tirar uma foto
com o sr.?" Brizola iluminou-se.
"Pois, claro!"
Fidalgo e totalmente recomposto da decepção de segundos atrás,
passou a apresentar seus companheiros e a formar o grupo para a
fotografia. Reencontrara seu
mundo, sua gente, seu idioma,
seu reinado...
PLÍNIO ARRUDA SAMPAIO, 72,
ex-deputado federal pelo PT e membro
da Assembléia Constituinte de 1988,
escreve às terças-feiras nesta seção
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