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SERRA PELADA
Mesmo com a presença do Exército e da polícia, Sebastião Curió proibiu que 4.000 garimpeiros tivessem acesso à área
PM condiciona ação à lei seca no garimpo
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A Secretaria Executiva da Segurança Pública do Pará implanta a
partir de hoje a lei seca e o controle de acesso no garimpo de Serra
Pelada, em Curionópolis (PA),
com o envio de 250 homens do
Comando de Missões Especiais
da Polícia Militar (PM).
Com a chegada da tropa da PM,
os 600 soldados do Exército, que
ocupam Serra Pelada desde terça-feira à noite, começaram a deixar
a área e a retirar 46 veículos, um
helicóptero e dois blindados.
A chegada da tropa da PM ao
garimpo estava prevista para o final da noite de ontem, com soldados da tropa de choque, canil, cavalaria e operações táticas.
A Polícia Federal também implantará um posto avançado dentro do garimpo.
Disputa
Três grupos rivais disputam o
poder em Serra Pelada e envolveram na briga cerca de 12 mil garimpeiros interessados em explorar o ouro em cem hectares, que
foram liberados em setembro
passado por meio de um decreto
do Congresso Nacional.
A tensão agravou-se no sábado,
com o assassinato do sindicalista
Antônio Clênio Cunha Lemos.
A Policia Civil pediu a prisão
preventiva de dois acusados do
crime ontem à tarde. Os nomes
dos suspeitos são mantidos em sigilo pela polícia.
Mesmo com a presença do
Exército e da Polícia Militar, o clima piorou ontem por causa de
um impasse provocado pelo prefeito de Curionópolis, Sebastião
Curió (PMDB).
Ele proibiu que os 4.000 garimpeiros, acampados há dez dias na
estrada que dá acesso à área, entrassem no povoado.
"Eles abandonaram Serra Pelada há anos e agora querem voltar.
Não vamos permitir badernas por
aqui", disse Curió.
Quando os 4.000 garimpeiros
chegavam em Serra Pelada, o grupo de Curió armou uma barreira e
proibiu a entrada.
Segundo o prefeito de Curionópolis, apenas 1.500 pessoas poderiam entrar desde que estivessem
identificadas.
O Exército teve que intervir na
negociação para evitar confronto.
Depois de duas horas, parte do
grupo decidiu permanecer acampado na estrada e cerca de 500 entraram no local.
Estado de sítio
O diretor do Sindicato dos Garimpeiros de Curionópolis, Raimundo Benigno, classificou como "estado de sítio" a situação em
Serra Pelada e acusou Curió de
descumprir o acordo firmado em
uma reunião na terça-feira com o
governador Almir Gabriel
(PSDB), em Belém.
"Na reunião ficou acertado que
ninguém poderia impedir o direito de ir e vir na serra, mas o Curió
descumpriu esse acordo e não
deixou que todos os garimpeiros
entrassem", disse Benigno. Curió
não se pronunciou.
Eleições
Durante essa reunião foi formada uma comissão com representantes da sociedade, que ficaram
responsáveis por identificar o número de garimpeiros associados
da Coomigasp (Cooperativa de
Mineração dos Garimpeiros de
Serra Pelada) e preparar a entidade para realização de eleições.
O presidente da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil), no Pará, e integrante da comissão,
Ophir Cavalcanti Júnior, criticou
a decisão de Curió restringir a entrada em Serra Pelada.
A Secretaria Executiva da Segurança informou que a tropa da
PM garantiria a partir de hoje o
direito de ir e vir no garimpo, mas
condicionou a entrada ao controle de acesso e à implantação da lei
seca, com a proibição da venda de
bebidas alcóolicas.
Benigno criticou a posição do
Estado. "É preciso resgatar a democracia em Serra Pelada. Existem garimpeiros que perderam
todos os documentos. Como eles
farão?".
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