São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SERRA PELADA

Mesmo com a presença do Exército e da polícia, Sebastião Curió proibiu que 4.000 garimpeiros tivessem acesso à área

PM condiciona ação à lei seca no garimpo

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A Secretaria Executiva da Segurança Pública do Pará implanta a partir de hoje a lei seca e o controle de acesso no garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis (PA), com o envio de 250 homens do Comando de Missões Especiais da Polícia Militar (PM).
Com a chegada da tropa da PM, os 600 soldados do Exército, que ocupam Serra Pelada desde terça-feira à noite, começaram a deixar a área e a retirar 46 veículos, um helicóptero e dois blindados.
A chegada da tropa da PM ao garimpo estava prevista para o final da noite de ontem, com soldados da tropa de choque, canil, cavalaria e operações táticas.
A Polícia Federal também implantará um posto avançado dentro do garimpo.

Disputa
Três grupos rivais disputam o poder em Serra Pelada e envolveram na briga cerca de 12 mil garimpeiros interessados em explorar o ouro em cem hectares, que foram liberados em setembro passado por meio de um decreto do Congresso Nacional.
A tensão agravou-se no sábado, com o assassinato do sindicalista Antônio Clênio Cunha Lemos.
A Policia Civil pediu a prisão preventiva de dois acusados do crime ontem à tarde. Os nomes dos suspeitos são mantidos em sigilo pela polícia.
Mesmo com a presença do Exército e da Polícia Militar, o clima piorou ontem por causa de um impasse provocado pelo prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió (PMDB).
Ele proibiu que os 4.000 garimpeiros, acampados há dez dias na estrada que dá acesso à área, entrassem no povoado.
"Eles abandonaram Serra Pelada há anos e agora querem voltar. Não vamos permitir badernas por aqui", disse Curió.
Quando os 4.000 garimpeiros chegavam em Serra Pelada, o grupo de Curió armou uma barreira e proibiu a entrada.
Segundo o prefeito de Curionópolis, apenas 1.500 pessoas poderiam entrar desde que estivessem identificadas.
O Exército teve que intervir na negociação para evitar confronto. Depois de duas horas, parte do grupo decidiu permanecer acampado na estrada e cerca de 500 entraram no local.

Estado de sítio
O diretor do Sindicato dos Garimpeiros de Curionópolis, Raimundo Benigno, classificou como "estado de sítio" a situação em Serra Pelada e acusou Curió de descumprir o acordo firmado em uma reunião na terça-feira com o governador Almir Gabriel (PSDB), em Belém.
"Na reunião ficou acertado que ninguém poderia impedir o direito de ir e vir na serra, mas o Curió descumpriu esse acordo e não deixou que todos os garimpeiros entrassem", disse Benigno. Curió não se pronunciou.

Eleições
Durante essa reunião foi formada uma comissão com representantes da sociedade, que ficaram responsáveis por identificar o número de garimpeiros associados da Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada) e preparar a entidade para realização de eleições.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no Pará, e integrante da comissão, Ophir Cavalcanti Júnior, criticou a decisão de Curió restringir a entrada em Serra Pelada.
A Secretaria Executiva da Segurança informou que a tropa da PM garantiria a partir de hoje o direito de ir e vir no garimpo, mas condicionou a entrada ao controle de acesso e à implantação da lei seca, com a proibição da venda de bebidas alcóolicas.
Benigno criticou a posição do Estado. "É preciso resgatar a democracia em Serra Pelada. Existem garimpeiros que perderam todos os documentos. Como eles farão?".


Texto Anterior: Governo: FHC elogia bolsas a negros e critica diplomacia do país
Próximo Texto: Imprensa: "Controle Público", da Folha, recebe dupla premiação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.