São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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GOVERNO

"Não tem cabimento ser monocromático, nós não somos assim", diz presidente

FHC elogia bolsas a negros e critica diplomacia do país

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao elogiar a oferta de bolsas para alunos negros tentarem uma vaga no Instituto Rio Branco, escola da carreira diplomática, o presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o Itamaraty por ser "monocromático".
"Quando fui chanceler, era notável a falta de diversidade. Era muito pequeno o colorido no Itamaraty. Não fica bem, não fica bonito. É melhor ter um leque muito mais variado. Não tem cabimento ser monocromático, nós não somos assim", disse, em cerimônia de comemoração da Semana da Consciência Negra.
Para a bolsista Delma de Andrade, 36, os R$ 1.000 mensais permitiram que ela parasse de trabalhar para estudar. "Se fossem cotas, poderia haver preconceito."
O Itamaraty não soube informar se o presidente FHC promoveu algum diplomata negro para o cargo de embaixador.
Hoje, o governo não tem dados sobre as raças dos diplomatas. Não há obrigatoriedade de declaração de cor em concursos públicos, inclusive para o Rio Branco.
O presidente também afirmou que a distribuição da pobreza não mudou muito desde a abolição da escravidão, em 1888. "Os mais pobres no Brasil estão provavelmente no interior do Nordeste, em famílias chefiadas por mulheres que são negras e que têm filhos."
Em seu discurso, o presidente afirmou que já pesquisou a fundo a discriminação racial ("Negros em Florianópolis - Relações Sociais e Econômicas", 2000, editora Insular) e citou o caso de uma favela em Santa Catarina onde os negros ocupavam um barranco.
O governo federal está organizando o primeiro Censo Federal Racial, no qual a declaração de raça será obrigatória para todos os 550 mil servidores. O resultado deve ficar pronto em dezembro.

Paz e amor
À noite, FHC participou do lançamento em português do livro "Fernando Henrique Cardoso e a Reconstrução da Democracia no Brasil", escrito por Ted Goertzel.
O presidente disse querer "paz e amor" após deixar o governo.
"Vou pedir uma enorme compreensão da imprensa, que eu sei que terei. [Sei] que não vão, depois que eu deixar o governo, estar o tempo todo perguntando: "O que você acha da inflação, o que você acha do governo?". Eu não vou achar nada. Como dizia o Lula, agora eu quero paz e amor."
"Não quero dizer [que será um momento] de alívio porque não estou me sentindo sob pressão maior. Eu gosto de governar, de trabalhar. Mas eu acho que é bom relaxar um pouco", disse.
Questionado sobre a tramitação de um projeto de lei no Congresso que transforma ex-presidentes em senadores vitalícios, o presidente reagiu: "Nunca fui favorável a isso", disse, negando informações de que gostaria da mudança para obter foro privilegiado depois de sair do governo.
(LEILA SUWWAN)


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