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QUESTÃO AGRÁRIA
Líder do MST diz ter gostado do fato de Lula ter "puxado a orelha" do ministro da Fazenda, mas é contestado
Stedile elogia presidente e provoca Palocci
EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
Mesmo ausente do evento que
reuniu a cúpula do governo e cerca de 4.000 sem-terra, o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
se tornou o centro de um debate
iniciado pelo coordenador nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o
economista João Pedro Stedile,
rebatido em seguida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Anteontem, Stedile já havia atribuído a "manutenção do neoliberalismo" na atual administração à
orientação adotada pelo atual ministro da Fazenda.
Ontem, durante seu discurso,
Stedile disse ao presidente Lula:
"Nós batemos palma quando você puxou a orelha do Palocci e disse que o FMI [Fundo Monetário
Internacional] não manda mais
no Brasil. Quem manda aqui somos nós", declarou.
Minutos depois, o coordenador
nacional do MST aproveitou para
cutucar novamente o ministro da
Fazenda: "Estamos confiantes
que a reforma agrária vai deslanchar, viu Palocci?"
Defesa
Lula fez questão de defender o
ministro da Fazenda das provocações de Stedile, logo no início de
seu discurso: "O Palocci não tem
culpa. Graças a Deus a gente tem o
Palocci no Ministério da Fazenda.
Porque a decisão nunca é do Palocci, a decisão é do governo."
Stedile, anteontem, já havia criticado, além de Palocci, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, apontado por ele como
um defensor "do modelo neoliberal" no governo Lula.
"São eles os que querem como
modelo a agricultura que se pratica em Ribeirão Preto [município
de São Paulo], onde o Palocci foi
prefeito e o ministro da Agricultura tem fazenda. Ribeirão Preto é
tido como símbolo do agronegócio, mas é também o símbolo da
pobreza e da desigualdade", declarou o líder do MST.
João Paulo Rodrigues, outro integrante da coordenação nacional
do MST, também pediu "sensibilidade" ao ministro da Fazenda na
liberação de recursos para promover a reforma agrária.
Soldados do MST
João Pedro Stedile, num discurso em que evitou críticas ao governo, afirmou que esta "é a primeira vez na história do país em
que o povo pode dizer: companheiro presidente".
O líder dos sem-terra ainda ofereceu seus "soldados" para a luta
do governo contra os ruralistas e
os banqueiros. "E para as batalhas
que virão contra os latifundiários,
a bancada ruralista e os banqueiros, não tem problema. Nós seremos soldados nessa batalha para
defender o governo."
Durante a fala do presidente nacional da CPT (Comissão Pastoral
da Terra), dom Tomás Balduíno,
o presidente Lula passou por uma
situação no mínimo inusitada.
O bispo da Igreja Católica pediu
que todas as pessoas presentes,
inclusive as autoridades que estavam no palco, entre as quais o ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), erguessem os
braços direitos em direção ao presidente Lula.
"Pedimos para Deus ajudar o
Lula a acabar com as maldições
dos transgênicos, do latifúndio,
do agronegócio e do trabalho escravo", disse. Os dois ministros
ensaiaram o gesto, mas depois desistiram.
Colaborou TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal de Brasília
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