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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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QUESTÃO AGRÁRIA

Líder do MST diz ter gostado do fato de Lula ter "puxado a orelha" do ministro da Fazenda, mas é contestado

Stedile elogia presidente e provoca Palocci

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Mesmo ausente do evento que reuniu a cúpula do governo e cerca de 4.000 sem-terra, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) se tornou o centro de um debate iniciado pelo coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o economista João Pedro Stedile, rebatido em seguida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Anteontem, Stedile já havia atribuído a "manutenção do neoliberalismo" na atual administração à orientação adotada pelo atual ministro da Fazenda.
Ontem, durante seu discurso, Stedile disse ao presidente Lula: "Nós batemos palma quando você puxou a orelha do Palocci e disse que o FMI [Fundo Monetário Internacional] não manda mais no Brasil. Quem manda aqui somos nós", declarou.
Minutos depois, o coordenador nacional do MST aproveitou para cutucar novamente o ministro da Fazenda: "Estamos confiantes que a reforma agrária vai deslanchar, viu Palocci?"

Defesa
Lula fez questão de defender o ministro da Fazenda das provocações de Stedile, logo no início de seu discurso: "O Palocci não tem culpa. Graças a Deus a gente tem o Palocci no Ministério da Fazenda. Porque a decisão nunca é do Palocci, a decisão é do governo."
Stedile, anteontem, já havia criticado, além de Palocci, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, apontado por ele como um defensor "do modelo neoliberal" no governo Lula.
"São eles os que querem como modelo a agricultura que se pratica em Ribeirão Preto [município de São Paulo], onde o Palocci foi prefeito e o ministro da Agricultura tem fazenda. Ribeirão Preto é tido como símbolo do agronegócio, mas é também o símbolo da pobreza e da desigualdade", declarou o líder do MST.
João Paulo Rodrigues, outro integrante da coordenação nacional do MST, também pediu "sensibilidade" ao ministro da Fazenda na liberação de recursos para promover a reforma agrária.

Soldados do MST
João Pedro Stedile, num discurso em que evitou críticas ao governo, afirmou que esta "é a primeira vez na história do país em que o povo pode dizer: companheiro presidente".
O líder dos sem-terra ainda ofereceu seus "soldados" para a luta do governo contra os ruralistas e os banqueiros. "E para as batalhas que virão contra os latifundiários, a bancada ruralista e os banqueiros, não tem problema. Nós seremos soldados nessa batalha para defender o governo."
Durante a fala do presidente nacional da CPT (Comissão Pastoral da Terra), dom Tomás Balduíno, o presidente Lula passou por uma situação no mínimo inusitada.
O bispo da Igreja Católica pediu que todas as pessoas presentes, inclusive as autoridades que estavam no palco, entre as quais o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), erguessem os braços direitos em direção ao presidente Lula.
"Pedimos para Deus ajudar o Lula a acabar com as maldições dos transgênicos, do latifúndio, do agronegócio e do trabalho escravo", disse. Os dois ministros ensaiaram o gesto, mas depois desistiram.


Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal de Brasília


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