|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CELSO PINTO
Quanto o déficit pode cair
Supondo que o Brasil consiga, de fato, gerar o superávit
primário de 2,6% do PIB em 99
prometido para o FMI, que impacto ele teria sobre o déficit
público?
Como o déficit é hoje, quase
todo, composto por pagamentos de juros, a resposta, obviamente, depende da projeção
que se faça para as taxas de juros. Quanto maior e mais rápida for a queda dos juros, menor será o déficit.
De todo modo, mesmo supondo uma queda gradual dos
juros, o impacto positivo sobre
o déficit pode ser significativo.
Uma projeção feita pelo banco
CSFB Garantia dá uma idéia
de grandeza.
A projeção foi feita supondo
um superávit primário de 2,5%
em 99, portanto, muito próximo à meta oficial. Calculando
os juros médios de 98 em
26,9%, os gastos com juros chegariam a 7,2% do PIB. Somando um déficit primário de 0,3%
do PIB, o déficit total, nominal, chegaria a 7,5%.
Para 99, o banco calcula um
juro médio de 21,5%, o que reduziria os gastos com juros para 6% do PIB. Considerando
um superávit primário de 2,5%
do PIB, o déficit total cairia
para 3,5% do PIB, a metade
deste ano.
Para chegar à taxa média de
juros de 26,9% este ano, o banco supunha que os juros começariam a cair dos 41% atuais
já em outubro, fechando o ano
em torno de 34%. Esta hipótese
já se revelou otimista demais.
No caso dos juros de 99, a média do primeiro trimestre seria
de 26%, caindo para 20% no
último trimestre, o que é uma
hipótese mais conservadora.
O fato é que, para cada 1% a
mais na taxa média de juro, o
banco estima um gasto com juro adicional de 0,23% do PIB.
Mesmo que os juros consumam
perto de 8% do PIB este ano,
como calculam outros bancos,
ainda assim o exercício mostra
que a queda do déficit nominal
poderia ser significativa com
um superávit primário de 2,6%
do PIB.
Isso, claro, se o ajuste restaurar a confiança do mercado
necessária para a redução dos
juros. Se os juros não caírem, o
déficit se tornará, rapidamente, insustentável. Outra variável importante é o crescimento
do PIB. O banco calcula uma
queda de 2,2% do PIB em 99,
mais pessimista do que a projeção de crescimento zero do
governo.
Outra conclusão interessante
do banco é que as metas de um
superávit primário de 2,8% do
PIB no ano 2000 e 3% em 2001
são ainda mais duras do que
parecem. Neste ano, a receita
será ajudada por receitas de
concessão (com a venda da Telebrás) equivalentes a 1,2% do
PIB.
Para 99, as concessões ainda
representarão 1% do PIB mas,
em 2000 e 2001, essas receitas
desaparecerão. Supõe-se que o
governo conte, como compensação, com o efeito positivo das
reformas estruturais -o que
mostra como é vital sua rápida
aprovação.
Uma terceira conclusão interessante: se as metas fiscais forem cumpridas, dá para estabilizar a relação da dívida interna líquida sobre o PIB, em
cerca de 44%, o que seria razoável. Tudo isso supõe, contudo, que todas as metas de ajuste fiscal, que são muito duras,
sejam cumpridas, o que não é
uma tarefa trivial.
O apoio alemão
Até onde vai o apoio da Alemanha ao pacote externo para o
Brasil? Fontes diplomáticas alemãs garantem que o Brasil pode
contar com o apoio da Alemanha, dentro do FMI, para que se
chegue rapidamente a um acordo.
Ao mesmo tempo, contudo, os
alemães insistem que "é muito
importante para nós que haja
uma participação condizente do
setor privado na solução dos problemas do Brasil". Tradução: a
Alemanha quer que os bancos,
que especularam e ganharam dinheiro com o Brasil, também façam parte do pacote.
Os alemães ficaram especialmente irritados com a forma como os Estados Unidos empurraram a conta de apoio ao México,
em 94, como um fato consumado.
Um colapso brasileiro afetaria,
principalmente, os bancos americanos. Daí porque os alemães
acham que os bancos e os próprios Estados Unidos devem ter
um papel proeminente no resgate
brasileiro.
Também está claro, para os
alemães, que o canal de ajuda
básico deve ser o FMI. "Consideramos importante que o financiamento de um pacote de crédito para o Brasil venha dos cofres
do FMI, porque desta maneira é
mais fácil acertá-lo e estará mais
rapidamente à disposição", dizem as fontes diplomáticas. Não
quer dizer que a Alemanha não
entrará num eventual pacote
adicional e contingente do G-7,
mas deixa claro onde está a prioridade.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|