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GOVERNO
"Não tem cabimento ser monocromático, nós não somos assim", diz presidente
FHC elogia bolsas a negros e critica diplomacia do país
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao elogiar a oferta de bolsas para alunos negros tentarem uma
vaga no Instituto Rio Branco, escola da carreira diplomática, o
presidente Fernando Henrique
Cardoso criticou o Itamaraty por
ser "monocromático".
"Quando fui chanceler, era notável a falta de diversidade. Era
muito pequeno o colorido no Itamaraty. Não fica bem, não fica bonito. É melhor ter um leque muito
mais variado. Não tem cabimento
ser monocromático, nós não somos assim", disse, em cerimônia
de comemoração da Semana da
Consciência Negra.
Para a bolsista Delma de Andrade, 36, os R$ 1.000 mensais permitiram que ela parasse de trabalhar
para estudar. "Se fossem cotas,
poderia haver preconceito."
O Itamaraty não soube informar se o presidente FHC promoveu algum diplomata negro para
o cargo de embaixador.
Hoje, o governo não tem dados
sobre as raças dos diplomatas.
Não há obrigatoriedade de declaração de cor em concursos públicos, inclusive para o Rio Branco.
O presidente também afirmou
que a distribuição da pobreza não
mudou muito desde a abolição da
escravidão, em 1888. "Os mais pobres no Brasil estão provavelmente no interior do Nordeste, em famílias chefiadas por mulheres
que são negras e que têm filhos."
Em seu discurso, o presidente
afirmou que já pesquisou a fundo
a discriminação racial ("Negros
em Florianópolis - Relações Sociais e Econômicas", 2000, editora
Insular) e citou o caso de uma favela em Santa Catarina onde os
negros ocupavam um barranco.
O governo federal está organizando o primeiro Censo Federal
Racial, no qual a declaração de raça será obrigatória para todos os
550 mil servidores. O resultado
deve ficar pronto em dezembro.
Paz e amor
À noite, FHC participou do lançamento em português do livro
"Fernando Henrique Cardoso e a
Reconstrução da Democracia no
Brasil", escrito por Ted Goertzel.
O presidente disse querer "paz e
amor" após deixar o governo.
"Vou pedir uma enorme compreensão da imprensa, que eu sei
que terei. [Sei] que não vão, depois que eu deixar o governo, estar o tempo todo perguntando: "O
que você acha da inflação, o que
você acha do governo?". Eu não
vou achar nada. Como dizia o Lula, agora eu quero paz e amor."
"Não quero dizer [que será um
momento] de alívio porque não
estou me sentindo sob pressão
maior. Eu gosto de governar, de
trabalhar. Mas eu acho que é bom
relaxar um pouco", disse.
Questionado sobre a tramitação
de um projeto de lei no Congresso
que transforma ex-presidentes
em senadores vitalícios, o presidente reagiu: "Nunca fui favorável a isso", disse, negando informações de que gostaria da mudança para obter foro privilegiado
depois de sair do governo.
(LEILA SUWWAN)
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