São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Em encontro que reuniu cerca de 1.700 pessoas no Canecão, no Rio, petista faz discurso de presidente eleito

Lula diz a artistas que não esperem 'milagre'

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O petista Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso de presidente eleito ontem, durante encontro com cerca de 1.700 artistas no Rio. "Não esperem milagres de mim. Esperem apenas que eu seja o indutor, o facilitador para que as coisas possam fluir e vocês possam participar de forma ativa. Um novo Brasil vai nascer a partir de 1º de janeiro", declarou.
Do palco do Canecão, em Botafogo, zona sul do Rio, cercado de câmeras do publicitário Duda Mendonça para que as imagens possam ser usados no horário eleitoral gratuito, Lula discursou como se eleito, apesar de em diversos momentos se esforçasse para lembrar que ainda precisa ganhar a eleição.
"Talvez em um outro momento a gente tivesse dúvidas se é possível ou não fazer tudo aquilo que estamos nos propondo. Hoje não tenho dúvidas de que poderemos fazer. Não será num passe de mágica, num dia, num mês ou num ano", afirmou o petista, que está 29 pontos à frente de José Serra (PSDB), segundo o Datafolha divulgado anteontem.
Lula fez um apelo para que os artistas se mantivessem mobilizados em seu eventual governo. "O PT sozinho não pode fazer diferente do que as elites fizeram até aqui. O presidente sozinho não pode. O que pode fazer a diferença neste país é cada um de vocês, a partir de 1º de janeiro, colocar na cabeça que a tarefa de governar este país não é da responsabilidade de um único homem. É de milhões de pessoas."
O tom do discurso foi de tentar dividir a responsabilidade do governo com segmentos organizados da sociedade. "A cada dia que vai chegando mais perto a eleição aumenta o peso do fardo que está nas nossas costas. Mas nunca acreditei tanto que esse fardo será pesado se o governante se trancar numa redoma de vidro e achar que tem de governar sozinho."
Lula afirmou ter chorado três vezes durante os depoimentos do cantor Gilberto Gil, do teólogo Leonardo Boff, do escritor Fernando Morais e do ex-secretário da Cultura do Distrito Federal Hamilton Pereira, que o antecederam na reunião de cerca de três horas de duração.
Em seu discurso, Gil havia pedido aos artistas que "confiassem" em Lula, mas que não cobrassem nada dele. "Não sei trabalhar se não for cobrado. Obviamente não precisa cobrar me xingando. Pode cobrar: Ô, Lulinha paz e amor, dá para fazer o que você prometeu?"
O candidato do PT afirmou que, se eleito, pretende se "subordinar a outra lógica": "Cada vez que tomar uma decisão não é imaginando: o que pensa o Fundo Monetário Internacional? O que pensa o Banco Central americano? Tudo isso tem uma lógica técnica, que você deve pensar, mas a sua subordinação tem de ser a outra lógica: estou governando para acabar com esse miserê".
No palco do Canecão, Lula fez piada sobre o fato de nunca ter entrado antes na tradicional casa de shows da cidade. "Também nunca pisei nas areias de Copacabana ou Ipanema. Só venho aqui para comício, reunião ou confusão", disse, provocando risos.
Antes do encontro com os artistas, Lula e o presidente nacional do PT, José Dirceu, reuniram-se com Leonel Brizola, que formalizou o apoio do PDT ao petista.
Após a reunião, Dirceu classificou de "direitista" e "moralista" a afirmação de Serra de que um eventual governo de Lula pode se transformar no maior "estelionato eleitoral desde Collor. "É um discurso que tem um pouco de desespero. Cheira ao pior da UDN que já houve no país", disse.


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