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SEGUNDO TURNO
Em encontro que reuniu cerca de 1.700 pessoas no Canecão, no Rio, petista faz discurso de presidente eleito
Lula diz a artistas que não esperem 'milagre'
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O petista Luiz Inácio Lula da Silva fez discurso de presidente eleito ontem, durante encontro com
cerca de 1.700 artistas no Rio.
"Não esperem milagres de mim.
Esperem apenas que eu seja o indutor, o facilitador para que as
coisas possam fluir e vocês possam participar de forma ativa.
Um novo Brasil vai nascer a partir
de 1º de janeiro", declarou.
Do palco do Canecão, em Botafogo, zona sul do Rio, cercado de
câmeras do publicitário Duda
Mendonça para que as imagens
possam ser usados no horário
eleitoral gratuito, Lula discursou
como se eleito, apesar de em diversos momentos se esforçasse
para lembrar que ainda precisa
ganhar a eleição.
"Talvez em um outro momento
a gente tivesse dúvidas se é possível ou não fazer tudo aquilo que
estamos nos propondo. Hoje não
tenho dúvidas de que poderemos
fazer. Não será num passe de mágica, num dia, num mês ou num
ano", afirmou o petista, que está
29 pontos à frente de José Serra
(PSDB), segundo o Datafolha divulgado anteontem.
Lula fez um apelo para que os
artistas se mantivessem mobilizados em seu eventual governo. "O
PT sozinho não pode fazer diferente do que as elites fizeram até
aqui. O presidente sozinho não
pode. O que pode fazer a diferença neste país é cada um de vocês, a
partir de 1º de janeiro, colocar na
cabeça que a tarefa de governar
este país não é da responsabilidade de um único homem. É de milhões de pessoas."
O tom do discurso foi de tentar
dividir a responsabilidade do governo com segmentos organizados da sociedade. "A cada dia que
vai chegando mais perto a eleição
aumenta o peso do fardo que está
nas nossas costas. Mas nunca
acreditei tanto que esse fardo será
pesado se o governante se trancar
numa redoma de vidro e achar
que tem de governar sozinho."
Lula afirmou ter chorado três
vezes durante os depoimentos do
cantor Gilberto Gil, do teólogo
Leonardo Boff, do escritor Fernando Morais e do ex-secretário
da Cultura do Distrito Federal
Hamilton Pereira, que o antecederam na reunião de cerca de três
horas de duração.
Em seu discurso, Gil havia pedido aos artistas que "confiassem"
em Lula, mas que não cobrassem
nada dele. "Não sei trabalhar se
não for cobrado. Obviamente não
precisa cobrar me xingando. Pode
cobrar: Ô, Lulinha paz e amor, dá
para fazer o que você prometeu?"
O candidato do PT afirmou que,
se eleito, pretende se "subordinar
a outra lógica": "Cada vez que tomar uma decisão não é imaginando: o que pensa o Fundo Monetário Internacional? O que pensa o
Banco Central americano? Tudo
isso tem uma lógica técnica, que
você deve pensar, mas a sua subordinação tem de ser a outra lógica: estou governando para acabar com esse miserê".
No palco do Canecão, Lula fez
piada sobre o fato de nunca ter
entrado antes na tradicional casa
de shows da cidade. "Também
nunca pisei nas areias de Copacabana ou Ipanema. Só venho aqui
para comício, reunião ou confusão", disse, provocando risos.
Antes do encontro com os artistas, Lula e o presidente nacional
do PT, José Dirceu, reuniram-se
com Leonel Brizola, que formalizou o apoio do PDT ao petista.
Após a reunião, Dirceu classificou de "direitista" e "moralista" a
afirmação de Serra de que um
eventual governo de Lula pode se
transformar no maior "estelionato eleitoral desde Collor. "É um
discurso que tem um pouco de
desespero. Cheira ao pior da
UDN que já houve no país", disse.
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